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sábado, 2 de outubro de 2010

Suplementação proteica para ovinos no período da seca

Fábio Arantes Quintão
Zootecnista, Mestre em Nutrição de Ruminantes e Integrante Comitê Gestor Ovinocaprinocultura - Tortuga

Guilherme Benko de Siqueira
Zootecnista, Doutor em Produção Animal e Professor Adjunto UFT

Rodrigo Martins de Souza Emediato
Zootecnista, Mestre em Nutrição e Produção de Ovinos, Promotor Técnico Comercial e Integrante Comitê gestor Ovinocaprinocultura - Tortuga

Durante a seca as forragens apresentam drástica diminuição dos teores de proteína, vitaminas e de minerais. A suplementação desses nutrientes e adequado manejo nessa época são fundamentais para atender aquelas flutuações nutricionais

A elevada capacidade produtiva dos capins tropicais é uma característica que permite a obtenção de grandes produções animais nessa região. Porém, é inquestionável que mesmo com esse potencial para produção de carne em regime de pasto, é comum a existência de inadequações nutricionais no que se refere à oferta de energia, proteína e minerais (Siqueira, 2001).

Em climas tropicais, o ciclo de produção anual de forragem é determinado pelas fases das águas, da seca e os períodos de transição entre elas. Costa (2001) comentou que o padrão cíclico no desenvolvimento dos ruminantes é determinado, quase exclusivamente, pelo clima que tem grande efeito no ciclo vegetativo das forrageiras tropicais, sendo a época chuvosa a que representa os períodos de desenvolvimento satisfatório. Nesse período, as forrageiras atingem o máximo de sua disponibilidade e valor nutritivo com razoável atendimento das demandas nutricionais dos ovinos.

Assim, em função do clima, o sistema produtivo caracteriza-se por uma fase de desenvolvimento satisfatório dos animais, e por outra em que o desenvolvimento pode ser nulo ou até negativo (período de estiagem ou de seca).



Os maiores problemas do período da seca são a falta de chuvas e diminuição do período luminoso. Esses dois fatores são preponderantes para que as gramíneas tropicais tenham o seu crescimento afetado, resultando em pastagens com menor teor de proteína e volume de pastagem diminuído, o que favorece também as maiores incidências de verminose, pois os animais irão pastejar em alturas mais baixas e consequentemente, ingerir mais larvas.

Nesse período, a forragem apresenta baixo valor nutritivo em que o conteúdo de proteína pode não suprir as exigências em proteína degradada no rúmen (PDR) para crescimento microbiano e atividade fermentativa adequada.

Nessas condições, as gramíneas tropicais apresentam-se com teores de proteína bruta bastante reduzidos, inferiores a 7% base seca (Orskov, 1982), parâmetro considerado crítico para a plena atividade dos micro-organismos ruminais, contribuindo assim para uma menor digestibilidade da forragem e depressão do seu consumo voluntário.

Nesse sentido, corrigir os potenciais desbalanços proteicos nas dietas à base de forragem exclusiva (pastagem) via suplementação passa a ser de grande importância ao sistema de produção, pois, além de promover estímulo do consumo de matéria seca, geralmente melhora a digestibilidade da forragem seca, resultando no incremento do desempenho dos animais.



Já que no período seco do ano a maioria das forrageiras tropicais tem o seu conteúdo proteico reduzido, em média não ultrapassando 5% de proteína bruta na matéria seca, torna-se necessário então, para atender a exigência protéica dos animais, a sua suplementação.

A formação de bancos de proteína pode ser uma boa opção. Existem diversas leguminosas perenes que podem ser utilizadas como suplemento proteico para os ovinos, mas nesse caso é preciso realizar o manejo dos animais adequadamente, pois o excesso de proteína pode levar à perda de peso, pois os animais gastam energia para excretar o excesso de proteína, e a problemas como o timpanismo, uma vez que o consumo excessivo destas plantas pode formar espumas dentro do rúmen e impedir a ruminação dos ovinos.

Gramíneas de inverno podem ser uma opção, mas isto irá depender da condição climática da propriedade, já que essas gramíneas precisam de clima adequado (de inverno) para se estabelecerem.

A suplementação com silagem, pré-secado e feno ajudará no balanceamento das dietas para as ovelhas e cordeiros.

O sistema Rotacional Racional Tortuga (RRT) também pode ser uma ferra-menta de auxílio para o manejo das pastagens durante a seca. Como as pastagens são utilizadas de forma racional, haverá uma boa rebrota antes da seca. Ao diminuir a lotação no sistema neste período, conseguimos fornecer o volumoso (pasto), mas mesmo assim, a suplementação proteica é necessária.


O diferimento de pastagem pode ser uma estratégia para atravessar a seca, no entanto será um capim "passado" e de qualidade inferior. Nesse caso, teremos volume, não teremos qualidade nutricional e, assim, lançar mão do proteinado é uma ótima alternativa.

Para melhor esclarecer essa necessidade, pode ser realizada a seguinte ponderação, que para a maioria das situações é bem representativa.

De acordo com o NRC Ovinos 2007, a exigência em proteína bruta para a manutenção de uma ovelha é de 66 gramas por dia de proteína. A concentração dos nutrientes mencionados a seguir é sempre apresentada na base seca.

Considerando uma ovelha adulta com 50 kg de peso vivo, observa-se em média um consumo de matéria seca (em condições de pastagem seca) em torno de 1,5% de fibra em detergente neutro (FDN). Considerando também que nesse período do ano a pastagem seca apresenta 70% de FDN, observa-se então um consumo de matéria seca total de aproximadamente 1,071 kg/dia (2,15% PV). Nessa quantidade de matéria seca ingerida, para uma forragem com 5% de proteína bruta, obtêm-se uma ingestão de proteína bruta de 53,5 g/dia de proteína.

De acordo com a exigência do animal haverá, nessa situação, um déficit de 12,43 g/dia de proteína para atender a sua exigência de mantença. Tal análise sinaliza um cenário mais restritivo, quando realizado com base na quantidade de proteína que realmente é absorvida e esteja disponível ao metabolismo do animal, o que é tratado pelos nutricionistas como proteína metabolizável.

Nesse sentido, para corrigir esse déficit de proteína bruta, caso sejam oferecidos 100 g/dia de suplemento proteico para essa ovelha, apenas para corrigir o déficit proteico em relação à mantença, seriam necessários 13% - 14% de proteína bruta na formulação, e se for considerado ainda o atendimento das demais demandas produtivas exigidas pelas ovelhas (gestação, ganho de peso, lactação), seria necessário contar com um suplemento de, no mínimo, 30 % de proteína bruta.

Portanto, a suplementação para animais em pastagem deve ser considerada como uma medida técnica e economicamente interessante, permitindo otimizar a produção dos ruminantes em regiões tropicais.

A Tortuga é a empresa de nutrição animal que possui o maior número de produtos destinados à suplementação de ovinos: Ovinofós, Ovinofós com Monensina, Núcleo Ovinofós Produção, Núcleo Ovinofós Produção com Monensina e Ovinofós Seca, um proteinado exclusivo para ovinos, único do mercado.

Toda a linha de ovinos e caprinos é composta pelos minerais em forma orgânica, o que representa maior eficiência na absorção dos minerais, maior biodisponibilidade e, consequentemente, maior desempenho e saúde dos animais.

O Ovinofós Seca é um proteinado com 31,5% de proteína bruta, sendo apenas 1/3 proveniente da ureia. No entanto, pela presença da ureia na formulação, é preciso que se faça uma adaptação prévia dos animais ao iniciar o seu fornecimento.

O cocho de sal proteinado deve ser coberto, para proteger o produto da chuva e furado para que caso molhe e não acumule água, diminuindo o risco de um animal ingerir a água com a ureia diluída e se intoxicar.

Para adaptar os animais, deve-se misturar o Ovinofós Seca com Ovinofós na proporção de 1:1 pelo período de 10 dias e só então disponibilizar o Ovinofós Seca puro no cocho.

A função do Ovinofós Seca na nutrição de ovinos é a mesma dos proteinados fornecidos aos bovinos: suplementar com proteína durante o período de seca, quando as pastagens têm menor taxa de crescimento, secam e têm o seu nível de proteína bastante diminuído. E a deficiência em proteína resulta em perda de peso pelas ovelhas além e queda no desempenho reprodutivo.

Quando os ovinos recebem cana picada, o proteinado é importante, porque a proteína da ureia será metabolizada e absorvida rapidamente, assim como o açúcar da cana. Já a proteína dos farelos, que são fermentados numa taxa um pouco menor, acompanham parte da fermentação da fibra da cana. Esta associação de tempos de fermentação entre proteína e carboidratos (açúcar e fibra) é importante para a manutenção da população microbiana no rúmen, que será favorecida e melhorará a digestibilidade dos alimentos ingeridos.

O Ovinofós Seca pode também ser utilizado na recria de borregas, como já vem sendo feito por alguns produtores brasileiros. Assim, conseguimos oferecer uma suplementação proteica para animais que estão em crescimento e demandam proteína na dieta para o desenvolvimento da musculatura e tecidos corporais, mantendo a viabilidade econômica da dieta.

Portanto, atravessar bem o período da seca não é segredo. Para evitar o desgaste e morte dos animais, o que resultará em perda de eficiência econômica do sistema, a suplementação proteica é uma excelente opção, de baixo custo e ótimo benefício. Deste modo, é possível atravessar a seca obtendo lucro. Pegue lápis e papel e faça a conta.

Referências bibliográficas

COSTA, R. M. Avaliação de suplementos com proteína degradável e de escape ruminal para recria de bovinos. 2001. 47p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal. NATIONAL RESEARCH CONCIL.

Nutriente Requeriments of small ruminants. Washington, D.C.: National Academy, 2007. 362p. OSRKOV, E. R. Protein Nutrition in ruminants. London: Cambridge Academic, 1982.
SIQUEIRA, G. B. de Efeito da suplementação sobre o desempenho, ingestão voluntária e eficiência alimentar de bovinos de corte consumindo volumoso de baixa qualidade. 2001. 50p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Estadual Paulista, Ilha Solteira.

SIQUEIRA, G. B. de Ingestão de proteína para cordeiros da raça Santa Inês: Digestibilidade e desempenho. 2009. 95p. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal de Lavras, Lavras.

OPG e/ou FAMACHA? Confira a opinião dos produtores e especialistas

Um dos limitantes na produção de ovinos e caprinos é a endoparasitose. Os prejuízos causados pela verminose relacionam-se com a alta mortalidade de animais, gastos com mão-de-obra, perda de produtividade e compra frequente de medicamentos. Em março, o FarmPoint realizou uma enquete com a seguinte questão: qual problema sanitário acomete o seu rebanho de ovinos e caprinos? A maioria dos produtores (22,4%) respondeu que a enfermidade que mais acomete seus animais é a verminose.

Na semana passada, o FarmPoint realizou uma nova enquete com o objetivo de conhecer qual é o método mais utilizado pelos produtores de ovinos e/ou caprinos para controlar a verminose (OPG e/ou Famacha). Além de produtores, o FarmPoint entrou em contato com vários especialistas do setor para a concessão de opiniões sobre o assunto. A enquete teve a participação de 13 estados brasileiros (MS, SC, SP, PA, RS, PR, BA, MG, SE, CE, RJ, PB e ES).

A maioria (39,1%) dos produtores de ovinos e/ou caprinos que participaram da enquete responderam que utilizam o método FAMACHA para controlar a verminose. Em seguida, ficaram empatados em segundo lugar o exame de OPG (ovos por grama) conciliado com o método FAMACHA (26,1%) e apenas o exame de OPG (26,1%). E em último lugar, o uso de homeopatia e fitoterápicos (8,7%).

Gráfico 1 - Métodos utilizados pelos produtores.


Destaques e comentários dos leitores

Método FAMACHA

Estéfano da Mora Pereira, produtor de ovinos de Curaça/BA, comentou que utiliza o método FAMACHA. "O nosso maior gargalo é a falta de um laboratório para a realização de OPG, que acredito ser mais eficaz". Na mesma linha, Thiago Alves de Oliveira, zootecnista de Registro/SP, comentou que usa FAMACHA, porém a resistência tem sido um grande problema. "Quanto ao OPG, é impossível para nós do Vale do Ribeira, pois o único lugar que faz análise (CATI) cobra R$10,00 por amostra".

De acordo com José Alexandre Evangelista Pedrosa, produtor de ovinos de Nova Russas/CE e agente rural da Ematerce, o método FAMACHA se mostrou bastante eficaz e de fácil entendimento em relação ao OPG. "Nossa região é carente de laboratórios de análise. A nossa região, por ser bastante seca, faz com que a ocorrência de vermes ocorra no período de chuvas". Paulo Sérgio Martins Santos, produtor de ovinos e médico veterinário de Ribeirão Pires/SP, citou que também utiliza o método FAMACHA. "Vermifugo os animais que apresentam mucosa rósea bem clara, monitoro e identifico os animais sensíveis a verminose para futuro descarte. Só tenho mantido no plantel os animais mais resistentes a verminose e tenho obtido bons resultados controlando a população de vermes de forma eficiente e barata nas propriedades que atendo". 

De acordo com Cecília José Veríssimo, pesquisadora do Instituto de Zootecnia (IZ) de Nova Odessa/SP "a maior vantagem no meu ponto de vista que eu pude perceber no dia-a-dia de uma ovinocultura com cerca de 300 - 500 animais foi que com o uso do FAMACHA a cada 15 dias houve uma redução significativa da mortalidade geral. Primeiro que com o uso constante do FAMACHA você trata antes do animal apresentar aquela anemia de difícil reversão (grau FAMACHA 5), então, o animal tratado ou aqueles separados do rebanho e incluídos na baia de tratamento por causa de anemia (FAMACHA 4) dificilmente morrem e têm uma rápida recuperação só com reforço na alimentação (isso é muito importante em propriedades onde não há vermífugo eficaz, o que, hoje em dia, é muito frequente). O segundo ponto positivo (e extremamente positivo!) foi a reversão da resistência observada em relação a dois grupos de vermífugo (levamisole, em 3 anos passou de 0% de eficácia para mais de 90% e moxidectina, que em 6 anos passou de 0% a 86%). Verificou-se, mais tarde, que, enquanto o FAMACHA foi usado, o levamisole permaneceu com alta eficácia, mas, assim que todo o rebanho foi vermifugado de uma só vez a eficácia do levamisole já caiu para 50%, indicando que, quando se trata de uma cepa de vermes com resistência múltipla (resistente a tudo quanto é grupo de vermífugo), uma vez FAMACHA, sempre FAMACHA!

OPG (exame de ovos por grama)

Thales dos Anjos de Faria Vechiato, médico veterinário e coordenador técnico de Grandes Animais da Agener União Saúde Animal, de São Bernardo do Campo/SP, destaca que tanto o OPG quanto o FAMACHA auxiliam no controle da verminose. "Não acho interessante utilizar o método FAMACHA, pois é muito trabalhoso e em muitos casos inviável na prática, já que temos que mobilizar boa parte dos funcionários. Uma vez me deparei com um problema de resistência num rebanho de elite e realizei além do exame de OPG, o método FAMACHA. Por se tratar de um rebanho elite, a nutrição era fantástica no quesito proteína, e com isso o FAMACHA foi 100% negativo, mas quando fiz o OPG me deparei com quadros acima de 2 mil ovos, na maioria do rebanho. O método FAMACHA deve ser utilizado, no meu ponto de vista, como critério de seleção dos reprodutores e em rebanho pequenos, entretanto, quando se trata de animais comerciais o exame de OPG é fundamental para melhor a visão do que realmente se passa no seu rebanho".

Marcelo Spinola Vianna, produtor de ovinos e diretor de operações da Green Lamb do Brasil de Araruama/RJ, citou que realiza exame de OPG regularmente. "O FAMACHA é um termômetro interessante para alguns casos, mas nada substitui a lâmina do microscópio".

Para Carlito Nóbrega, produtor de ovinos de Presidente Prudente/SP, apesar de o exame de OPG ser caro e trabalhoso, a confiança nos resultados é maior. "Com o OPG, evito a resistência dos animais aos vermífugos. Acho importante sim sempre estar dando uma olhada na mucosa ocular dos animais quando passam pelo tronco, não custa nada e dá para compararmos com os exames laboratoriais para ver se os resultados batem". Carlos Vagas, produtor de ovinos de Santana do Livramento/RS, comentou que faz exame de OPG a cada 30 dias, pois tem lutado bastante contra o verme Haemonchus contortus. "Principalmente nesta época do ano que a quantidade de ovos aumenta muito, fiz uma coleta e o número de ovos aumentou (1900-4400) nas ovelhas prenhas com menos de 30 dias por causa da grande quantidade de chuvas nas região. Depois que comecei a fazer OPG, reduzi o custo com remédios".

OPG e FAMACHA

Segundo Marcelo Beltrão Molento, professor e pesquisador de doenças parasitárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR) de Curitiba/PR, vale usar todas as ferramentas para tentar controlar os parasitas e uma delas é abrir a cabeça dos produtores para o problema da resistência. "Um ponto que deve ficar claro é que se o método FAMACHA é "parcialmente ineficiente" é bom, pois ele obviamente será "parcialmente eficiente" e olha que não conheço um só método que prometa 100% de eficiência. Outro assunto que merece esclarecimento é que jamais seremos capazes de selecionar animais resistentes com zero de OPG e se não tivermos animais tolerantes, nunca sairemos desta sinuca. Eles são fundamentais no dia-a-dia de todas as fazendas. São os sensíveis que devem sair o quanto antes. Então, quem faz OPG nunca deve fazer média e decidir tratar o rebanho pela média e sim iniciar um programa de descarte para aquela categoria de OPG's altos. Pergunta: Quanto altos? Acima de mil, 2 mil, 3 mil, 10 mil. Resposta: tá no olho! Este é o momento de associar as duas ferramentas. Se um animal tem OPG de 2 mil e está bem, ele não sai do grupo e se um outro tem 1 mil e apresenta anemia ou papeira ele entra na lista. Ponto, já estamos ganhando do verme".

William Delaqua, médico veterinário de São Miguel Arcanjo/SP, adota nas propriedades que atende, FAMACHA de 15 em 15 dias e exame de OPG mensal, testando inclusive a eficiência dos vermífugos utilizados em cada tratamento. "Em rebanhos grandes trabalho com amostragem, salvo em surtos, onde há a necessidade de tentar individualizar os animais susceptíveis e/ou tolerantes".

Felipe Benedini, produtor de ovinos e técnico de ovinos e caprinos da Alta genetics, de Uberaba/MG, disse que com o serviço laboratorial com certeza obtém-se resultados mais precisos. Em contra partida, o custo torna-se mais alto e a viabilidade em rebanhos comerciais torna-se um limitante. "O FAMACHA é uma ferramente na qual utilizamos para reduzir custos com laboratório e consequentemente mão-de-obra. Inúmeros selecionadores o utilizam com grande sucesso e outros têm um ponto de vista que é uma técnica vaga em relação aos resultados obtidos." Na mesma linha, Denis Sabin, produtor de ovinos de Pinhão/SE citou que utiliza FAMACHA e quando os gastos com sanidade dos mês são baixos, separa animais de vários lotes, coleta as fezes e faz o exame de OPG. "Infelizmente ainda é caro para nós produtores que não temos laboratórios e dependemos de terceiros."

Cecília José Veríssimo comenta que o grau FAMACHA não tem boa correlação com o OPG. "Isto acontece porque quando se utiliza o método FAMACHA, ou seja, o controle seletivo dos animais, vermífuga-se geralmente, a cada passagem no tronco, no máximo, em torno de 30% de animais do lote. Isso resulta na possibilidade de sobrevivência de outros vermes que somem quando se vermifuga os animais frequentemente, tais como Cooperia, Oesophagostomum e Trichostrongylus. Esses vermes são menos patogênicos do que Haemonchus e produzem ovos como Haemonchus, então, no resultado do OPG, é muito difícil identificar pelos ovos esses gêneros, necessitando então do exame da coprocultura (a cultura das fezes para poder haver a eclosão das larvas que podem ser identificadas por um técnico treinado, pois as diferenças entre elas são extremamente sutis). Resumindo, OPG alto não necessariamente é sinal de perigo, pois o OPG pode estar elevado devido à presença de ovos de outros vermes que não Haemonchus, e que não são tão perigosos. Os sintomas que esses outros vermes podem apresentar é diarreia e perda de peso, pêlos arrepiados e sem brilho, sintomas facilmente identificáveis em uma ida dos animais ao tronco. Por causa disso, recomendo que, ao examinar os animais no tronco, outras condições sejam verificadas para a tomada de decisão para a vermifugação, além da mucosa, tais como: baixa condição corporal, pêlos arrepiados e sem brilho (deslanados) ou lã caindo (lanados), presença de diarreia (bunda suja!).

Homeopatia/Fitoterapia

Fábio Bitti Loureiro, médico veterinário de Aracruz/ES, acredita firmemente que o Brasil e o mundo vêm desperdiçando a oportunidade de utilizar sistematicamente a homeopatia populacional e a fitoterapia no controle de parasitoses em geral. "Hoje temos diversos laboratórios credenciados pelo MAPA com produtos que trabalham o sistema imunológico do rebanho contra endo e ectoparasitos, além de resultados de campo e teses de mestrado e doutorado demonstrando a eficiência destes medicamentos. A diferença entre o tratamento convencional e os alternativos é que a possibilidade de resistência dos parasitos aos medicamentos utilizados é praticamente inexistente. Considerando-se que segundo a Associação de Médicos Veterinários Homeopatas do Brasil (www.amvh.org.br) 11% do rebanho brasileiro bovino é tratado com homeopatias, está na hora de se dar atenção a esta tecnologia de uma forma séria e sem preconceitos".

De acordo com Lucia Mabel Saavedra Bousses, produtora de ovinos de Campo Alegre/SC, o uso do método FAMACHA + OPG + alho, neem, araçá e araucária tem sido excelentes ferramentas no criatório orgânico. "Por não utilizarmos vermífugos convencionais, ovinos com FAMACHA 2-3 são submetidos a tratamento homeopático/fitoterápico visando evitar maiores complicações".

Outras opiniões

Pedro Nacib Jorge Neto, produtor de ovinos e médico veterinário da AllStock do Brasil Genética Ltda., aposta no melhoramento genético e biotecnologias. "O método FAMACHA é parcialmente ineficiente, pois o mesmo avalia o animal individualmente e um animal que estiver ok não significa que não possua vermes e pior, pode ser um animal tolerante à verminose e esteja contaminando o ambiente e, consequentemente, outros animais. Este método deve ser usado com certa precaução, pois podemos estar selecionando animais tolerantes à verminose, o que no ponto de vista zootécnico não é interessante. O correto é selecionarmos animais resistentes. Além disso, este método pode dar falso negativo, pois o método FAMACHA pontua a coloração da conjuntiva, que dá em pontuação o grau de anemia, que está associada entre outras causas ao Haemonchus contortus. Porém anemia pode ser causada por diversos outros fatores como Fasciola hepatica, infecção por Mycoplasma ovis, deficiência de cobre ou molibdênio. Ou seja, para ter certeza do diagnóstico via FAMACHA, devemos desconsiderar todas outras possíveis causas de anemia. Lembrando também que FAMACHA é ineficiente para Ostertagia circumcincta e Trichostrongylus. Para o futuro bem próximo acredito no melhoramento genético + biotecnologias. 

Melhoramento Genético: seleção de animais resistentes (e não tolerantes) a verminose. Já fazem isso na Austrália e os resultados são ótimos.

Biotecnologias: Atualmente, a mais próxima da realidade é a utilização de fungos nematófagos que são administrados via oral e saem nas fezes, parasitando então as larvas no pasto. Não existe até hoje no mercado pela dificuldade de produção em larga escala, porém recentemente, a BIOCAMP, laboratório hoje líder no mercado nacional de exclusor competitivo de flora múltipla para avicultura, já conseguiu eficiência na produção em larga escala, já possuindo partidas em testes a campo para liberação do produto junto ao MAPA. Em teste in vitro com partidas produzidas obteve-se em 7 dias de tratamento, redução de 72,5% de larvas em relação ao controle.

Diagnóstico da artrite encefalite-caprina por RT-nested PCR



Lúcia Helena Sider
Médica Veterinária, Doutora em Reprodução Animal e Pesquisadora da Embrapa Caprinos e Ovinos

Encerrou-se em maio de 2010 mais um projeto de pesquisa sobre metodologias diagnósticas para o controle da Artrite-Encefalite Caprina (CAE - do inglês "caprine arthritis-encephalitis), conduzido na Embrapa Caprinos e Ovinos, em Sobral, Ceará. O projeto, liderado pela pesquisadora Lucia Helena Sider, visou, entre outros objetivos, o desenvolvimento da técnica de RT-nested PCR para o diagnóstico precoce do vírus causador da doença (CAEV). 


Esta é uma variação da conhecida técnica de PCR ("polymerase chain reaction'), que permite a amplificação do número de cópias de DNA para o qual possa ser visualizado em eletroforese em gel de agarose. A reação é também chamada "nested" (aninhado), pois duas reações de PCR são feitas uma após a outra, aumentando assim o poder de detecção. Além disso, é RT ("reverse transcription") porque parte-se de RNA ao invés de DNA, já que o genoma do CAEV é formado por RNA.

O RT-nested PCR vem reforçar a aplicação de uma técnica desenvolvida pela pesquisadora Alice Andrioli em 2001, o nested-PCR. Essa técnica não detecta o RNA genômico e sim o DNA proviral (provirus), produzido a partir do RNA genômico pela enzima transcriptase reversa e que se integra ao genoma do hospedeiro pela ação da enzima integrase. Sendo o provirus DNA, a sua detecção é mais fácil, já que a molécula de DNA é mais estável que o RNA e não sofre ação tão intensa de nucleases, que o degradam. A instabilidade e a degradação são os principais problemas que cercam os procedimentos que utilizam RNA. Por isso, o desenvolvimento do RT-nested PCR aplicado ao diagnóstico da CAE quebrou uma enorme barreira técnica.

Além disso, esta técnica foi testada em animais soropositivos para a CAE nas mais diversas amostras clínicas e reprodutivas, a saber: sangue, leite, líquido sinovial, líquor, sêmen, embrião, ovócitos, folículos ovarianos, fluido uterino e líquido folicular. Em todas essas amostras, foi possível a detecção do RNA genômico. As coletas foram coordenadas pelos pesquisadores Raymundo Rizaldo Pinheiro e Alice Andrioli. Para a padronização do processamento dessas amostras, o grupo da Embrapa Caprinos e Ovinos teve a colaboração da professora Ana Paula Ravazzolo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e do pesquisador Maurício Machaim Franco, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnolocia, cujas ideias foram essenciais para transpor as dificuldades iniciais com líquido sinovial e líquor, e sêmen, respectivamente. 

Os experimentos foram conduzidos na sua maior parte na própria Embrapa Caprinos e Ovinos, mas também no Núcleo de Biotecnologia de Sobral, coordenado pelo professor Rodrigo Maranguape Silva da Cunha, da Universidade Estadual Vale do Acaraú. Merece destaque a participação de alguns alunos de graduação e pós-graduação da Universidade Estadual Vale do Acaraú, sem os quais o projeto seria inexequível.

O grande potencial de técnicas moleculares como o RT-nested PCR age no diagnóstico precoce da doença, pois permite a detecção do RNA genômico que se encontra no vírus no momento em que ele infecta o hospedeiro. Em contrapartida, os testes sorológicos, que ainda hoje são os mais difundidos, detectam os anticorpos produzidos pelo hospedeiro em resposta à infecção viral, o que demora certo tempo para acontecer.

Embora promissoras, as técnicas moleculares ainda são caras e, por serem reações do tipo nested, ainda demoram pelo menos dois dias para produzir resultados. Enquanto os custos não se amortizam, o teste de RT-nested PCR é útil na avaliação de animais que já apresentam sintomatologia clínica suspeita, como, por exemplo, cabritos que mamaram em fêmeas soropositivas e que apresentam sintomatologia nervosa, ou animais apresentando aumento de volume de articulações (artrite).

Para se concretizar como método de diagnóstico confiável, o RT-nested PCR, em conjunto com o nested PCR, serão validados em seguida por uma ação liderada pela pesquisadora Alice Andrioli. Essa ação é pertencente a um grande projeto componente coordenado pela Embrapa Tabuleiros Costeiros e que tem como nome síntese "Validatec".