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quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Terminação de ovinos em pastagem com e sem creep: custo e lucro



Alda Lúcia Gomes Monteiro
Professora Depto Zootecnia UFPR

Carina Simionato de Barros
Médica veterinária, Doutoranda FMVZ-USP

Maria Angela Machado Fernandes
Médica Veterinária e Mestre em Ciências Veterinárias
Neste mês vamos voltar a falar de custo de produção de ovinos com um estudo que foi realizado no rebanho de ovelhas Suffolk do Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos (LAPOC-UFPR) localizado na região metropolitana de Curitiba, em Pinhais/PR.

Nosso objetivo foi avaliar o custo de produção com a terminação de cordeiros ao pé da mãe em pastagem com e sem o uso de creep feeding em um módulo de 150 ovelhas.

O manejo para todo o rebanho foi praticamente igual em todo o período avaliado, que compreendeu um ano. A única mudança foi no fornecimento ou não do concentrado em creep feeding no momento da terminação. Nesse sistema, os cordeiros eram alimentados duas vezes ao dia com um concentrado de 20% de proteína bruta na matéria seca. A quantidade ofertada foi de 1% do peso dos cordeiros, sendo ajustada conforme as pesagens dos animais.

A pastagem utilizada foi Cynodon spp. cultivar Tifton 85 (Tifton 85) sobressemeada com Lolium multiflorum (azevém) no inverno, em área de 9 hectares de pastagem (150 ovelhas/9 ha). Todos os animais tinham à disposição sal mineralizado para ovinos e água à vontade. As ovelhas foram suplementadas na época do vazio forrageiro com silagem pré-secada de milho e antes da monta com concentrado (flushing). Realizou-se uma estação de monta no ano. A Figura 1 representa a matéria seca disponível na pastagem durante a fase de terminação dos cordeiros.

Figura 1 - matéria seca disponível na pastagem durante a fase de terminação dos cordeiros.


Clique na imagem para ampliá-la.

Os preços utilizados nos cálculos foram obtidos na SEAB (SEAB-PR, 2010) ou por orçamentos em fevereiro de 2010.

Os componentes do custo variável foram:

- gastos com alimentação;
- sanidade;
- pastagem;
- energia elétrica;
- impostos;
- conservação e reparos (benfeitorias, máquinas e equipamentos);
- juros sobre capital de giro.

O custo fixo foi composto pela soma de:

- gasto com mão-de-obra;
- depreciação (benfeitorias, máquinas e equipamentos, pastagem);
- custo de oportunidade do capital investido em benfeitorias, rebanho, máquinas e equipamentos.

Como custo operacional considerou-se o custo total (custo fixo + custo variável) menos o custo de oportunidade.

A receita total foi composta pela venda de animais para abate no preço de R$ 3,50 o kg do animal vivo, venda de fêmeas e machos para reprodução e animais descarte. 

Os cálculos foram realizados por meio do programa Custare (BARROS et al., 2009) com metodologia citada em Barros (2008), cuja metodologia já foi apresentada em artigos anteriores. Com os dados obtidos montou-se a Tabela 1 e Figura 1. Observe no Gráfico 1 a distribuição dos custos conforme os itens.

Figura 1 - Composição do custo total de produção.



Tabela 1 - Resultado anual de sistemas de terminação de cordeiros.



O custo variável dos sistemas apresentou pequena diferença. Essa pode ser explicada por alguns itens:

Gasto com alimentação - a diferença de valor observada (R$ 555,74) maior no creep deveu-se somente ao uso do concentrado para os cordeiros.

Custo de conservação e reparos - um pouco maior no creep devido à conservação e reparos das instalações que ficavam no pasto para ofertar a dieta dos cordeiros.

Com relação ao gasto com anti-helmínticos, não houve diferença significativa entre esses sistemas. Os cordeiros sem suplementação receberam 1,91 doses de anti-helmínticos durante a terminação, enquanto os do creep receberam 1,92.

O mesmo número de animais foi terminado em ambos os sistemas, pois a mortalidade foi de 3% em ambos os casos.

O custo fixo diferiu entre os sistemas devido:

- à depreciação das instalações do creep;
- ao custo de oportunidade do capital investido que também foi maior quando houve creep. Como esse custo é baixo, a diferença foi mínima.

Mesmo havendo pouca diferença, ao avaliar o lucro nota-se que esse foi maior para os cordeiros que não receberam suplementação em creep. Isso porque o desempenho dos cordeiros não diferiu estatisticamente (P>0,05) entre os sistemas, mas o creep teve um custo a mais da suplementação. 

Tabela 2 - Desempenho de cordeiros nos sistemas de terminação.



O creep feeding não apresentou efeito na melhoria do desempenho, e consequentemente, do resultado econômico. Isso deve-se, provavelmente, ao fato de haver pastagem de boa qualidade e alta oferta aos animais, portanto o acréscimo do concentrado não representou grande mudança na dieta. E segundo, pelo fato dos sistemas de terminação terem iniciado aos 60 dias de idade dos cordeiros. Sabe-se que o creep feeding apresenta efeitos benéficos como já foi relatado por diversos autores em situações diferentes da presente pesquisa. No entanto, por motivos operacionais da instituição da pesquisa, não foi possível iniciar o experimento mais precocemente.

Observou-se que houve lucro, mesmo remunerando todos os itens componentes do custo de produção, entretanto, esse foi pequeno, menos de mil reais em um ano. Ressalta-se que esse índices foram obtidos nas condições ambientais específicas, no modelo descrito e desenvolvido no LAPOC-UFPR. 

Referências bibliográficas

BARROS, C. S. Análise econômica de sistemas de produção de ovinos para carne. 2008. 144p. Disertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) Universidade Federal do Paraná, Curitiba. 

BARROS, C. S.; MONTEIRO, A. L. G.; PRADO, O. R. Custare. 2009. 1 CD-ROM.

SEAB-PR. Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná: Preços pagos pelo produtor, trimestre: fevereiro-2010. Disponível em: Acesso em: 08/04/2010.