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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Células herdam informação que não está no DNA


Descoberto como células herdam informação que não está nos genes
Cada célula retém uma memória da sua identidade, lembrando-se de quais genes devem ficar ativados - logo, esta informação não pode ficar nos próprios genes.[Imagem: Mariana Silva/Lars Jansen/IGC]
Além do DNA
Apesar de geneticamente idênticas, as trilhões de células do corpo humano adulto são de diferentes tipos.
São células musculares, da pele ou do cérebro, mas todas dependentes dos genes que estão ativados e desligados no interior de cada uma.
Cada célula especializada retém uma memória da sua identidade, "lembrando-se" quais genes que devem ficar ativados e quais devem ser desligados, mesmo quando a célula se divide.
Ocorre que esta memória não está inscrita diretamente no DNA e, mesmo assim, ela é hereditária - é algo conhecido como informação epigenética.
Instruções epigenéticas
As instruções epigenéticas estão muitas vezes contidas em proteínas, que controlam não só os genes, mas também a organização dos cromossomas. Essas proteínas são conhecidas como centros epigenéticos.
Lars Jansen e a sua equipe do Instituto Gulbenkian de Ciência, em Portugal, agora descobriram a forma pela qual um destes centros epigenéticos organizadores é fielmente transmitido entre a célula-mãe e as duas células-filhas que resultam da divisão celular.
Com estes resultados, a equipe não apenas elucida um processo biológico até agora enigmático, mas também abre caminho para a compreensão de mais uma possível causa do câncer.
Centrômeros
Os cientistas estudaram o centrômero, uma estrutura formada por proteínas, existente em todos os cromossomos, ligando-os ao esqueleto da célula (o chamado citoesqueleto) durante a divisão celular.
É o centrômero que assegura que, durante a divisão celular, cada célula-filha recebe exatamente um conjunto de cromossomas recém-formados.
O papel dos centrômeros é decisivo, uma vez que qualquer imperfeição no seu funcionamento dá origem a células com o número errado de cromossomos, o que é uma marca de células tumorais.
Pergunta sem resposta
"Quando as células se dividem, elas duplicam fielmente todos os seus genes, que são transmitidos a duas células-filhas. Algo de semelhante tem de acontecer com a informação não-genética.
"Mas como é que a célula copia proteínas? E como é que assegura que se produz o número correto de cópias?
"Esta é ainda uma pergunta sem resposta. Abordamos a questão recorrendo ao centrômero como modelo, uma vez que se conhece qual a proteína responsável pelo seu comportamento epigenético," explica Mariana Silva, que realizou os experimentos.
Descoberto como células herdam informação que não está nos genes
As células possuem uma espécie de relógio interno, que controla a duplicação das informações em momentos diferentes. [Imagem: Mariana Silva et al./Developmental Cell]

Memória molecular
A proteína chama-se CENP-A e mantém a "memória molecular" do centrômero, assegurando a passagem das informações das células-mãe para as células-filha.
Já se sabia que as células duplicam o seu DNA antes de entrar em mitose (o processo de divisão celular propriamente dito), mas a duplicação do centrômero, conduzido pela proteína CENP-A ocorre apenas após a mitose, num intervalo de tempo conhecido por G1.
O que faltava saber era o que dispara a duplicação do centrômero e de que forma a célula assegura a precisão deste processo.
Os cientistas portugueses descobriram que os processos de duplicação do DNA e de duplicação da CENP-A são controlados pelo mesmo complexo, que opera como um relógio molecular, impelindo a progressão sequencial das diferentes fases do ciclo celular.
As proteínas Cdk (do inglês cyclin-dependent kinases) são componentes-chave deste complexo: quando estão ativas (antes de se iniciar a mitose), o DNA é duplicado e a duplicação de CENP-A (isto é, dos centrômeros) é inibida.
Reciprocamente, quando as proteínas Cdk estão inativas (após a mitose), a CENP-A é duplicada, mas a duplicação do DNA fica bloqueada.
Fazendo uma analogia com o ciclo diurno, é como se o DNA se duplicasse à meia-noite, e o centrômero ao meio-dia, graças ao controlo das "proteínas-relógio" Cdk.
Hereditariedade epigenética
Os cientistas chegaram a este modelo em uma série de experiências nas quais eles inibiram a atividade da Cdk em células humanas e de galinha, em determinados instantes.
Eles verificaram que conseguiam enganar as células, induzindo-as a produzirem centrômeros novos, mesmo enquanto duplicavam o seu DNA. "Era como se as células estivessem com jet-lag," diz Lars Jansen.
Lars contextualizou a descoberta:
"O que descobrimos foi um mecanismo simples e ordenado, através do qual a célula emparelha a duplicação do DNA, a divisão celular e a construção do centrômero. Ao utilizar o mesmo complexo (as proteínas Cdk) para todos estes processos, a célula confere tempos diferentes, bem definidos, a cada processo, assegurando, desta forma, que se produzem o número correto de cópias de genes e de centrômeros.
"Manter estes processos separados temporalmente poderá ser crucial para evitar erros em cada um. E elucidar estes princípios gerais de hereditariedade epigenética é fundamental para a nossa compreensão da regulação dos genes, da organização dos cromossomas e das causas e origens das várias doenças que resultam de erros nestes mecanismos."

