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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Inscrições para o mestrado em saúde pública da Fiocruz PE


Estão abertas a partir da próxima segunda-feira (27), as inscrições para o mestrado acadêmico em saúde pública da Fiocruz Pernambuco, no site da Plataforma SIGA (www.sigass.fiocruz.br), link inscrições - Saúde Pública CPqAM. Serão oferecidas 20 vagas. A seleção será composta de quatro etapas: prova de inglês, de conhecimento específico, entrevista e análise de currículo/anteprojeto.
Já as inscrições para o doutorado estarão abertas de 4 de outubro a 3 de novembro e serão disponibilizadas 15 vagas. Mais informações sobre os processos seletivos estão disponíveis no site www.cpqam.fiocruz.br e pelos telefones (81) 2101.2625 e 2101.2611

Listeriose em ovinos e caprinos

André Maciel Crespilho - Médico Veterinário, Doutorando do Depto. de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária da FMVZ - UNESP, Botucatu/SP
Carmo Emanuel Almeida Biscarde - Mestrando Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ-UNESP, Botucatu/SP
Vitor Santiago de Carvalho - Mestrando em Ciência Animal nos Trópicos - UFBA

A listeriose é uma enfermidade infecciosa que acomete diversas espécies animais, sendo considerada uma zoonose, pois além dos animais domésticos a doença também pode ser transmitida aos seres humanos.

As bactérias da espécie Listeria correspondem ao agente causador da doença. Segundo Schild (2001) esses microorganismos encontram-se largamente distribuídos na natureza, podendo ser encontrados no solo, plantas, silagem, aguadas, paredes e pisos de instalações, podendo ser isolados inclusive das fezes e secreções nasais de animais doentes e sadios. Em virtude do caráter infeccioso e da susceptibilidade de ovinos e caprinos à doença, o objetivo dessa revisão é abordar os principais aspectos relacionados a epidemiologia, diagnóstico e prevenção da listeriose em pequenos ruminantes.

A doença

A listeriose afeta várias espécies animais, induzindo três formas de manifestação clínica, segundo Rissi et al., (2006) e Schild (2001):

1 - septicemia ou infecção generalizada manifestada pela formação de abscessos em vísceras como fígado e baço, comumente observada em ruminantes, suínos, coelhos e aves recém-nascidas;

2 - aborto, metrite e placentite que ocorrem em bovinos e ovinos;

3 - doença neurológica caracterizada como meningoencefalite, principalmente observada em ovinos, caprinos e bovinos. Geralmente, em caso de surto, apenas uma dessas três formas clínicas se manifesta no rebanho.

A listeriose é causada principalmente pelas bactérias L. monocytogenes e L. ivanovii (esta em menor frequência) em ovinos e caprinos (Figura 1). Segundo Ryser & Marth (2007), os ovinos apresentam uma susc eptibilidade 34% maior para a listeriose em relação aos bovinos, evidenciando uma maior suscetibilidade dessa espécie à doença.

A incidência da enfermidade pode ser considerada baixa e esporádica, sobretudo em condições nacionais. Em estudo recente, identificou- se a listeriose como agente causador de cerca de 6% dos casos de doença neurológica em ovinos e caprinos do semi-árido brasileiro (GUEDES et al., 2007).
Epidemiologia e fatores predisponentes

A listeriose é uma doença de ocorrência mundial, especialmente em países de clima temperado. Segundo revisões de Rissi et al., (2006), a doença se manifesta nos animais principalmente nos meses de inverno e início da primavera em associação ao consumo de silagem. A silagem de má qualidade (sobretudo àquelas onde ocorreu pouca fermentação, favorecendo a manutenção do pH acima de 5,5, situação comum na silagem da superfície ou borda dos silos onde frequentemente ocorre deterioração aeróbia) fornecem condições ideais para o crescimento e manutenção da Listeria (RADOSTITIS et al., 2002; SCHILD, 2001), favorecendo a disseminação da doença.

Outros fatores nutricionais como a utilização de cama de frango para a nutrição animal (proibida em todo o território nacional em virtude dos riscos de transmissão de encefalopatias aos animais) também predispõe a ocorrência dos surtos da doença. No entanto, a ampla difusão ambiental frequentemente dificulta o diagnóstico e a clara identificação de um determinado surto, devendo-se considerar outras fontes de contaminação além do consumo de silagem.

