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terça-feira, 20 de março de 2012

Novo exame diagnostica crianças com dificuldade de fala

Ondas elétricas cerebrais

Um novo exame permite que crianças com problemas na percepção e processamento de informações auditivas possam ser precocemente diagnosticadas, mesmo quando não possuem recurso de fala ou o apresentem de maneira prejudicada.

O método foi desenvolvido nos Estados Unidos há cerca de dez anos e acaba de ser validado no Brasil pela pesquisadora Caroline Nunes Rocha Muniz, da Faculdade de Medicina da USP.

"Foi importante conseguir trazer este equipamento para o Brasil e testá-lo em crianças brasileiras. Ele se mostrou ser um exame eficiente e sensível, que pode ser aplicado em qualquer parte do mundo, pois são ondas elétricas cerebrais em resposta a estímulos", diz Caroline.

Validação do exame

Para validar o exame, Caroline selecionou 75 crianças, com idades entre 6 e 12 anos.

Elas foram divididas em grupos de "crianças normais", que não apresentam nenhuma dificuldade de fala; "crianças com Distúrbio Específico de Linguagem", que apresentam alterações no desenvolvimento de linguagem, sem possuir nenhuma causa ou razão aparente; e "crianças com Transtorno de Processamento Auditivo".

Este último grupo caracteriza crianças que possuem audição normal, mas apresentam dificuldades em perceber e processar sons, em compreender a fala na presença de ruídos, têm dificuldade em concentrar-se em uma informação e podem apresentar problemas escolares, como na escrita e na leitura, por exemplo.

Todas foram submetidas aos mesmos testes, que consistiam na exposição a ruídos e a diferentes estímulos, como cliques e o som de fala (sílaba /da/). Essa exposição acontece por meio de fones de ouvidos e a captação da resposta é feita por eletrodos postos em pontos específicos sobre a cabeça dos pacientes.

Som expresso no cérebro

No primeiro teste, chamado supressão das emissões otoacústicas, as crianças ouviam um estímulo em uma orelha e um ruído na outra. O cérebro libera uma série de ondas em resposta a esses sinais e, dependendo da forma que o cérebro processa esses sons, é possível monitorar o padrão das respostas.

"O cérebro é bastante fiel àquilo que ouve. Ele reproduz perfeitamente aquilo que conseguiu ouvir através de ondas. Dessa forma, eu podia comparar o quadro de ondas de sons emitidos para a criança e a resposta que o cérebro delas deu àquilo. Por isso, pudemos ter a noção de como os sons de fala estavam sendo codificados pelas crianças", explica Caroline.

Quando se tratava de crianças normais, os dois quadros de ondas eram extremamente similares, as ondas do som e as ondas de resposta do cérebro.

Já quando havia alguma alteração na audição, certos pontos divergiam entre os quadros de ondas.

"Os dois grupos que apresentavam alguma deficiência mostraram problemas da decodificação dos sons. Os picos de ondas não se pareciam com o pico de ondas das crianças com desenvolvimento normal, por exemplo," explica a pesquisadora.

Estudo eletrofisiológico

Ao contrário da metodologia tradicional, esse exame permite que crianças com extrema dificuldade de fala fala, linguagem e percepção auditiva sejam mais precocemente diagnosticadas.

O processo usual consistia na percepção que os pacientes diziam ter do que tinham ouvido, era uma observação comportamental deles durante a realização dos testes.

"Agora nós podemos fazer um estudo eletrofisiológico, por meio das respostas elétricas que o cérebro do paciente emitiu. Nesse caso, não precisamos da resposta comportamental do paciente, por isso o exame pode ser realizado em pacientes com dificuldades ou não de se comunicar".

O novo equipamento permite colocar as crianças em grupos mais específicos. "Alguns desvios de fala não necessariamente têm a ver com problemas auditivos. Há uma série fatores que podem influenciar essas alterações e é importante saber onde eles se encontram, da maneira mais específica possível", explica Caroline.

O exame poder ser feito em qualquer parte do mundo, por não variar de acordo com a língua da população. Além disso, ele também pode ser aplicado antes mesmo de o paciente aprender a falar.

"Futuramente, podemos realizar os testes em bebês, apenas monitorando os sinais de codificação neural que eles emitem. Assim, um trabalho fonoaudiológico já poderia começar a ser desenvolvido, de modo a impedir a evolução da deficiência," avalia Caroline.
Planta da mata Atlântica combate câncer de pele 
Em pesquisa feita com pele artificial na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, molécula extraída da planta pariparoba barrou a migração das células tumorais da epiderme para a derme.
Pariparoba

Um composto extraído da pariparoba (Pothomorphe umbellata), um arbusto originário da Mata Atlântica, é capaz de inibir o desenvolvimento do melanoma, o câncer de pele.

