Retirar durante pelo menos uma hora por dia a sedação do paciente que está internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) reduz os casos de infecção e pneumonia. Consequentemente, a técnica - chamada de despertar diário - é capaz de diminuir tanto o tempo de internação do doente quanto o risco de morte.
Médicos americanos foram os primeiros a observar os benefícios: os pacientes ficavam menos agitados; a dose de sedativo a ser aplicada novamente era menor; e havia menos registros de casos de confusão mental (tecnicamente chamados de delirium) associados ao uso prolongado de sedativos, em especial os benzodiazepínicos.
"O despertar diário é uma intervenção sem custo adicional que só traz benefícios", diz Guilherme Schettino, gerente de pacientes críticos do Hospital Sírio-Libanês. A técnica é usada como rotina em hospitais como Beneficência Portuguesa, Albert Einstein, Sírio, Santa Casa e Copa d'Or. Mas, ainda assim, é pouco difundida, segundo o médico intensivista Ederlon Rezende, presidente da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib).
"O despertar diário é uma recomendação da Amib e muitos centros já fazem. Mas ainda estamos caminhando para mudar a mentalidade geral sobre sedação em UTIs e para que isso se torne, de fato, rotina", diz.
Um estudo coordenado por Jorge Salluh, professor de pós-graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), comprovou o fato. No trabalho, 1.015 médicos intensivistas responderam sobre seu hábito em relação à sedação em UTI. Apenas 1 em cada 4 realizava o despertar diário dos pacientes.
Para Salluh, a técnica é subutilizada por falta de equipe. "A retirada da sedação exige uma capacidade extra do hospital para monitorar adequadamente o paciente, que pode acordar agitado, confuso. O despertar é absolutamente seguro, desde que a vigilância seja adequada."
"O despertar tem um impacto direto na redução da mortalidade. Usar essa técnica como rotina vai ao encontro das evidências atuais de melhor atendimento", afirma Rezende.
Confusão mental. Os episódios de delirium afetam pelo menos um terço dos pacientes internados em UTIs. É o que mostra um estudo coordenado pelo Brasil, com 975 pacientes de 104 unidades de terapia intensiva de 11 países da América Latina.
O delirium é uma alteração neurológica aguda caracterizada por momentos em que o paciente não articula suas ideias: tem quadros de hiperatividade (quer pular da cama, fica ansioso), alucinações (enxerga animais) e confusão mental (tem dificuldade de manter um relato num cronograma factível).
Segundo Salluh, responsável pelo estudo, o paciente que sofre delirium fica mais tempo na UTI e tem três vezes mais risco de morte. O uso de sedativos é um dos fatores de risco.
Os dados foram comprovados em um outro estudo feito com 250 pacientes da UTI do Sírio-Libanês. "Quanto mais grave o paciente, maior a chance de desenvolver delirium. E a presença desta condição esteve associada com maior tempo de internação na UTI", diz
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