A infecção por Listeria acontece no momento da ingestão dos alimentos contaminados, quando frequentemente ocorrem pequenos traumatismos na mucosa da boca e da faringe (orofaringe) ou através da penetração direta pelas células intestinais. Quando a infecção ocorre via orofaringe observa-se uma penetração bacteriana ascendente através de nervos (via bainha neu ral das terminações nervosas do nervo trigêmeo) que conduzem o microorganismo até o cérebro, causando os sinais clínicos de incoordenação motora, andar em círculos, desvio lateral de cabeça (torcicolo) e do corpo, paralisia facial (caída de orelha e pálpebra superior), flacidez do lábio superior que evolui para a dificuldade de apreensão e mastigação dos alimentos (SCHILD, 2001). A morte geralmente ocorre após uma a duas semanas do início das manifestações clínicas (Figura 2).

Por outro lado, quando a penetração bacteriana ocorre pela via intestinal, além dos sinais neurológicos (desenvolvimento da meningoencefalite pela chegada de bactérias através do sistema sanguíneo) pode ocorrer o aborto no terço final de gestação provocado por edema seguido de necrose placentária após proliferação uterina, além da possibilidade de infecção generalizada (septicemia) , com a formação de abscessos em órgãos como baço, fígado, rins e co ração. A listeriose também pode ocasionar mastite clínica e subclínica que geralmente se manifestam em um único quarto do úbere e caracterizam- se, frequentemente, pela baixa responsividade ao tratamento.

Diagnóstico e controle da doença

O diagnóstico da doença é feito pela observação dos sinais clínicos e pela realização de exames laboratoriais de sorologia (pouco sensíveis) ou isolamento dos microorganismos a partir de amostras de fluido espinal, sangue, tecido nervoso, baço, fígado, fluido do abomaso e mecônio dos animais suspeitos.

O tratamento da listeriose é realizado através do uso de antibióticos como tetraciclina ou penicilina, sendo que a Listeria monocytogenes também apresenta susceptibilidade a sulfonamida- trimetropim, ceftiofur e eritromicina. No entanto, a terapêutica geralmente não impede a morte dos animais acometidos já que a Listeria consegue se "esconder" das dro gas no interior de outras células do organismo, especialmente no interior do sistema nervoso central (REBHUN et al., 2000).

Frente às dificuldades de tratamento, destaca-se a prevenção como principal medida de controle da doença. Boas práticas de manejo como a limpeza de instalações e de cochos, correta vedação e compactação de silos, oferecimento de silagem de boa qualidade realizando-se a adaptação prévia dos animais antes da introdução da silagem na dieta, representam as principais ações de combate a listeriose.

Em função do potencial zoonótico da doença, preconiza-se a pasteurização do leite previamente ao consumo ou processamento em derivados (representam a principal fonte de infecção para o homem) como a principal medida para a prevenção da listeriose humana (PINTADO et al.,2009).

Referências bibliográficas

BRUGERE-PICOUX, J. Ovine listeriosis, Small Ruminant Research, v.76, p.1 2-20, 2008

D'ARCE, R. Listeriose, Palestra, Encontro de Clínica de Ruminantes da Faculdade Jaguariúna, 2006.

GUEDES, K.M.R., RIET-CORREA, F., DANTAS, A.F.M. et al. Doenças do sistema nervosa central em caprinos e ovinos no semi-árido. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.27, n.1, p.29-38, 2007.

LOW, J.C., DONACHIE, W. A review of Listeria monocytogenes and listeriosis. Veterinary Journal, v.153, p.9-29, 1997.

PINTADO, C.M.B.S., GRANT, K. A., HALFORD-MAW, R., et al. Association between a case study of asymptomatic ovine listerial mastitis and the contamination of soft cheese and cheese processing environment with Listeria monocytogenes in Portugal. Foodborne Pathogens and Disease, v.6, n.5. p.560-575, 2009.

RADOSTITS, O.M.; GAY, C.C.; BLOOD, D.C. et al. Doenças Causadas por Algas e Fungos. In:___. Clínica Veterinária - Um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e equinos. 9 .ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. v.1, p.661-665, 2002.

REBHUN, W.C.; GUARD, C.; RICHARDS, M. Doenças do Gado Leiteiro. 1 ed. São Paulo: Roca, 2000, p.505-509.

RISSI, D.R., RECH, R.R., BARROS, R.R. et al. Forma nervosa da listeriose em caprinos. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.26, n.1, p.14-20, 2006.

RYSER, E. T.; MARTH. E. H. Listeriosis in animals. In: ______ Listeria, listeriosis, and food safety. 3.ed. Boca Raton: Flórida, p.55-84, 2007.

SCHILD, A.L. Listeriose. In:___ RIET-CORREA, F.; SHILD, A.L.; MÉNDEZ, M.C.; LEMOS, R.A.A. Doenças de Ruminantes e Equinos. São Paulo: Varela, 2001. p.288-292.

SCOTT, P.R. Listeriose. In: ____ Manual Merck de Veterinária. 8.ed. São Paulo: Roca, p.392-394, 2001.