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quinta-feira, 29 de março de 2012

Falta de substância deixa o organismo à mercê da gripe



Espada versus escudo, lança versus armadura: a mesma regra básica da antiga história militar vale para o duelo entre micróbios e o sistema de defesa do organismo.

Uma enorme equipe de pesquisadores descobriu um "escudo" que permite a camundongos e seres humanos se protegerem do vírus da gripe, notadamente da sua versão letal, como a da epidemia mundial de 2009/2010.

Foram 31 "pesquisadores" que realizaram o estudo publicado na revista científica "Nature", mas dois deles eram conjuntos de cientistas com dezenas de pessoas cada um. Esse bando foi necessário para produzir os detalhados experimentos que mostram como a proteína IFITM3 atua de modo a ser um "escudo" antivírus ideal.

Os camundongos sem a proteína tiveram mais problemas inflamatórios e maior replicação do vírus da gripe A.

O mesmo foi descoberto em seres humanos sofrendo com a doença, cuja severidade foi claramente vinculada ao tipo de proteína IFITM presente no organismo.
Editoria de Arte/Folhapress 
Já se sabia que proteínas do tipo IFITM eram capazes de afetar a duplicação de vários tipos de vírus patogênicos (causadores de doenças) em estudos in vitro.

Agora, a equipe coordenada por Paul Kellam, do Wellcome Trust Sanger Institute, Reino Unido, demonstrou que a falta da proteína é capaz de fazer com que uma infecção suave se torne algo muito mais grave em animais.

"A IFITM3 é essencial para defender o hospedeiro contra o vírus da gripe. Camundongos que não têm a IFITM3 apresentam pneumonia viral fulminante quando inoculados com um vírus da gripe normalmente benigno, espelhando a destruição infligida pelo vírus da gripe espanhola de 1918", escreveram os autores do estudo.

E, em seres humanos, os resultados foram semelhantes. A equipe analisou o gene ligado à produção dessa proteína em pacientes hospitalizados com o vírus da pandemia (epidemia global) de 2009, o H1N1, ou em infectados por gripe sazonal. E descobriu que os doentes tinham mais abundantemente uma forma da proteína com menor atividade antiviral.

"Este trabalho é ultrainteressante. Os interferons [como a IFITM3] são uma classe de proteínas que a gente já usa para tratar infecções por vírus, como o da hepatite C", diz Esper Kallas, da Faculdade de Medicina da USP.

"Mas o caso é diferente dos antivirais comuns, pois usa uma defesa natural do hospedeiro", diz Kallas, que ressalva que o estudo precisa ser complementado com mais pesquisas com pessoas.

Os pesquisadores concluíram que a proteína IFITM3 é capaz de impedir que o vírus se ligue com a célula ou afeta a reprodução do parasita.

"Esse fator inato de resistência é ainda mais importante durante encontros com um novo vírus de pandemia, quando as defesas dos hospedeiros são menos eficazes. Pessoas com baixo nível de IFITM3 podem ser mais vulneráveis à disseminação do vírus", concluiu a equipe.
Butantan desenvolve teste rápido de diarreias agudas

Exame rápido de diarreia

Um kit semelhante ao dos testes de gravidez vendidos em farmácia foi desenvolvido no Instituto Butantan para ajudar a diagnosticar a causa da diarreia aguda.

A doença mata anualmente 1,5 milhão de crianças menores de 5 anos no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O exame é capaz de detectar três categorias da bactéria Escherichia coli, responsável por 30% a 40% dos casos nos países em desenvolvimento.

Basta colocar uma tira de papel em uma amostra de fezes previamente preparada e, em 15 minutos, linhas vermelhas indicam se um dos três tipos do bacilo está presente.

Tipos de E. coli

"Existem seis categorias de E. coli capazes de causar diarreia, cada uma com diferentes características de virulência e epidemiológicas", explicou a pesquisadora Roxane Maria Fontes Piazza.

O teste abrange duas categorias consideradas endêmicas no Brasil: a enteropatogênica (EPEC) e a enterotoxigênica (ETEC). Detecta também a E. coli produtora da toxina de Shiga (STEC), que, embora seja rara no país, preocupa os órgãos de saúde por causar formas graves da doença, podendo levar à colite hemorrágica e à falência renal.

"Há outra categoria bastante comum no Brasil que ficou de fora, a enteroagregativa (EAEC). Isso porque ela não produz uma proteína-alvo que permita sua identificação em testes desse tipo", explicou Roxane.

Em uma primeira etapa foram obtidos os anticorpos contra as proteínas ou toxinas produzidas por essas três categorias da bactéria. Em seguida, os anticorpos foram testados em outros métodos de diagnóstico para avaliar sua sensibilidade.

"Quando estávamos com todos os anticorpos em mãos, decidimos padronizar esse kit para realização do exame imunocromatográfico. Esse método é mais rápido, mais fácil de ser executado e tem custo acessível, podendo ser usado em qualquer laboratório clínico", disse Roxane.

Kit rápido da diarreia

O kit é composto por uma fita de 6 centímetros de comprimento por 0,5 centímetro de largura. Nessa fita, três tipos de papel foram sobrepostos em uma base plástica.

"No início tem uma fibra de celulose de alta absorção, responsável por puxar a amostra e levá-la até a região da fita onde estão os reagentes. Em seguida vem a fibra de vidro, onde estão fixadas pequenas partículas de ouro chamadas de ouro coloidal. Nessas partículas esféricas, de apenas 20 nanômetros de diâmetro, estão aderidos os anticorpos", explicou Rocha.

Os antígenos da bactéria, quando presentes, são absorvidos pela fibra de celulose, ligam-se aos anticorpos aderidos ao ouro coloidal e continuam pela fita até chegar a uma membrana de nitrocelulose, na qual sai o resultado do teste.

"Há várias linhas nessa membrana e o que determina qual é a categoria de E. coli presente na amostra é a região em que as linhas aparecem na fita. A reação é considerada positiva quando as duas linhas, teste e controle, apresentam-se coloridas", disse Rocha.

A função do ouro é tornar as linhas visíveis. Para garantir a sensibilidade do método, porém, a fita não deve ser colocada diretamente nas fezes. Alguns tipos de E. coliproduzem quantidades muito pequenas de toxinas, que passariam despercebidas no exame.

"É preciso colocar a amostra de fezes em um caldo de cultivo e deixar as bactérias se multiplicando de um dia para outro. A fita deve então ser colocada nesse caldo", disse Rocha.

Detecção de bactérias

A ideia é que o kit seja usado em hospitais e laboratórios clínicos para acelerar a detecção da bactéria, o que ajudaria profissionais de saúde a tomar medidas de prevenção, de modo a evitar que surtos se alastrem, e a adotar condutas terapêuticas adequadas.

Segundo Roxane, o usual na rotina clínica é o médico não pedir exames e fazer o diagnóstico com base apenas na análise dos sintomas. "Só quando o quadro é mais persistente ou quando se suspeita da bactéria produtora da toxina de Shiga é que se manda uma amostra para um laboratório de referência analisar. Os demais laboratórios usam métodos antigos e pouco precisos", disse.

Embora a montagem do kit já tenha sido concluída, o método ainda precisa ser validado. Roxane estima que o processo leve cerca de dois anos. "Antes de colocá-lo no mercado precisamos patentear e analisar questões comerciais, como a estabilidade de armazenamento", explicou.