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sexta-feira, 30 de março de 2012

Cérebro possui estruturas perfeitamente geométricas

Vias cerebrais

Cientistas usaram uma tecnologia chamada ressonância magnética por difusão para "limpar" o cérebro, mostrando vias neurais nunca antes vistas.

As novas imagens revelam que as vias do cérebro se estruturam como um grande sistema viário, altamente ordenado, composto por três níveis.

O que é mais impressionante é que o tecido segue um desenho absolutamente geométrico, sem curvas ou nem mesmo diagonais.

Esta estrutura de grade representa um sistema de coordenadas natural, uma nova maneira que permitirá "ler" o cérebro como se ele fosse um mapa, atribuindo-se, por exemplo, códigos às vias e aos seus cruzamentos e níveis.
O cérebro possui vias semelhantes aos fios de um tecido, seguindo um desenho absolutamente geométrico, sem curvas ou nem mesmo diagonais. 

Análise do cérebro

Os resultados criam um quadro totalmente novo para a análise do cérebro.

Por exemplo, os cientistas poderão usar esse sistema de coordenadas para identificar diferenças entre cérebros saudáveis e cérebros doentes.

O cérebro é constituído por dois tipos de tecidos, a massa cinzenta, composta por células nervosas com funções específicas, e a substância branca, que consiste em fibras longas de interligação, que funcionam como fios de ligação.

As formas e as trajetórias desses "fios" - onde e como eles se cruzam e se reúnem em suas rotas - tem sido considerado complexo e difícil de entender.
Mesmo a curvatura do cérebro não consegue esconder a estrutura tridimensional surpreendentemente simples. 

Tecido cerebral

Agora, Van Wedeen e seus colegas do Hospital Geral de Massachusetts mostraram que essas células de conexão são organizadas de forma surpreendentemente simples.

Basicamente, todas as rotas do cérebro formam componentes de uma única rede de tecido tridimensional, como um pano altamente curvado - dando um novo sentido à expressão "tecido cerebral".

O que os neurocientistas acreditavam serem caminhos isolados são na verdade formas tridimensionais compostas da mesma estrutura contínua similar a um tecido.
Vírus da dengue torna mosquito mais faminto
A ilustração mostra a presença do vírus da dengue no sistema sensorial do mosquito (antenas e palpos) e nos órgãos de alimentação (probóscide).

Vírus que controla genes

Quando o mosquito Aedes aegypti é infectado com o vírus da dengue, o vírus induz alterações genéticas que aumentam sua fome e sua capacidade de se alimentar.

Segundo os cientistas da Universidade Johns Hopkins (EUA), que fizeram a descoberta, isso torna o pernilongo mais propenso a espalhar a doença para os seres humanos.

Especificamente, eles descobriram que a infecção do vírus da dengue na glândula salivar do mosquito desencadeia uma resposta que envolve genes de três grupos: do sistema imunológico do inseto, do seu comportamento alimentar e da capacidade do mosquito para sentir odores.

Mosquito faminto

"Nosso estudo mostra que o vírus da dengue infecta os órgãos do mosquito, as glândulas salivares e as antenas, que são essenciais para encontrar e se alimentar [do sangue] de um hospedeiro humano," explicou George Dimopoulus, orientador do estudo.

Esta infecção "liga" genes associados à produção de proteínas que ajudam o animal a detectar odores.

"O vírus pode, portanto, melhorar a capacidade do mosquito em procurar hospedeiros, e pode - pelo menos teoricamente - aumentar a eficiência de transmissão [do vírus], embora nós ainda não compreendamos totalmente as relações entre a eficiência na alimentação e a transmissão do vírus.

"Em outras palavras, um mosquito faminto com uma melhor capacidade para encontrar o alimento tem maior probabilidade de propagar o vírus da dengue," completou o pesquisador.

Genes influenciados pelo vírus

O estudo revelou que a infecção pelo vírus da dengue influencia 147 genes que atuam em vários processos, incluindo a transmissão do vírus, a imunidade, a alimentação por sangue e a busca de hospedeiros.

Análises subsequentes mostraram que silenciar - ou "desligar" - dois genes ligados à sensação de odores resulta na normalização da capacidade do mosquito em localizar novas fontes de alimentação.

"Demonstramos pela primeira vez que um patógeno humano pode modular genes relacionados com a alimentação e com o comportamento do seu mosquito vetor, e o impacto disso sobre a transmissão da doença pode ser significativo," disse Dimopoulos.