Inseticida traz mais ameaças que benefícios no combate à dengue

Fiocruz manifesta-se contra uso de inseticidas no combate à dengue
O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) manifestou-se formalmente contra a distribuição de inseticidas à população como medida de combate ao mosquito da dengue. [Imagem: IOC/Fiocruz]

Desmedida
O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) manifestou-se formalmente contra a distribuição de inseticidas à população como medida de combate ao mosquito da dengue.
A população de Foz do Iguaçu (PR), recebeu nesta semana 80 mil frascos de inseticida para tentar combater o mosquito transmissor da dengue em domicílios residenciais.
"O uso de inseticida é uma estratégia complementar que sob hipótese alguma pode ser tratada como a medida mais efetiva. Isso causa falsa sensação de segurança na população e o pior, provoca a disseminação de mosquitos resistentes aos inseticidas disponíveis", esclarece Denise Valle, do IOC.
"O controle efetivo é o controle mecânico, através da eliminação dos criadouros não deixando água parada. Esta sim, é uma medida que mata indiscriminadamente os [pernilongos] resistentes e os susceptíveis a inseticidas. O spray fica por poucos minutos no ar e só efetivo no contato direto com o mosquito, desde que não seja de uma linhagem resistente", sublinha.
Resistência contra inseticidas
Além disso, Denise informa que a população de mosquitos se recompõe muito rapidamente no ambiente, por isso a ênfase no controle das formas imaturas (ovos, larvas e pupas) do vetor, mediante a remoção mecânica dos criadouros.
Além disso, as populações de mosquitos são variadas no país, cada uma apresentando níveis de resistência diferenciados.
Existem poucos produtos disponíveis para controle do vetor. Por isso, devem ser usados com cautela, já que a resistência entre as populações de mosquitos coloca um novo desafio para o combate à doença.
Segundo o Ministério da Saúde, a aplicação desses produtos [inseticidas do tipo aerossol pertencentes em geral ao grupo dos piretroides] só deve ser feita pelas equipes de vigilância das secretarias estaduais e municipais de Saúde treinadas para o manuseio seguro destes produtos.
"Apenas orientamos o uso de inseticidas quando há comprovação da transmissão de dengue, evidenciada por critérios epidemiológicos", observa o Secretário de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.
Na nota técnica, o Instituto alerta que "a utilização inadequada e indiscriminada destes produtos poderá causar graves consequências no meio ambiente e interferir na eficácia dos programas de controle da dengue, tornando o mosquito ainda mais resistente ao inseticida."
Mosquito que gosta do homem
Aedes aegypti é um mosquito doméstico com hábitos oportunistas: ele vive dentro ou ao redor de domicílios ou de outros locais frequentados por pessoas, como estabelecimentos comerciais, escolas ou igrejas, por exemplo.
Tem hábitos preferencialmente diurnos e alimenta-se de sangue humano, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer. Mas também pode picar à noite, pois não deixa a oportunidade passar.
Por ser um mosquito que vive perto do homem, sua presença é mais comum em áreas urbanas e a infestação é mais intensa em regiões com alta densidade populacional - principalmente, em espaços urbanos com ocupação desordenada, onde as fêmeas têm mais oportunidades para alimentação e dispõem de mais criadouros para desovar.
A infestação do mosquito é sempre mais intensa no verão, em função da elevação da temperatura e da intensificação de chuvas - fatores que propiciam a eclosão de ovos do mosquito.
Para evitar esta situação, é preciso adotar medidas permanentes para o controle do vetor, durante todo o ano, a partir de ações preventivas de eliminação de focos do vetor. Como o mosquito tem hábitos domésticos, essa ação depende sobretudo do empenho da população.
10 Minutos Contra a Dengue
O Instituto Oswaldo Cruz está lançando a campanha "10 Minutos Contra a Dengue", elaborada a partir do conhecimento científico sobre o Aedes aegypti.
A campanha consiste em orientar a população para investir 10 minutos por semana para checar e eliminar os principais criadouros do pernilongo dentro de suas residências.
Devido à biologia do vetor, uma checagem semanal é o suficiente porque, do ovo ao mosquito adulto, o ciclo de desenvolvimento do A. aegypti leva de 7 a 10 dias. Por isso, agindo uma vez por semana é possível interromper o ciclo de vida do A. aegypti e evitar o nascimento de novos mosquitos adultos. A inspiração veio da estratégia de controle do Aedes adotada em Cingapura, nos anos de 2004 e 2005.
"A proposta é investir dez minutos por semana para remover criadouros no ambiente doméstico e peri-doméstico, de modo a interferir no ciclo de desenvolvimento do vetor, impedindo que ovos, larvas e pupas do mosquito cheguem à fase adulta", enfatiza Denise Valle.
"Temos que ficar atentos ao acúmulo de água em calhas, ralos, bandejas de geladeira e ar condicionado, entre outros locais como vasos de plantas, garrafas pet viradas com a boca para cima, pneus, e vedar adequadamente caixas d'água, por exemplo", diz.
"Dengue é um problema que desafia a todos, porque já não é apenas um problema de saúde pública, mas também de educação, de comunicação e de mobilização. As ações para combatê-la não podem ser delegadas apenas aos governos. Se cada um fizer sua parte, temos mais chance de alcançar o sucesso na luta contra a doença," completa.
Para orientar a ação de "10 Minutos Contra Dengue", os especialistas do IOC elaboraram um guia com os 13 criadouros estratégicos no ambiente doméstico, orientações sobre medidas de prevenção e uma tabela que poderá orientar a checagem semanal.
Guia 10 Minutos Contra Dengue pode ser baixado gratuitamente.