Pesquisar Neste Blog

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fatores estressores na produção de cordeiros


Alda Lúcia Gomes Monteiro
Professora Depto Zootecnia UFPR

Luciana Helena Kowalski
Bolsista de IC-CNPq, aluna do Curso de Medicina Veterinária, UFPR

Odilei Rogerio Prado
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFPR

Sergio Rodrigo Fernandes 
Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da UFPR
Alterações ambientais como exposição ao calor ou frio intenso, introdução de novos indivíduos no rebanho e mudanças bruscas na alimentação, assim como a ocorrência de doenças infecciosas e parasitárias podem provocar uma série de reações no organismo, levando os animais ao estresse. Além disso, as práticas de manejo realizadas nos sistemas de produção podem influenciar no grau de estresse dos animais, principalmente dos cordeiros. Dessa forma, decisões tomadas por produtores e técnicos na condução das atividades de manejo do rebanho podem favorecer a exposição dos animais a fatores estressores, influenciando o desempenho produtivo dos mesmos.

Entre as práticas de maior impacto na condição de estresse de cordeiros destaca-se o desmame precoce, que é indicado e utilizado como estratégia em programas visando controle parasitário e manejo reprodutivo acelerado do rebanho ovino, além do uso do desmame para terminação dos cordeiros em confinamento. O objetivo deste artigo é descrever alguns aspectos relacionados ao desmame precoce que afetam o grau de estresse e o desempenho dos cordeiros em pastejo. 

As reações que ocorrem no organismo em condições de alto estresse resultam na liberação de neurotransmissores (adrenalina), opióides endógenos (-endorfinas) e glicocorticóides (cortisol) na corrente sanguínea. Quando os animais permanecem por período prolongado sob alto estresse, a ação dos glicocorticóides reduz a imunidade e aumenta a suscetibilidade a doenças (Eloy, 2007). Esse quadro é denominado estresse crônico. O desmame precoce, realizado entre 45 e 60 dias de idade, e a oferta de alimentos no período pós desmame que por algum motivo não atendam às necessidades nutricionais, se destacam como fatores estressores que afetam os cordeiros nas fases de recria e terminação.

Em experimento conduzido no Laboratório de Produção de Ovinos e Caprinos da Universidade Federal do Paraná (LAPOC-UFPR) entre 2008 e 2009, registrou-se ocorrência de estresse crônico em cordeiros desmamados aos 45 dias de idade e mantidos em pastagem de Tifton-85 durante o verão (Figura 1). O ganho médio diário destes animais foi de 69 g/animal/dia e de cordeiros não desmamados foi de 173 g/animal/dia (Salgado et al., 2009). Outros resultados de desempenho de cordeiros foram relatados em manejo de desmame precoce e terminação em pasto (Tabela 1). 

A ausência da mãe, a falta do leite como fonte de nutrientes, a pouca experiência de pastejo e a baixa eficiência de aproveitamento da forragem consumida constituem os principais fatores que contribuem para a manutenção do alto grau de estresse em cordeiros mantidos em pastagem após o desmame. Além disso, a permanência desta condição por período prolongado resulta em diminuição da resposta imune, aumentando a suscetibilidade a doenças infecciosas e a parasitoses. Quando estes fatores atuam em conjunto, o desempenho dos cordeiros pode ser comprometido.

Figura 1 - Estresse crônico reduz o desempenho de cordeiros terminados em pastagem: cordeiro desmamado (à frente da cerca) e cordeiros não desmamados (atrás da cerca) apresentam a mesma idade, próxima de quatro meses.





No experimento realizado entre 2008-2009 no LAPOC-UFPR, registraram-se níveis elevados de cortisol na corrente sanguínea 21 dias após o desmame, e permanência de alta relação neutrófilo:linfócito por 42 dias em cordeiros desmamados precocemente e mantidos em pastagem (Figura 2). 

Ressalta-se que alterações no leucograma como neutrofilia (aumento de neutrófilos), linfopenia (diminuição de lifócitos) e eosinopenia (diminuição de eosinófilos) é normal sob condições de estresse prolongado, o que determina aumento da relação neutrófilo:linfócito em ruminantes (Jones e Allison, 2007). Portanto, este resultado indicou provável redução da resposta imune nos cordeiros, o que favoreceu o aumento da contaminação parasitária e resultou no ganho de peso insatisfatório observado nestes animais, conforme relatado por Salgado et al. (2009).