Os testes de laboratório mostraram que o composto ativo retirada da planta é capaz inclusive de impedir que as células tumorais invadam a camada mais profunda da pele e se espalhem para outros tecidos.

Esse composto ativo, uma molécula batizada de 4-nerolidilcatecol (4-NC), foi isolada e testada por Carla Abdo Brohem, na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP.

A equipe já iniciou a etapa de testes em animais. Os primeiros resultados estão em artigo publicado na revista Pigment Cell & Melanoma Research.

Melanoma

Segundo Silvya Stuchi Maria-Engler, coordenadora da equipe, o melanoma é a forma mais agressiva de câncer de pele e tem origem nas células produtoras de pigmentos, os melanócitos - entre 20% a 25% dos pacientes diagnosticados com a doença morrem.

"Se tratado na fase inicial, as chances de cura são altas. Mas quando ele se torna metastático o tempo de sobrevida é curto, em torno de oito meses, pois o tumor é muito resistente às drogas existentes. Medicamentos novos, portanto, são bem-vindos", disse.

O composto 4-NC, encontrado no extrato da raiz da pariparoba, já havia demonstrado possuir um potente efeito antioxidante, capaz de proteger a pele dos danos causados pela radiação solar.

Em 2004, uma formulação em gel contendo extrato de raiz de pariparoba foi patenteada para uso cosmético para prevenção do câncer de pele.

Testes posteriores, em culturas de células tumorais, demonstraram que o 4-NC era capaz de induzir a morte celular.

Agora, no modelo de pele em 3D, o 4-NC impediu que as células tumorais migrassem da epiderme para a derme. Dependendo dos testes de toxicidade em animais, ela poderá ser testada em humanos.

"Mesmo que ele não se prove eficaz contra o melanoma nas demais etapas da pesquisa, o composto tem diversas qualidades. Podemos avaliá-lo contra outros tipos de câncer", disse a professora Silvya.

Pele artificial

Para testar o composto da planta medicinal, as pesquisadoras usaram uma pele artificial, também desenvolvida pela equipe.

"A gente chama de artificial, mas se trata de pele humana reconstruída em laboratório," explica Silvya. Tudo começa com um fragmento de pele doado após cirurgia plástica, que a equipe recebe graças a parcerias com o Hospital Universitário e com o Hospital das Clínicas.

Os cientistas então isolam os constituintes básicos da pele - fibroblastos, queratinócitos e melanócitos - e os armazenam em um biobanco.

"No momento em que precisamos testar uma nova molécula, remontamos esses elementos e construímos um tecido muito semelhante à pele humana", conta a cientista.

Modelo de pele

Além dos estudos com o 4-NC, a pesquisa tem outros desdobramentos. Em um deles, células do sistema imunológico estão sendo acrescentadas ao modelo de pele artificial, deixando-o ainda mais completo.

"Dessa forma, além de testar a toxicidade e a eficácia de um novo composto, poderemos avaliar se ele tem potencial para causar alergia ou irritação", explicou.

Em outra vertente, os pesquisadores simulam in vitro as condições de uma pele envelhecida.

"Com o passar dos anos, resíduos de glicose se depositam sobre as proteínas, como por exemplo o colágeno. Isso desorganiza a matriz extracelular que compõe a camada dérmica da pele, causando rugas e flacidez", disse Silvya.

Esse problema, acrescentou, ocorre de forma mais evidente na pele de pacientes diabéticos e tornam mais difícil a cicatrização de ferimentos. O modelo de pele envelhecida, portanto, permitirá testar a ação de cosméticos antirrugas e de medicamentos para a pele de diabéticos.

"Nosso objetivo, a longo prazo, é realizar transplante de pele para tratar feridas crônicas e queimaduras", disse.

A vantagem das pesquisas feitas com pele artificial é a redução no uso decobaias, além de ser um tecido mais semelhante ao humano. No caso dos cosméticos, é possível eliminar totalmente os testes em animais.

Pele nacional

Na Europa e nos Estados Unidos são vendidos kits de pele artificial para a indústria cosmética e farmacêutica.

No Brasil, as empresas precisam enviar suas moléculas para serem testadas no exterior, embora o país já possua a tecnologia.

"Fomos procurados por diversas empresas, mas não temos condições de realizar esse serviço como rotina. Para isso, seria preciso grande investimento em equipamentos e treinamento de profissionais", disse a pesquisadora.