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sexta-feira, 24 de junho de 2011

Estudo investiga relação entre o uso de antipsicóticos e dependência química

Elena Mandarim
Divulgação/Uenf 
 A pesquisadora da Uenf Marinete Pinheiro Carrera (E) e sua bolsista de Iniciação Científica, Flávia Regina Dias 
A esquizofrenia, que atinge cerca de 1% da população mundial, caracteriza-se por uma grave desestruturação psíquica, em que a pessoa apresenta dificuldades para distinguir pensamentos reais de fictícios, como delírios e alucinações. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença está entre as principais causas de perda da qualidade de vida de pessoas entre 15 e 44 anos. Marinete Pinheiro Carrera, professora da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), acredita haver uma relação entre esquizofrenia e dependência química, e desenvolve, com recursos da FAPERJ, um estudo que busca entendê-la. Segundo a pesquisadora, o projeto partiu da observação de que cerca de 60% dos pacientes esquizofrênicos, durante ou após o tratamento, se tornam dependentes de drogas, como a cocaína e a anfetamina. “Nossos resultados preliminares sugerem que a administração prolongada de alguns antipsicóticos usados no tratamento da esquizofrenia leva à supersensibilização dos receptores de dopamina, favorecendo a sensibilização comportamental, que está ligada ao início e à permanência da dependência química”, diz.

Marinete explica que a hipótese de uma relação entre esquizofrenia e dependência química surgiu ao perceber que os dois processos atuam no sistema da dopamina – um neurotransmissor que funciona em diferentes vias cerebrais. Em doses normais, a dopamina promove sensação de prazer e sensação de motivação. Já o aumento ou uma redução em sua concentração podem levar, respectivamente, ao desenvolvimento de manias e à depressão. “O abuso de drogas aumentam a concentração de dopamina no cérebro. Enquanto a esquizofrenia está associada a um desequilíbrio das concentrações desse neurotransmissor, em suas diferentes vias”, prossegue. 

Para a pesquisadora, a questão seria entender se essa relação está ligada à doença em si ou aos antipsicóticos usados no seu tratamento, visto que estes também interferem no sistema dopaminérgico. Formada em Farmácia, com mestrado e doutorado na área de fármacos aplicados à psicobiologia, pela Universidade de São Paulo (USP), Marinete explica que os antipsicóticos atuam como bloqueadores de receptores de dopamina. Contudo, quando utilizados por longo período, o organismo, para compensar o bloqueio, aumenta a sensibilidade dos receptores (supersensibilização), que passam a ter maior capacidade para se ligar à dopamina.

“Esse processo, uma vez desenvolvido, deixaria o cérebro mais sensível à ação da dopamina e é sabido que as drogas atuam exacerbando a ação dopaminérgica no sistema nervoso central, o que provoca a sensibilização comportamental. Este fenômeno, que é caracterizado pelo aumento progressivo dos efeitos da droga quando a mesma dose é administrada repetidamente, está ligado ao início e à permanência da dependência química. Então, nossa conclusão é que a supersensibilização dos receptores de dopamina favorece o desenvolvimento da sensibilização comportamental, o que faria com que um paciente com esquizofrenia, em tratamento ou após o tratamento, fique predisposto a se tornar dependente químico, caso faça uso de alguma droga”, explica Marinete.

O objetivo do projeto, segundo a pesquisadora, é verificar se dois dos antipsicóticos usados no tratamento da esquizofrenia, haloperidol e olanzapina, geram supersensibilização dos receptores de dopamina. Para isso, quatro grupos de ratos receberam diferentes doses, alta e baixa, desses fármacos, por 10 dias, o que representa um tratamento prolongado. Após um período sem nenhum tratamento, todos os animais foram submetidos a uma administração crônica com apomorfina. “Essa substância simula os efeitos das drogas, como euforia e inquietude, e atua nos mesmos receptores no organismo. Além disso, também, produz a sensibilização comportamental”, afirma.

Marinete conta que as análises foram feitas a partir das observações da atividade locomotora e do comportamento dos animais. Isso significa que quando os ratos apresentam mudanças bruscas de comportamento e intensa locomoção, pode-se concluir que houve supersensibilização dos receptores de dopamina e houve desenvolvimento de sensibilização comportamental.

“Nossos resultados mostram que a administração com doses, alta e baixa, de haloperidol gerou supersensibilização dos receptores de dopamina, sendo observado também o desenvolvimento da sensibilização comportamental. Já com a olanzapina, não obtivemos resultados significativos, o que demonstra pouco ou nenhum desenvolvimento tanto da supersensibilização dos receptores quanto da sensibilização comportamental”, relata a pesquisadora, ressaltando que o trabalho está sendo realizado com a participação de Flávia Regina Cruz Dias, bolsista de Treinamento e Capacitação Técnica (TCT), da FAPERJ, e com a colaboração do doutor Robert Carey, da State University of New York (Suny).

Cuidados especiais com a esquizofrenia

Para Marinete, apesar do impacto econômico, a esquizofrenia ainda é pouco conhecida pela sociedade, sempre cercada de muitos tabus e preconceitos. A teoria mais aceita para explicar as suas causas reúne fatores genéticos e ambientais. O paciente já teria genes predispostos a desenvolver a doença, que seriam ativados por condições e experiências de seu ambiente.

Entre os sintomas mais comuns estão alucinações, manias de perseguição e de conspiração, delírios, depressão e dificuldades de relacionamento social. A esquizofrenia não tem cura, mas com os cuidados adequados a pessoa pode se recuperar e voltar a viver uma vida normal.

O tratamento é feito não só por medicamento como também com psicoterapia e terapias ocupacionais. É muito importante que haja a conscientização da família que, por absorver a maior parte das tensões geradas pela doença, precisa conhecer e saber lidar com o paciente.

Marinete ressalta que os antipsicóticos representam um grande avanço no tratamento da esquizofrenia, com redução das internações psiquiátricas e melhor integração dos pacientes à sociedade. “Com o nosso estudo, não pretendemos condenar nenhum medicamento. Estamos, apenas, alertando para o uso consciente, o que deve ser feito com todo e qualquer medicamento”, conclui.

BOLETIM INFORMATIVO ABRASCO


Seminário Preparatório para a Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde
O presidente da ABRASCO, Luiz Augusto Facchini, participará do Seminário Preparatório para a Conferência Mundial sobre Determinantes Sociais da Saúde (CMDSS 2011), na sessão "O papel do setor saúde na promoção da equidade", no próximo dia 05 de agosto. O evento será realizado na Escola de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) e a sessão de abertura contará com a presença do Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, do Presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha e do Representante da OPAS/OMS no Brasil, Diego Victoria. Veja mais detalhes sobre o eventoaqui.


Vice-presidente da ABRASCO participa de curso de formação no Instituto Nacional de Saúde Pública do Quebec
O vice-presidente da ABRASCO, Kenneth Rochel de Camargo, foi convidado participar do curso  Formation, évaluation et vie médicale, no Instituto Nacional de Saúde Pública do Quebec (INSPQ), ministrando a aula "História e democratização do sistema público de saúde do Brasil: questões-chave", amanhã, dia 23 de junho. A proposta do encontro é falar sobre o contexto histórico em que surgiu o Sistema Único de Saúde  e discutir a influência da situação política do país sobre o nascimento e a evolução do SUS.


Vice-presidentes da ABRASCO participam de reunião plenária do Conselho Federal de Medicina
O Conselho Nacional de Saúde (CNS) confirmou em sua 222ª Reunião Ordinária (RO), no dia 09 de junho, em Brasília, que as entidades médicas nacionais voltarão a ter assento naquele fórum de controle social.  A decisão pode colocar fim ao período em que os médicos não participaram dos debates sobre políticas públicas voltadas para a assistência da população brasileira. A notícia foi dada por Luís Eugênio Portela e Lígia Bahia, vice-presidentes da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO), durante a reunião plenária do Conselho Federal de Medicina (CFM). Na visita ao CFM, os vice-presidentes da ABRASCO chamaram a atenção para a encruzilhada na qual o SUS se encontra. “Estamos muito preocupados, pois percebemos que os avanços econômicos anunciados não se traduzem, necessariamente, em extensão de melhorias às políticas de saúde”, afirmou Lígia Bahia. Na avaliação de Luís Eugênio Portela, a aproximação entre a ABRASCO e o CFM permitirá o enriquecimento do debate sobre questões chaves para o SUS. Inclusive, ele ressaltou que se abre uma janela para ampliação do envolvimento dos Conselhos de Medicina no processo que culminará na 14ª Conferência Nacional de Saúde, prevista para dezembro de 2011. Mais detalhes aqui.


Vice-presidente da ABRASCO participa de apresentação sobre o cenário atual da saúde no Brasil no CNS
A vice-presidente da ABRASCO, Lígia Bahia, participou da apresentação "A Situação da Saúde no Brasil", no dia 08 de junho, na 222ª Reunião Ordinária (RO) do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Durante sua intervenção, Lígia afirmou que para analisar a situação da saúde no Brasil deve-se modificar, inicialmente, o padrão seletivo utilizado nos dias de hoje, que limita as ações sociais e o acesso dos segmentos mais pobres da população. Para ela é necessário adotar o padrão inclusivo, fundamentado em programas sociais universalistas que contribuam para o aprofundamento da democracia. “Na nossa agenda está a ampliação da oferta, a fixação de profissionais, o cartão SUS, a rede exclusiva para o SUS, hospitais universitários, eliminação dos subsídios e deduções fiscais para o setor privado, regulação do ciclo de inovação, a regulamentação da Emenda Constitucional n.29 mais o aumento dos recursos para a saúde. Não queremos um SUS de pobre para pobre, queremos o SUS porque desejamos uma sociedade mais igualitária”, enfatizou. Mais informações aqui.


Solução ou Problema?
Antônio Ivo de Carvalho, Conselheiro da ABRASCO e Diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), publicou o artigo "Solução ou Problema?" junto com o Francisco Paumgartten, membro da Câmara Técnica de Medicamentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e professor da ENSP, defendendo a proibição da venda de anorexígenos no Brasil. No texto, publicado no dia 16 de junho, no Jornal O Globo, os autores afirmam que a retirada de medicamentos do mercado por decisão da autoridade sanitária causa prejuízos financeiros a alguns setores e interfere com hábitos de prescrição. "Tratando-se de tema sensível como o tratamento da obesidade, e mercado tão lucrativo como o de inibidores do apetite, o acalorado debate sobre o cancelamento do registro desses medicamentos era esperado. (...) A obesidade deve ser tratada não só por médicos, como também por nutricionistas, professores de educação física e psicólogos. A prevenção e o tratamento da obesidade são um dos mais sérios desafios a serem enfrentado nos próximos anos. Os medicamentos ineficazes e perigosos são parte do problema, e não a solução". Confira o texto na íntegra aqui.


Countdown to 2015: incluindo a equidade na agenda global da saúde infantil
Cesar Victora, presidente eleito  da Associação Internacional de Epidemiologia (IEA) e docente do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (Epidemio-UFPel), ministrará a palestra "Countdown to 2015: incluindo a equidade na agenda global da saúde infantil", a convite do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS/UERJ)no próximo dia 28 de junho, das 10h30 às 12h00, via internet. Para requisitar o link de acesso à webconferência, textos de apoio, ou obter maiores informações escreva paraandreialuzprosaude@gmail.com. Conheça o site Countdown to 2015 - Maternal, newborn & Child Survival clicando aqui.


Universidade Federal de Pelotas prorroga inscrições para o Curso de Especialização em Saúde da Família
O Curso de especialização em Saúde da Família, oferecido pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), prorrogou o prazo de inscrição até 27 de junho e agora aceita candidatos de todo o país. Coordenado pelo Departamento de Medicina Social em parceria com as Faculdades de Enfermagem e Odontologia, o curso funciona na modalidade à distância e conta com financiamento do Ministério da Saúde através da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde (SGTES). Coordenado pelos pesquisadores Luiz Augusto Facchini (presidente da ABRASCO) e Anaclaudia Gastal Fassa, do Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel, a iniciativa tem como objetivo capacitar profissionais de saúde da família do SUS promovendo o aprimoramento da gestão e da organização dos serviços de Atenção Primária à Saúde, a qualificação da prática clínica, a institucionalização da avaliação e monitoramento em saúde, a cidadania e a participação social. Mais informações estão disponíveis no site do curso ou Departamento de Medicina Social da UFPel, no telefone (53) 3309.2400. Assista o vídeo de apresentação do curso clicando aqui.


USP lança Curso de Graduação em Saúde Pública da USP
A Universidade de São Paulo (USP) está oferecendo 40 vagas para seu novo curso de graduação em Saúde Pública no vesbular 2011. O início do curso será em 2012, no período vespertino, terá duração de oito semestres e o egresso receberá o Grau de Bacharel em Saúde Pública. O profissional formado neste curso poderá atuar em análise de situação de saúde; gestão de sistemas e serviços de saúde; vigilância epidemiológica; vigilância sanitária; vigilância em saúde ambiental e saúde do trabalhador; educação em saúde; promoção da saúde, dentre outras atividades. Há boas perspectivas no setor público para atuar na formulação de políticas sociais de saúde e também na gestão de órgãos de saúde públicos e privados. O sistema suplementar, que engloba empresas de seguro - saúde e organizações médicas, instituições de meio ambiente e de saneamento e terceiro setor também devem absorver esse bacharel. O ingresso no curso de graduação em Saúde Pública se dá mediante processo seletivo realizado anualmente pela FUVEST. Veja mais informações sobre o Curso aqui.


XXVII Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde prorroga prazo de inscrição
As inscrições para o XXVII Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e o VII Congresso Brasileiro de Saúde, Cultura de Paz e Não- Violência foram prorrogadas até o dia 27 de junho. Promovido pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde do Distrito Federal, Organização Pan-Americana (OPAS) e o Ministério da Saúde, o Congresso será realizado de 09 a 12 de julho, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, em Brasília. Com o tema Saúde no Centro da Agenda de Desenvolvimento do Brasil: Ampliação e Qualificação do Acesso do Cidadão ao SUS, o XVII Congresso tem como objetivo promover a discussão e troca de experiências entre os participantes, discutir as políticas de saúde adotadas pelas esferas federal, estaduais e municipais e o respectivo impacto nos municípios, além de troca de experiências, promovendo o aperfeiçoamento da gestão do SUS e os serviços prestados à população brasileira. O evento reunirá aproximadamente 6 mil secretários municipais de saúde, gestores, rabalhadores e usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) de todo o Brasil. As inscrições só podem ser feitas na página eletrônica do órgão: http://congresso.conasems.org.br.


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