Figura 2 - Estresse crônico ocasionado pelo desmame aumenta a liberação de cortisol na corrente sanguínea (A) e prejudica a resposta imune (B) dos cordeiros. A linha representa a média para concentração sérica de cortisol (11,44 nmol/L) e para relação neutrófilo:linfócito (0,79). Fonte: Fernandes (2010).



Embora a prática de desmame precoce determine alto grau de estresse aos cordeiros, isso não significa que ela deva ser descartada dos sistemas intensivos de produção de ovinos. No entanto, a melhoria da dieta ofertada aos cordeiros no pré e pós-desmame deverá acompanhar a utilização desta prática. O uso de pastagens de alta qualidade com elevada quantidade de folhas e a oferta de alimentos concentrados em creep feeding logo após o nascimento, seja em pastejo ou confinamento, favorecem o desempenho dos cordeiros no período pré-desmame, resultando em animais mais pesados para o desmame entre 45 e 60 dias de idade. 

Após o desmame, a melhoria da qualidade da dieta poderá ser realizada por meio da oferta de suplementos concentrados em pastejo ou do aumento do teor de alimentos concentrados da ração fornecida em confinamento. Em ambos os casos, o balanceamento adequado do suplemento ofertado em pastejo e da ração fornecida em confinamento poderá resultar em ganho médio diário semelhante aos sistemas em que os cordeiros não são desmamados, conforme demonstrado por Poli et al. (2008), Ribeiro et al. (2009) e Salgado et al. (2009) e já publicados em colunas anteriores de nossa autoria. 

Os resultados obtidos permitem concluir que o grau de estresse após o desmame é atribuído, principalmente, a condição nutricional ofertada aos cordeiros. Portanto, a oferta de alimentos de alta qualidade e em quantidade suficiente é necessária para que cordeiros desmamados precocemente possam superar o estresse ocasionado pelo desmame, e apresentar desempenho satisfatório, e respeitando-se essa condição, vários modelos produtivos, em pasto ou em confinamento poderiam ser empregados.


Referências bibliográficas

CARVALHO, S.; BROCHIER, M.A.; PIVATO, J.; TEIXEIRA, R.C.; KIELING, R. Ganho de peso, características da carcaça e componentes não-carcaça de cordeiros da raça Texel terminados em diferentes sistemas alimentares. Ciência Rural, v.37, n.3, p.821-827, 2007.

ELOY, A.M.X. Estresse na produção animal. Sobral-CE: Embrapa Caprinos, 2007 (Comunicado Técnico).

FERNANDES, M.A.M.; MONTEIRO, A.L.G.; POLI, C.H.E.C.; BARROS, C.S.; RIBEIRO, T.M.D.; SILVA, A.L.P. Características das carcaças e componentes do peso vivo de cordeiros terminados em pastagem ou confinamento. Acta Scientiarum Animal Science, v.30, n.1, p.75-81, 2008.

FERNANDES, S.R. Perfis bioquímicos, hematológicos e características de carcaça de cordeiros em diferentes sistemas de terminação. 2010. 98f. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010.

JONES, M.L.; ALLISON, R.W. Evaluation of the ruminant complete blood cell count. Veterinary Clinics Food Animal Practice, v.23, p.377-402, 2007.

MACEDO, F.A.F.; SIQUEIRA, E.R.; MARTINS, E.L. Análise econômica da produção de carne de cordeiros sob dois sistemas de terminação: pastagem e confinamento. Ciência Rural, v.30, n.4, p.677-680, 2000.

POLI, C.H.E.C.; MONTEIRO, A.L.G.: BARROS, C.S.; MORAES, A.; FERNANDES, M.A.M.; PIAZZETTA, H.V.L. Produção de ovinos de corte em quarto sistemas de produção. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.4, p.666-673, 2008.

RIBEIRO, T.M.D.; MONTEIRO, A.L.G.; PRADO, O.R.; NATEL, A.S.; SALGADO, J.A.; PIAZZETTA, H.L.; FERNANDES, S.R. Desempenho e características das carcaças de cordeiros em quatro sistemas de produção. Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal, v.10, n.2, p.366-378, 2009.

SALGADO, J.A., SOUZA, D.F., MONTEIRO, A.L.G., HENTZ, F., SILVA, M.G.B., PAULA, E.F.E., CRUZ, T.A. Efeito do desmame e da suplementação sobre a infecção parasitária e desenvolvimento ponderal de cordeiros terminados em sistemas na pastagem. In: Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 46., 2009, Maringá. Anais... Viçosa: SBZ, [2009]. (CDROM).