Descobertas novas informações escondidas no DNA


Mutações silenciosas
Cientistas demonstraram que uma camada do DNA que vem sendo considerada como redundante há mais de meio século, na verdade contém informações genéticas essenciais.
Jonathan Weissman e seus colegas da Universidade da Califórnia, em São Francisco, usaram uma nova técnica que traça um perfil dos ribossomos, permitindo a mensuração da atividade genética no interior de células vivas.
Essa medição inclui a velocidade com a qual as proteínas são feitas.
Ao medir a taxa de produção de proteínas em bactérias, a equipe descobriu que alterações genéticas ligeiramente diferentes podem ter efeitos dramáticos.
Isto se mostrou verdadeiro até mesmo para mudanças genéticas aparentemente insignificantes, conhecidas como "mutações silenciosas", que trocam uma única letra do DNA, sem alterar o gene resultante.
Para sua surpresa, os cientistas descobriram que essas mudanças podem atrasar o processo de produção de proteínas a um décimo, ou até menos, de sua velocidade normal.
Códons redundantes
A mudança na velocidade de produção das proteínas é causada por informações contidas naquilo que é conhecido hoje como "códons redundantes" - pequenos pedaços de DNA que fazem parte do código genético.
Eles foram chamados de "redundantes" porque se acreditava que continham duplicações do código genético, e não instruções específicas.
Esta nova descoberta desafia meio século de pressupostos fundamentais da biologia.
E também poderá ajudar a acelerar a produção industrial de proteínas, que é crucial para a fabricação de biocombustíveis e medicamentos biológicos utilizados para o tratamento de muitas doenças, do diabetes ao câncer.
"Acreditava-se que o código genético fosse redundante, mas códons redundantes claramente não são idênticos," disse Weissman.
"Nós [ainda] não entendemos muito sobre as regras," acrescentou o pesquisador, mas o novo trabalho sugere que a natureza seleciona entre os códons redundantes com base na velocidade genética, assim como no significado genético.
Esta é a terceira descoberta envolvendo novos níveis de informação no DNA nos últimos anos:
Códons do DNA
Toda a vida na Terra baseia-se no armazenamento de informação genética no DNA (ou, no caso de alguns vírus, no RNA), e na expressão desse DNA em proteínas para construir os componentes das células e executar as instruções genéticas de todas as formas de vida.
Cada célula viva, em cada tecido, dentro de cada organismo na Terra, está constantemente expressando genes e traduzindo-os em proteínas, desde o nascimento até o fim da vida. Uma quantidade significativa da energia que queimamos é destinada a alimentar esse processo fundamental.
O código genético é basicamente um conjunto universal de instruções para traduzir o DNA em proteínas.
Os genes do DNA são compostos de quatro tipos de moléculas, conhecidas como bases ou nucleotídeos (representados pelas quatro letras A, G, T e C).
Mas as proteínas são sequências de 20 tipos diferentes de aminoácidos.
Para codificar todos os 20 aminoácidos, o código genético convoca genes a serem expressos pela leitura de grupos de três letras de DNA de cada vez, para cada aminoácido em uma proteína.
Esses trios de letras do DNA são chamados códons.
Mas, como existem 64 formas possíveis de organizar três bases de DNA juntas - e apenas 20 aminoácidos utilizados pela vida - o número de códons excede a demanda. Assim, vários destes 64 códons codificam para o mesmo aminoácido.
Os cientistas têm considerado isto uma redundância nos últimos 50 anos.
Mais recentemente, contudo, conforme mais e mais genomas das mais diversas criaturas são decodificados, os cientistas começaram a verificar que nem todos os códons "redundantes" são iguais.
Muitos organismos têm uma preferência clara para um tipo de códon em relação a outra, embora o resultado final seja o mesmo.
Isto levou à pergunta que esta nova pesquisa agora respondeu: se códons redundantes fazem a mesma coisa, por que a natureza prefere um em vez do outro?
Câncer pode ser evitado se a sociedade quiser

Colocar em prática

Mais da metade de todos os cânceres são evitáveis, e a sociedade já tem todo o conhecimento necessário para agir de acordo com esta informação.

É isto o que garante Graham Colditz e seus colegas da Universidade de Washington (EUA) em um artigo publicado nesta quarta-feira pela revista Science Translational Medicine.

Em um artigo de revisão - que reavalia todas as pesquisas de uma determinada área - a equipe descreve os obstáculos que impedem uma reviravolta na incidência do câncer no mundo todo.

"Na verdade, temos uma enorme quantidade de dados sobre as causas e a possibilidade de prevenção do câncer. Está na hora de fazermos um investimento para implementar o que sabemos," escrevem eles.

Epidemia de câncer

O que sabemos, de acordo com os cientistas, é que as escolhas de estilo de vida que as pessoas fazem, e que a sociedade pode influenciar de várias maneiras - desde o uso dotabaco, à dieta e aos exercícios físicos - desempenham um papel importante como causa do câncer.

Os pesquisadores citam dados que demonstram que somente o fumo é responsável por um terço de todos os casos de câncer nos Estados Unidos, com números ainda maiores em muitos países mais pobres.

O excesso de peso e a obesidade respondem por outros 20 por cento.

Mas, além dos hábitos individuais, os cientistas argumentam que a estrutura da própria sociedade - do financiamento das pesquisas médicas e do projeto das construções, até os subsídios alimentares - influencia a extensão da "epidemia" de câncer, e pode ser alterada para reduzi-la.

Estratégias para prevenção do câncer

Os obstáculos que eles veem para a implementação de estratégias de prevenção do câncer são:
  • O ceticismo quanto ao fato de que o câncer pode ser evitado - por exemplo, com a eliminação do tabagismo.
  • O foco de curto prazo das pesquisa sobre o câncer, subestimando os benefícios da prevenção.
  • Concentração dos esforços para prevenir o câncer nas pessoas mais velhas, quando, como no caso do HPV, o ideal é começar a agir antes do início da vida sexual dos jovens.
  • Pesquisas científicas centradas em tratamentos, e não em prevenção - enquanto os tratamentos se concentram apenas em um único órgão após o diagnóstico, as mudanças de comportamento reduzem o câncer e as taxas de mortalidade de muitas outras doenças crônicas.
  • Os cientistas têm uma responsabilidade moral de relatar os fatores de risco do câncer, mesmo sem conhecer o mecanismo biológico pelo qual aqueles fatores causam câncer.
  • Fatores sociais que afetam a saúde, como os subsídios governamentais e o apoio à indústria do tabaco.
  • Falta de colaboração entre as disciplinas - entre cientistas e entre cientistas e a comunidade.

É preciso querer

Os cientistas reconhecem as dificuldades e a complexidade da implementação de mudanças amplas.

Com tantos atores envolvidos, dos profissionais de saúde e dos legisladores, até cada pessoa individualmente, será difícil implementar uma ampla mudança a longo prazo.

Mas isto não significa que seja impossível: se a sociedade quiser se defender do câncer como um inimigo sério e que pode afetar a todos, os mecanismos estão à disposição, defendem os autores.
Butantan desenvolve teste rápido de diarreias agudas

Exame rápido de diarreia

Um kit semelhante ao dos testes de gravidez vendidos em farmácia foi desenvolvido no Instituto Butantan para ajudar a diagnosticar a causa da diarreia aguda.

A doença mata anualmente 1,5 milhão de crianças menores de 5 anos no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O exame é capaz de detectar três categorias da bactéria Escherichia coli, responsável por 30% a 40% dos casos nos países em desenvolvimento.

Basta colocar uma tira de papel em uma amostra de fezes previamente preparada e, em 15 minutos, linhas vermelhas indicam se um dos três tipos do bacilo está presente.

Tipos de E. coli

"Existem seis categorias de E. coli capazes de causar diarreia, cada uma com diferentes características de virulência e epidemiológicas", explicou a pesquisadora Roxane Maria Fontes Piazza.

O teste abrange duas categorias consideradas endêmicas no Brasil: a enteropatogênica (EPEC) e a enterotoxigênica (ETEC). Detecta também a E. coli produtora da toxina de Shiga (STEC), que, embora seja rara no país, preocupa os órgãos de saúde por causar formas graves da doença, podendo levar à colite hemorrágica e à falência renal.

"Há outra categoria bastante comum no Brasil que ficou de fora, a enteroagregativa (EAEC). Isso porque ela não produz uma proteína-alvo que permita sua identificação em testes desse tipo", explicou Roxane.

Em uma primeira etapa foram obtidos os anticorpos contra as proteínas ou toxinas produzidas por essas três categorias da bactéria. Em seguida, os anticorpos foram testados em outros métodos de diagnóstico para avaliar sua sensibilidade.

"Quando estávamos com todos os anticorpos em mãos, decidimos padronizar esse kit para realização do exame imunocromatográfico. Esse método é mais rápido, mais fácil de ser executado e tem custo acessível, podendo ser usado em qualquer laboratório clínico", disse Roxane.

Kit rápido da diarreia

O kit é composto por uma fita de 6 centímetros de comprimento por 0,5 centímetro de largura. Nessa fita, três tipos de papel foram sobrepostos em uma base plástica.

"No início tem uma fibra de celulose de alta absorção, responsável por puxar a amostra e levá-la até a região da fita onde estão os reagentes. Em seguida vem a fibra de vidro, onde estão fixadas pequenas partículas de ouro chamadas de ouro coloidal. Nessas partículas esféricas, de apenas 20 nanômetros de diâmetro, estão aderidos os anticorpos", explicou Rocha.

Os antígenos da bactéria, quando presentes, são absorvidos pela fibra de celulose, ligam-se aos anticorpos aderidos ao ouro coloidal e continuam pela fita até chegar a uma membrana de nitrocelulose, na qual sai o resultado do teste.

"Há várias linhas nessa membrana e o que determina qual é a categoria de E. coli presente na amostra é a região em que as linhas aparecem na fita. A reação é considerada positiva quando as duas linhas, teste e controle, apresentam-se coloridas", disse Rocha.

A função do ouro é tornar as linhas visíveis. Para garantir a sensibilidade do método, porém, a fita não deve ser colocada diretamente nas fezes. Alguns tipos de E. coli produzem quantidades muito pequenas de toxinas, que passariam despercebidas no exame.

"É preciso colocar a amostra de fezes em um caldo de cultivo e deixar as bactérias se multiplicando de um dia para outro. A fita deve então ser colocada nesse caldo", disse Rocha.

Detecção de bactérias

A ideia é que o kit seja usado em hospitais e laboratórios clínicos para acelerar a detecção da bactéria, o que ajudaria profissionais de saúde a tomar medidas de prevenção, de modo a evitar que surtos se alastrem, e a adotar condutas terapêuticas adequadas.

Segundo Roxane, o usual na rotina clínica é o médico não pedir exames e fazer o diagnóstico com base apenas na análise dos sintomas. "Só quando o quadro é mais persistente ou quando se suspeita da bactéria produtora da toxina de Shiga é que se manda uma amostra para um laboratório de referência analisar. Os demais laboratórios usam métodos antigos e pouco precisos", disse.

Embora a montagem do kit já tenha sido concluída, o método ainda precisa ser validado. Roxane estima que o processo leve cerca de dois anos. "Antes de colocá-lo no mercado precisamos patentear e analisar questões comerciais, como a estabilidade de armazenamento", explicou.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Falta de substância deixa o organismo à mercê da gripe



Espada versus escudo, lança versus armadura: a mesma regra básica da antiga história militar vale para o duelo entre micróbios e o sistema de defesa do organismo.

Uma enorme equipe de pesquisadores descobriu um "escudo" que permite a camundongos e seres humanos se protegerem do vírus da gripe, notadamente da sua versão letal, como a da epidemia mundial de 2009/2010.

Foram 31 "pesquisadores" que realizaram o estudo publicado na revista científica "Nature", mas dois deles eram conjuntos de cientistas com dezenas de pessoas cada um. Esse bando foi necessário para produzir os detalhados experimentos que mostram como a proteína IFITM3 atua de modo a ser um "escudo" antivírus ideal.

Os camundongos sem a proteína tiveram mais problemas inflamatórios e maior replicação do vírus da gripe A.

O mesmo foi descoberto em seres humanos sofrendo com a doença, cuja severidade foi claramente vinculada ao tipo de proteína IFITM presente no organismo.
Editoria de Arte/Folhapress 
Já se sabia que proteínas do tipo IFITM eram capazes de afetar a duplicação de vários tipos de vírus patogênicos (causadores de doenças) em estudos in vitro.

Agora, a equipe coordenada por Paul Kellam, do Wellcome Trust Sanger Institute, Reino Unido, demonstrou que a falta da proteína é capaz de fazer com que uma infecção suave se torne algo muito mais grave em animais.

"A IFITM3 é essencial para defender o hospedeiro contra o vírus da gripe. Camundongos que não têm a IFITM3 apresentam pneumonia viral fulminante quando inoculados com um vírus da gripe normalmente benigno, espelhando a destruição infligida pelo vírus da gripe espanhola de 1918", escreveram os autores do estudo.

E, em seres humanos, os resultados foram semelhantes. A equipe analisou o gene ligado à produção dessa proteína em pacientes hospitalizados com o vírus da pandemia (epidemia global) de 2009, o H1N1, ou em infectados por gripe sazonal. E descobriu que os doentes tinham mais abundantemente uma forma da proteína com menor atividade antiviral.

"Este trabalho é ultrainteressante. Os interferons [como a IFITM3] são uma classe de proteínas que a gente já usa para tratar infecções por vírus, como o da hepatite C", diz Esper Kallas, da Faculdade de Medicina da USP.

"Mas o caso é diferente dos antivirais comuns, pois usa uma defesa natural do hospedeiro", diz Kallas, que ressalva que o estudo precisa ser complementado com mais pesquisas com pessoas.

Os pesquisadores concluíram que a proteína IFITM3 é capaz de impedir que o vírus se ligue com a célula ou afeta a reprodução do parasita.

"Esse fator inato de resistência é ainda mais importante durante encontros com um novo vírus de pandemia, quando as defesas dos hospedeiros são menos eficazes. Pessoas com baixo nível de IFITM3 podem ser mais vulneráveis à disseminação do vírus", concluiu a equipe.
Butantan desenvolve teste rápido de diarreias agudas

Exame rápido de diarreia

Um kit semelhante ao dos testes de gravidez vendidos em farmácia foi desenvolvido no Instituto Butantan para ajudar a diagnosticar a causa da diarreia aguda.

A doença mata anualmente 1,5 milhão de crianças menores de 5 anos no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

O exame é capaz de detectar três categorias da bactéria Escherichia coli, responsável por 30% a 40% dos casos nos países em desenvolvimento.

Basta colocar uma tira de papel em uma amostra de fezes previamente preparada e, em 15 minutos, linhas vermelhas indicam se um dos três tipos do bacilo está presente.

Tipos de E. coli

"Existem seis categorias de E. coli capazes de causar diarreia, cada uma com diferentes características de virulência e epidemiológicas", explicou a pesquisadora Roxane Maria Fontes Piazza.

O teste abrange duas categorias consideradas endêmicas no Brasil: a enteropatogênica (EPEC) e a enterotoxigênica (ETEC). Detecta também a E. coli produtora da toxina de Shiga (STEC), que, embora seja rara no país, preocupa os órgãos de saúde por causar formas graves da doença, podendo levar à colite hemorrágica e à falência renal.

"Há outra categoria bastante comum no Brasil que ficou de fora, a enteroagregativa (EAEC). Isso porque ela não produz uma proteína-alvo que permita sua identificação em testes desse tipo", explicou Roxane.

Em uma primeira etapa foram obtidos os anticorpos contra as proteínas ou toxinas produzidas por essas três categorias da bactéria. Em seguida, os anticorpos foram testados em outros métodos de diagnóstico para avaliar sua sensibilidade.

"Quando estávamos com todos os anticorpos em mãos, decidimos padronizar esse kit para realização do exame imunocromatográfico. Esse método é mais rápido, mais fácil de ser executado e tem custo acessível, podendo ser usado em qualquer laboratório clínico", disse Roxane.

Kit rápido da diarreia

O kit é composto por uma fita de 6 centímetros de comprimento por 0,5 centímetro de largura. Nessa fita, três tipos de papel foram sobrepostos em uma base plástica.

"No início tem uma fibra de celulose de alta absorção, responsável por puxar a amostra e levá-la até a região da fita onde estão os reagentes. Em seguida vem a fibra de vidro, onde estão fixadas pequenas partículas de ouro chamadas de ouro coloidal. Nessas partículas esféricas, de apenas 20 nanômetros de diâmetro, estão aderidos os anticorpos", explicou Rocha.

Os antígenos da bactéria, quando presentes, são absorvidos pela fibra de celulose, ligam-se aos anticorpos aderidos ao ouro coloidal e continuam pela fita até chegar a uma membrana de nitrocelulose, na qual sai o resultado do teste.

"Há várias linhas nessa membrana e o que determina qual é a categoria de E. coli presente na amostra é a região em que as linhas aparecem na fita. A reação é considerada positiva quando as duas linhas, teste e controle, apresentam-se coloridas", disse Rocha.

A função do ouro é tornar as linhas visíveis. Para garantir a sensibilidade do método, porém, a fita não deve ser colocada diretamente nas fezes. Alguns tipos de E. coliproduzem quantidades muito pequenas de toxinas, que passariam despercebidas no exame.

"É preciso colocar a amostra de fezes em um caldo de cultivo e deixar as bactérias se multiplicando de um dia para outro. A fita deve então ser colocada nesse caldo", disse Rocha.

Detecção de bactérias

A ideia é que o kit seja usado em hospitais e laboratórios clínicos para acelerar a detecção da bactéria, o que ajudaria profissionais de saúde a tomar medidas de prevenção, de modo a evitar que surtos se alastrem, e a adotar condutas terapêuticas adequadas.

Segundo Roxane, o usual na rotina clínica é o médico não pedir exames e fazer o diagnóstico com base apenas na análise dos sintomas. "Só quando o quadro é mais persistente ou quando se suspeita da bactéria produtora da toxina de Shiga é que se manda uma amostra para um laboratório de referência analisar. Os demais laboratórios usam métodos antigos e pouco precisos", disse.

Embora a montagem do kit já tenha sido concluída, o método ainda precisa ser validado. Roxane estima que o processo leve cerca de dois anos. "Antes de colocá-lo no mercado precisamos patentear e analisar questões comerciais, como a estabilidade de armazenamento", explicou.

quarta-feira, 28 de março de 2012


Novo exame faz imagens do interior do corpo usando luz e som.

Entre os avanços mais interessantes da tomografia fotoacústica está a capacidade de revelar o uso de oxigênio pelos tecidos, revelando em cores os primeiros sinais de um tumor de pele.

Vendo o invisível

Uma nova tecnologia, capaz de gerar imagens do interior do corpo humano em cores e com alto nível de resolução, está pronta para sair dos laboratórios científicos e ir para os laboratórios de exames clínicos e hospitais.

Desde a descoberta dos raios X, cada nova tecnologia de geração de imagens do corpo humano é recoberta com uma aura de mágica, graças à capacidade de subitamente tornar visível o que até então não se conseguia ver, a não ser em cirurgias.

Isto está acontecendo também com a recém-lançada tomografia fotoacústica, que consegue gerar imagens do corpo humano sem usar radiações perigosas.

Imagens geradas por luz e som

Como seu nome indica, a tomografia fotoacústica combina a luz e o som.

Suas imagens com qualidade incomparável, são resultado de um alto contraste, devido à absorção da luz por moléculas coloridas, como a hemoglobina ou a melanina, e a elevada resolução espacial do ultra-som.

Entre os avanços mais interessantes da tomografia fotoacústica está a capacidade de revelar o uso de oxigênio pelos tecidos, porque a queima excessiva de oxigênio (chamada hipermetabolismo) é uma marca registrada do câncer.

O Dr. Lihong Wang, da Universidade de Washington, está coordenando quatro testes clínicos que objetivam validar aplicações da tomografia fotoacústica.

O primeiro é para visualizar os linfonodos sentinelas, que são importantes no tratamento do câncer de mama; um segundo para monitorar a resposta precoce à quimioterapia; outro para gerar imagens de melanomas; e o quarto para gerar imagens do trato gastrointestinal.

Nos estágios iniciais do câncer, não há muito o que fazer, diz Wang, e, assim, um exame precoce que não requeira um agente de contraste é potencialmente "uma virada no jogo".

Tomografia fotoacústica

Embora todos já tenhamos nos acostumado com as imagens cinzentas de raios X, onde a estrutura interna do corpo aparece como claros e sombras, elas são um substituto muito pobre para fotografias reais do nosso interior.

Essas fotografias não existem porque os fótons de luz conseguem penetrar nossos tecidos moles somente até uma profundidade de cerca de um milímetro. A partir daí eles se dispersam, tornando impossível reconstruir seus caminhos para criar uma imagem.

Mas esse espalhamento não destrói os fótons, que podem atingir uma profundidade de cerca de 7 centímetros.

O truque da tomografia fotoacústica é converter a luz absorvida mais profundamente - é usado um laser de pulsos - em ondas sonoras, que dispersam mil vezes menos do que a luz.

Essas ondas de som são então usadas para transmitir de volta para a superfície as informações dos tecidos.

A absorção da luz pelas moléculas abaixo da superfície da pele cria uma pressão termicamente induzida que emite ondas sonoras de volta. Essas ondas são então captadas por receptores de ultra-som e reagrupadas para criar o que é, com efeito, uma fotografia do interior do corpo.

Com a grande vantagem de que, ao contrário dos raios X, a luz visível não faz qualquer mal aos tecidos do corpo humano.
Quando a gripe espanhola derrotou a Marinha brasileira Redação do Diário da Saúde

Destróier Parahyba, que perdeu 13,7% de sua tripulação com gripe espanhola.

Gripe contra-ataca

Poucas pessoas sabem sobre a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial.

Embora o Brasil tenha-se mantido neutro durante a maior parte do conflito, o país enviou uma frota para apoiar o esforço de guerra. Foi o único país latino-americano a fazê-lo.

Mas a expedição brasileira encontrou um inimigo inesperado e traiçoeiro no litoral africano contra o qual nenhuma armada estava preparada: a gripe espanhola.

A gripe espanhola varreu o mundo em 1918-1919 e, em poucos meses, fez mais vítimas do que o número total de mortes no campo de batalha durante a guerra.

As estimativas variam entre 20 a 50 milhões de mortes em todo o mundo, tornando-a uma das mais devastadoras epidemias da história recente.

Ainda assim, em poucos lugares a pandemia foi tão mortal quanto entre a frota brasileira enviada à costa do Senegal.

Marinha contra a gripe

Em Dacar, o cemitério ainda conserva os túmulos de mais de uma centena de soldados brasileiros (mais de um décimo de toda a tripulação), que sucumbiu ao surto de gripe.

Os relatos da experiência compõem uma leitura sombria e descrevem um dos episódios mais trágicos da história das forças armadas brasileiras.

Agora, um grupo de brasileiros e australianos, incluindo Francisco Almeida, da Escola de Guerra Naval do Rio de Janeiro, analisaram esses relatórios para descobrir o que pode explicar esta que foi a maior taxa de mortalidade por gripe em qualquer navio já registrado até hoje.

Doenças do trabalho

De forma nada surpreendente, a pesquisa revelou que os membros da tripulação mais afetados pela gripe espanhola foram aqueles que provavelmente tinham o sistema respiratório enfraquecido por suas condições de trabalho.

A taxa de mortalidade mais elevada da frota ocorreu entre os alimentadores de fornalhas e os oficiais da casa de máquinas, que estavam constantemente expostos à fumaça e ao pó de carvão das caldeiras.

Acredita-se que, nesses membros da tripulação, os danos pulmonares e o estresse oxidativo das células epiteliais respiratórias sejam os principais fatores que exacerbaram o impacto da exposição ao vírus.

Pandemias passadas e futuras

Os autores também apontam o fato de que os membros da tripulação provavelmente não tinham imunidade prévia contra o vírus, devido à falta de exposição à onda anterior e mais leve desta pandemia, que ocorreu no início de 1918, mas largamente circunscrita ao Hemisfério Norte.

Além disso, a escassez de água potável pode ter sido um fator agravante para a alta mortalidade entre os soldados brasileiros ancorados no calor da costa senegalesa.

Além de seu valor histórico, a pesquisa pode contribuir para uma melhor compreensão dos diversos fatores presentes durante as pandemias de gripe ocorridas no passado, e que podem ainda nos ameaçar no futuro.

O trabalho foi publicado no Journal of Influenza and Other Respiratory Viruses.

terça-feira, 27 de março de 2012

Mulheres jovens e com câncer fazem pouco para preservar fertilidade

Estudo mostra que preocupação com capacidade de reprodução é baixa durante o tratamento

Um novo estudo divulgado pela Sociedade Americana do Câncer descobriu que poucas mulheres diagnosticadas com câncer antes dos 40 anos tomam medidas para preservar a fertilidade durante o tratamento. O relatório ainda afirma que são necessários mais esforços para que as mulheres se conscientizem da situação e cuidem para que a capacidade de reprodução não sofra danos.
Robson Fernandjes/AE
Parte dos tratamentos para câncer tem potencial para prejudicar fertilidade

Mais de 120 mil mulheres de menos de 50 anos são diagnosticadas com câncer todo ano nos Estados Unidos. Como o tratamento para a doença se desenvolve e as taxas de letalidade caem cada vez mais, a preocupação recai sobre fatores indiretos, mas que ainda dizem respeito à saúde e à qualidade de vida. A quimioterapia e outros tipos de terapia prejudicam a fertilidade, mas os modos alternativos para a reprodução assistida fazem com que os cuidados sejam deixados de lado nesse aspecto.

O doutro Mitchell Rosen, da Universidade da Califórnia, conduziu o estudo com 1.041 mulheres com idades dentre 18 e 40 anos diagnosticadas com câncer, selecionadas aleatoriamente do banco de dados do Registro de Câncer da Califórnia. Do total, 918 delas foram submetidas a tratamentos que potencialmente afetam negativamente a fertilidade (quimioterapia, radiação pélvica, cirurgia pélvica ou transplante de medula óssea).

Segundo os pesquisadores, 61% delas receberam informações de seus médicos sobre os possíveis efeitos colaterais que os tratamentos causariam quanto à fertilidade. No geral, apenas 4% delas se preocuparam com a capacidade de reprodução e procuraram preservá-la. Além disso, certos grupos receberem tais informações no momento do diagnóstico e puderam ter mais cuidado com a fertilidade que outras.

"Embora mais mulheres estejam sendo aconselhadas sobre os riscos de sua saúde reprodutiva, muitas ainda não recebem informação adequada sobre as opções no momento do diagnóstico", disse o doutor Rosen. "Consultas sobre fertilidade e opções para preservar o potencial de reprodução aumentam a qualidade de vida das pacientes e, no geral, a qualidade do tratamento", conclui.

Os autores do estudo ainda afirmam que as disparidades sociodemográficas também afetam o acesso aos serviços de preservação da fertilidade. "Há ma oportunidade para explorar as intervenções políticas e educacionais para melhorar as diferenças que podem existir na preservação da fertilidade", completa Rosen, cujo estudo indica que mulheres jovens, brancas, sem filhos e com níveis de escolaridade mais alto tiveram mais acesso e se mostraram preocupadas com os meios de proteger sua capacidade de reprodução.
Pesquisa da USP demonstra riscos de corantes à saúde

Célula de fígado humano exposta a corantes apresentou dano genético, indicado pela seta.

Riscos dos corantes

Pesquisadores da USP estão jogando por terra o mito de que corantes não fazem mal à saúde.

Os estudos, coordenados pela professora Danielle Palma de Oliveira, têm chegado a resultados preocupantes sobre a ação destes componentes.

O grupo está estudando o uso de corantes na indústria têxtil, que entram em contato com a pele humana, na indústria de cosméticos, sobretudo tinturas para cabelos, e na indústria alimentícia.

Os principais riscos verificados estão ligados a danos genéticos, com a quebra das moléculas de DNA na células.

Em princípio, esse comportamento mutagênico pode levar ao desenvolvimento do câncer, embora esta associação não tenha sido pesquisada pelo grupo.

Corantes têxteis

As pesquisas começaram observando a presença de corantes químicos ligados à indústria têxtil, em um rio próximo à região metropolitana de São Paulo.

O grupo detectou que a exposição aos corantes provocava ações mutagênicas, como a quebra do DNA de células.

Os estudos agora já envolvem mais de 10 corantes da classe química AZO, e todos tiveram seus riscos à saúde comprovados: "Eles apresentaram danos ao material genético, com quebra de DNA ou de cromossomos," diz a pesquisadora.

Segundo Danielle, tais corantes são utilizados principalmente pela indústria têxtil, para o tingimento de fibras.

O risco para a saúde está no contato do corante com o suor, que pode fazer com que ele seja transferido para a pele. Visando comprovar estes efeitos, o grupo está desenvolvendo culturas de células de pele humana para realização de testes.

Corantes para cabelos

Com os avanços na questão dos corantes têxteis, Danielle iniciou o estudo de corantes ligados a outras indústrias, como os utilizados para mudança de coloração dos cabelos.

A pesquisa ainda está em fase inicial, mas já revelou alguns efeitos da utilização do produto.

"Já foi identificado que esses corantes são tóxicos, mas ainda não conseguimos verificar se eles também causam lesões ao DNA", declara.

Segundo Danielle, pesquisas sobre a ação destes componentes crescem principalmente nos Estados Unidos e na Comunidade Europeia, que não têm legislações específicas sobre as questões da utilização de corantes.

Corantes em alimentos

Um dos motivos do alerta se deu por conta de resultados em pesquisas europeias relacionadas às ações de corantes em alimentos infantis.

"Foi demonstrado que algumas papinhas podem levar as crianças a sofrerem alteração de comportamento e alergias, mas em pouco tempo [as substâncias prejudiciais] já estarão fora de circulação", conta a professora.

Legislação sobre corantes

A questão do risco dos corantes nunca foi estudada do modo devido por conta da suposição de que estes eram componentes inofensivos.

Porém, em virtude das descobertas recentes, a situação pode ser mais complexa. "Os corantes são substâncias perigosas e merecem mais atenção", declara Danielle.

No Brasil a legislação acerca do uso de corantes para a indústria têxtil também é inexistente, havendo regulação somente para o setor alimentício.

A professora, a partir dos resultados de suas pesquisas, propõe uma mudança na questão. "Nós procuramos utilizar os resultados de nossas pesquisas para embasar uma proposta de mudança na legislação", conta.

Porém, com os estudos em fase inicial, ela admite que esta mudança pode ser lenta. "Seria necessária uma reunião técnica com os legisladores para mostrar nossos resultados, mas isso ainda vai demorar um pouco", conclui.
Droga brasileira combate câncer de ovário

Reconhecimento

Uma empresa apoiada pela FINEP - a Recepta Biopharma -, que desenvolveu uma droga contra o câncer de ovário, obteve reconhecimento internacional para o seu potencial clínico no tratamento da doença.

Esta é a primeira vez que uma companhia brasileira recebe a designaçãoOrphan Drug, da FDA (Food and Drug Administration), agência norte-americana responsável pela validação de drogas e alimentos.

O reconhecimento deu-se pela importância da tecnologia no combater ao câncer.

Ao todo, a FINEP aprovou cerca de R$ 20 milhões em financiamentos reembolsáveis e não reembolsáveis diretamente relacionados às pesquisas da nova droga.

Tumor de ovário

A atribuição foi baseada na análise dos resultados obtidos no primeiro teste, referendando o potencial clínico do produto desenvolvido - o anticorpo monoclonal RebmAb 100.

Por ser relativamente raro, com seis mil novos casos por ano no Brasil, ocâncer de ovário ainda é pouco estudado pelas empresas farmacêuticas.

A diferença do novo tratamento é que, enquanto a quimioterapia ataca todas as células que se multiplicam rapidamente - até mesmo as saudáveis -, os anticorpos monoclonais atuam apenas em alvos específicos, ou seja, as células doentes.

Processo biotecnológico

De acordo com o físico José Fernando Perez, diretor-presidente da Recepta, o anticorpo é uma proteína desenvolvida por um longo processo biotecnológico.

Os pesquisadores introduzem o gene responsável pela produção da proteína em uma célula animal. Esta célula, então, passa a produzir a proteína em escala para que possa ser aplicada em pacientes.

"Associada ao reconhecimento da Recepta, foi validada também nossa estratégia de considerar tumor de ovário como prioritário entre as diversas opções que podem ser consideradas para esse anticorpo", explica Perez.

Benefícios

Perez ressalta que não se trata ainda da aprovação da droga.

Porém, do ponto de vista prático, o reconhecimento cria uma série de benefícios significativos para o desenvolvimento do produto, como pedido de aprovação com tratamento acelerado (a chamada via rápida) e a qualificação da Recepta para receber auxílios não reembolsáveis do FDA.

Além disso, após sua aprovação, a droga terá sete anos de garantia de exclusividade nos Estados Unidos, mesmo que a patente já tenha expirado. "Acreditamos que dentro de cinco [anos] a gente possa ter o produto no mercado", finaliza Perez.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Aspirina pode reduzir risco de câncer e metástase, sugerem estudos

Especialistas advertem, porém, que droga também eleva riscos de sangramentos

Tomar uma dose baixa de aspirina diariamente pode prevenir e possivelmente até ajudar a tratar alguns tipos de câncer, segundo novos estudos recém-publicados pela revista científica The Lancet.
Especialistas advertem que o consumo exagerado da aspirina tem efeitos colaterais perigosos

Muitas pessoas já tomam doses diárias de aspirina para prevenir problemas cardíacos. Mas os especialistas advertem que ainda não há provas suficientes para recomendar o consumo diário de aspirina para prevenir câncer e advertem que a droga pode provocar efeitos colaterais perigosos, como sangramentos estomacais.

Peter Rothwell, da Universidade de Oxford, e sua equipe, já haviam relacionado anteriormente a aspirina a um risco menor de câncer, particularmente de intestino. Mas seu trabalho anterior sugeria que as pessoas precisavam tomar a droga por mais de dez anos para ter alguma proteção.

Agora os mesmos especialistas acreditam que o efeito de proteção pode ocorrer em muito menos tempo - de três a cinco anos -, baseados em uma nova análise de dados de 51 estudos envolvendo mais de 77 mil pacientes.

Metástase

A aspirina parece não somente reduzir o risco de desenvolver muitos tipos diferentes de câncer, mas também impede a doença de se espalhar pelo corpo. Os exames tinham como objetivo comparar os pacientes que tomavam aspirina para prevenir doenças cardíacas com aqueles que não tomavam.

Mas quando Rothwell e sua equipe viram como muitos dos participantes desenvolveram e morreram de câncer, verificaram que também poderia haver uma relação entre o consumo da aspirina e a doença.

Segundo o estudo, o consumo de uma dose baixa (75 a 300 mg) de aspirina parecia reduzir o número total de cânceres em cerca de um quarto em um período de três anos - houve nove casos de câncer a cada mil pacientes ao ano no grupo que consumia aspirina, comparado com 12 por mil entre os que consumiam placebo.

A droga também reduziu o risco de morte por câncer em 15% num período de cinco anos (e em menos tempo se a dose fosse maior que 300 mg). Se os pacientes consumiam aspirina por mais tempo, as mortes relacionadas a câncer caíam ainda mais - 37% após cinco anos.

Doses baixas de aspirina também pareciam reduzir a probabilidade de o câncer, principalmente no intestino, se espalhar para outras partes do corpo (metástase), em até 50% em alguns casos. Em números absolutos, isso poderia significar que a cada cinco pacientes tratados com aspirina, uma metástase de câncer poderia ser prevenida, segundo os pesquisadores.

Sangramentos

A aspirina já vem sendo usada há tempos como prevenção contra o risco de ataques e derrames, mas ela também aumenta o risco de sangramentos graves. Porém o aumento do risco de sangramento somente é verificado nos primeiros anos de tratamento com a aspirina e cairia depois.

Críticos apontam que algumas das doses analisadas no estudo eram muito maiores que a dose típica de 75 mg dada para pacientes com riscos de problemas cardíacos. Outros estudos grandes sobre o consumo de aspirina realizados nos Estados Unidos não foram incluídos na análise.

Rothwell admite as lacunas ainda deixadas pelo estudo e diz que para a maioria das pessoas saudáveis, as coisas mais importantes para reduzir o risco de câncer ao longo da vida é não fumar, se exercitar e ter uma dieta saudável.

Mas ele afirma que a aspirina parece reduzir o risco ainda mais - apenas em uma pequena porcentagem quando não há nenhum outro fator de risco, mas consideravelmente quando o paciente tem um histórico familiar de cânceres como o colorretal. Os especialistas advertem, porém, que as pessoas devem discutir suas opções com seus médicos antes de tomar qualquer remédio.
Exposição a micróbios fortalece sistema de defesa

Descoberta ajuda a explicar como os germes podem proteger contra doenças no futuro
Reprodução
Crianças criadas em ambientes extremamente limpos podem ser mais suscetíveis a alergias

A exposição a germes na infância ajuda a fortalecer o sistema imunológico e proteger a criança contra alergias e asma, mas o mecanismo pelo qual isso ocorre ainda não está claro. Agora, pesquisadores identificaram um mecanismo em ratos que pode explicar o papel da exposição aos micróbios no desenvolvimento da asma e da colite ulcerativa, uma forma de inflamação intestinal.

Um estudo publicado na Science mostra que, nos ratos, a exposição aos micróbios no início da vida pode reduzir a quantidade de células natural killer T (iNKT), que ajudam a combater infecções mas que também podem atacar o organismo, causando vários distúrbios como asma e doenças inflamatórias do intestino.

O estudo defende a "hipótese da higiene", que prega que doenças autoimunes são mais comuns nos países desenvolvidos onde a prevalência de antibióticos e antibacterianos reduz a exposição das crianças aos micróbios.

"Não somos expostos aos mesmos germes que éramos expostos no passado", diz um dos líderes do trabalho, Dennis Kasper, microbiólogo da Harvard Medical School em Boston, Massachusetts.

Para chegar ao resultado, os autores acompanharam dois grupos de ratos: alguns foram criados em ambiente estéril, sem contato com germes, e outros se desenvolveram em condições normais de laboratório.

Os pesquisadores induziram os animais a desenvolver formas de asma ou colite ulcerativa. Os ratos livres de germes tinham mais células iNKT nos pulmões e desenvolveram sintomas mais graves das doenças, indicando que a exposição aos micróbios teve alguma influência nos níveis de iNKT e deixando esses ratos mais suscetíveis às doenças.

O estudo também descobriu que a falta de exposição no início da vida não pode ser compensada mais tarde, apresentando micróbios a esse grupo de ratos na vida adulta.

Na busca do mecanismo que explique a influência da exposição aos micróbios, os pesquisadores focaram na CXCL16, proteína sinalizadora associada a inflamações e células iNKT. A expressão dessa proteína foi mais alta no cólon e no tecido dos pulmões dos ratos criados em ambiente asséptico do que nos demais, e bloquear a expressão dela reduziu o número de células iNKT e a quantidade de inflamação nos tecidos.

Os autores sugerem que a exposição a certos micróbios inibe a expressão excessiva dessa proteína, o que protege contra níveis elevados de iNKT e inflamações.

Ainda não está claro se o mesmo ocorre em humanos, mas os resultados 'complementam o que vemos em epidemiologia', diz Erika Von Mutius, líder do departamento de asma e alergia da Universidade de Munique, na Alemanha. 

Daniel Peterson, imunologista do Johns Hopkins Medical Institute in Baltimore, Maryland, diz que o estudo tem limitações porque nenhum ser humano poderia ser criado de uma forma tão asséptica quanto os ratos usados no estudo. No entanto, ele acha o estudo provocativo: "a descoberta é mais surpreendente é a persistente elevação das iNKT, que não é revertida mais tarde com a exposição convencional a micróbios", diz. "Isso abre várias questões sobre a duração desse intervalo e quais micróbios estariam envolvidos."
Intestino artificial cabe dentro de um chip

Esta é a melhor reprodução artificial do intestino já feita, já estando pronta para uso em testes de toxicidade e avaliação de moléculas para desenvolvimento de novos medicamentos.
Intestino em um chip

Testar novos medicamentos em animaisenfrenta sérias questões éticas, nem sempre produz resultados que podem ser transpostos para o ser humano e, de resto, não sai barato.

É por isso que vários grupos de cientistas ao redor do mundo vêm desenvolvendo alternativas tecnológicas à experimentação com animais.

A mais recente delas acaba de ser apresentada pela equipe do Dr. Donald Ingber, da Universidade de Harvard (EUA).

Trata-se de um minúsculo dispositivo capaz de imitar a estrutura e a fisiologia do intestino humano, incluindo a flora intestinal e os movimentos naturais ritmados do órgão, os chamados movimentos peristálticos.

Intestino artificial

Embora o teste de fármacos em culturas celulares seja um caminho natural, essas culturas também não replicam adequadamente os órgãos humanos, o que é essencial quando é necessário observar a ação sistêmica das moléculas que estão sendo investigadas.

A saída é o desenvolvimento dos chamados órgãos artificiais, estruturas miniaturizadas que nem sempre lembram o órgão humano real, mas constituem plataformas de testes muito melhores do que órgãos de animais ou culturas planas.

O biochip contém dois canais microscópicos, separados por uma membrana flexível.

Essa membrana é recoberta com uma camada de células epiteliais do intestino humano suficiente para criar uma cultura da bactéria Lactobacillus rhamnosus, essencial à flora intestinal.

Os cientistas simulam as contrações do intestino aplicando uma pequena sucção, alternadamente, entre os dois canais, causando o dobramento do tecido intestinal, as chamadas vilosidades.

Eles afirmam que esta é a melhor reprodução artificial do intestino já feita, já estando pronta para uso em testes de toxicidade e avaliação de moléculas para desenvolvimento de novos medicamentos.

Órgãos artificiais


Mais recentemente, começaram a avançar as pesquisas rumo a um cérebro artificial.


Epigenética começa nova busca por genes ligados ao câncer


Tabuleiro vazio
O câncer é geralmente atribuído a genes defeituosos, mas evidências da epigenética indicam que as proteínas que silenciam genes desempenham um papel fundamental no processo.
Um novo estudo promete acelerar as pesquisas na área identificando rapidamente os genes que as proteínas epigenéticas podem ter como alvo para silenciamento.
"A epigenética do câncer é um campo novo, e ainda estamos lidando com o básico," diz o Dr. Jianpeng Ma, professor de bioengenharia da Universidade Rice (EUA).
"É algo como um tabuleiro de jogo. Até agora, nós entendemos algumas das regras e vimos algumas das peças, mas o tabuleiro do jogo propriamente dito está praticamente vazio," diz ele.
Alterações epigenéticas
Enquanto muitos cânceres têm sido associados a mutações na sequência do DNA de genes específicos, as alterações epigenéticas não envolvem mutações genéticas.
Em vez disso, a epigenética permite que duas células com sequências de DNA idênticas se comportem de maneiras completamente diferentes.
As proteínas epigenéticas efetivamente editam o genoma, desligando genes que não são necessários.
Esse processo de edição é o que permite aos seres humanos terem células especializadas - como as células nervosas, células ósseas, células do sangue etc. - que têm aparência e comportamento diferentes, ainda que compartilhem o mesmo DNA.
Proteínas epigenéticas
Os principais "jogadores" epigenéticos nesse tabuleiro do câncer a que o pesquisador se refere são uma família de proteínas chamadas PcG (polycomb-group).
As PcGs são encontradas bem no interior do núcleo das células, em uma câmara onde o DNA é armazenado.
Estudos descobriram níveis anormalmente elevados de PcGs em algumas das formas mais agressivas de câncer de mama e de próstata.
As PcGs são generalistas, que podem ser chamadas para silenciar qualquer um dentre várias centenas a vários milhares de genes.
Elas são recrutadas para essa tarefa pelos PREs (polycomb response elements), segmentos de DNA que estão localizados nas proximidades dos genes das proteínas que serão a seguir silenciados.
E é aqui que o tabuleiro fica em branco.
Preditor epigenético
Embora os cientistas saibam que existem literalmente centenas de milhares de potenciais PREs em qualquer genoma - incluindo tudo, desde simples insetos até os seres humanos - apenas uns poucos deles foram encontrados até agora.
"Até agora, apenas dois PREs foram verificados experimentalmente em mamíferos - um em camundongos e um em humanos," diz Jia Zeng, pesquisador da Universidade de Baylor."Nós suspeitamos que há muitos deles, mas encontrá-los tem sido difícil."
"Um dos maiores desafios desde a conclusão do Projeto Genoma Humano é como garimpar informações úteis da enorme quantidade de dados genômicos," diz Ma.
Mas eles parecem estar no caminho certo, desenvolvendo um novo programa de computador, chamado EpiPredictor, que "digere" os dados do genoma e devolve alvos potenciais para a validação experimental.
No exemplar deste mês da revista científica Nucleic Acids Research, a equipe mostra que o programa consegue identificar com precisão genes específicos afetados pelas proteínas epigenéticas.
Agora é só ter paciência e testar cada um dos resultados, em busca de novos alvos para atuação contra o câncer - ficará mais fácil jogar assim que o tabuleiro estiver com todas as peças, garantem os cientistas.