Trabalho de pesquisadores da Fiocruz é capa da 'Science Translational Medicine'

Dois pesquisadores da Fiocruz, Fernando Bozza e André Japiassú, assinam como co-autores o artigo que é tema de capa da nova edição da revista Science Translational Medicine, publicada em 29 de setembro. O artigo expressa os resultados de pesquisa dos profissionais do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), em colaboração com o Instituto Gulbenkian de Ciência, de Portugal. O artigo, intitulado A Central Role for Free Heme in the Pathogenesis of Severe Sepsis, demonstra que compostos de ferro liberados na circulação pioram a infecção bacteriana. As implicações da pesquisa podem levar a novos tratamentos para pacientes com sepse grave, uma das principais causas de morte de pacientes internados em unidades de terapia intensiva.

O estudo publicado pela revista de alto impacto na comunidade científica trata do composto de ferro denominado “heme”, que normalmente faz parte da molécula de hemoglobina, mas, quando livre na circulação, agrava as infecções bacterianas no sangue. Uma proteína depuradora denominada hemopexina consegue eliminar esse composto  no sangue de camundongos, evitando os efeitos deletérios, como informa o novo estudo. Estes achados podem levar a novas maneiras de monitorar os pacientes com sepse - conhecida como infecção generalizada, termo hoje considerado impróprio pelos médicos - uma infecção causada por uma grande quantidade bactérias na circulação sanguínea,o que causa a exaustão do sistema imunológico, resultando na redução súbita da pressão arterial e falha dos principais órgãos.
“A hemopexina interrompe o ciclo deflagrado pelo heme livre, que é como uma bola de neve”, afirma o médico intensivista Fernando Bozza, pesquisador do Ipec, um dos co-autores do artigo. O médico ressalta que a sepse é um grave problema de saúde pública em todo o mundo. No Brasil, a mortalidade em decorrência de sepse é ainda mais alta, chegando a 65% dos casos, enquanto a média mundial está em torno de 30-40%.
A medição da quantidade de heme e hemopexina em pacientes com sepse serviria para auxiliar os médicos a prognosticar aqueles que necessitam de tratamentos mais intensivos. Além disso, especula-se que pacientes com alto risco de vida poderiam ser salvos ao receberem uma quantidade extra de hemopexina ou de outras substâncias que destroem o ferro heme.
É comum que durante a sepse os glóbulos vermelhos, também denominados eritrócitos, sejam danificados. Ao se partirem, a hemoglobina é liberada e degradada, e os grupos heme livres resultantes são lançados na circulação sanguínea. O grupo heme livre não é apenas um espectador inocente desse conjunto de efeitos nocivos. Na realidade, incita à inflamação e à morte celular, exacerbando lesões aos órgãos e aumentando o risco de morte.
Os pesquisadores descobriram que camundongos que não possuem a enzima responsável pela degradação da hemoglobina têm mais grupos heme circulantes do que os camundongos normais, tornando-os mais suscetíveis à morte por sepse. Além disso, a equipe, coordenada pelo pesquisador português Miguel Soares, do Instituto Gulbenkian, demonstrou que a hemopexina, uma proteína produzida pelo organismo para depurar os grupos heme livres da circulação sanguínea, protege camundongos com sepse dos efeitos nocivos de tais grupos, diminuindo o risco de complicações e morte. O passo seguinte será testar a hemopexina em seres humanos e verificar se confere o mesmo efeito protetor observado nos camundongos.

FORMULÁRIO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE DE NOTIFICAÇÃO DE REAÇÃO ADVERSA À VACINA ANTIRRÁBICA ANIMAL

Prezados Colegas,

O formulário em anexo deve ser preenchido online sempre que chegar ao nosso conhecimento um caso de reação adversa temporalmente associado à vacina antirrábica em felinos e caninos. Familiarizem-se com os campos obrigatórios a preencher neste formulário de 3 páginas e não deixem de notificar o Ministério sempre que estiverem diante de uma reação anafilática ou anafilactóide associada à vacina AR, pois somente assim o Governo poderá decidir sobre seu uso em território nacional.

Cabe lembrar que a raiva é uma doença fatal e seu controle em áreas urbanas deve-se aos bem sucedidos 30 anos de campanha de vacinação antirrábica animal.

Divulguem aos seus pares e não deixem de notificar.


Albertina A. Werneck
Presidente do Centro de Estudos do
Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman