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terça-feira, 24 de abril de 2012

Neurocientistas fazem zoom do comportamento
até os neurônios


Neurônios em operação

Assim como os físicos querem enxergar tudo ao nível de átomos, os neurocientistas também têm seus "átomos": os neurônios.

Enxergar o cérebro e outros tecidos ao nível de neurônios individuais pode abrir novos campos de entendimento sobre o funcionamento do corpo humano, compreendendo o que dá errado no caso das disfunções, ou seja, das doenças.


Os neurocientistas conseguiram pela primeira vez rastrear um processo biológico do comportamento até os neurônios individuais na origem desse comportamento.[Imagem: Konnerth Lab/TU Muenchen]


Agora, cientistas da Universidade de Munique (Alemanha) alcançaram um marco na visualização de todos os processos envolvidos no Mal de Alzheimer, pela primeira vez rastreando um processo biológico do comportamento até os "átomos", ou melhor, os neurônios.

Zoom no cérebro

Assim como os físicos testam as propriedades dos materiais em amostras de laboratório, e depois usam microscópios cada vez mais potentes para enxergar até o nível dos seus átomos, o professor Arthur Konnerth e seus colegas deram uma espécie de zoom em um organismo vivo.

A primeira camada de observação foi o comportamento, ou melhor, a variação do comportamento induzida pelo desenvolvimento do Alzheimer em cobaias.

Prosseguindo em seu zoom biológico, eles observaram a cognição sensorial, ou seja, a relação entre o reconhecimento de sinais do ambiente e o seu processamento físico no cérebro.

Na terceira camada, eles já mergulharam de vez no lado físico do cérebro, mais especificamente nos circuitos neuronais, mapeando quais circuitos o cérebro estava usando para ativar o reconhecimento de sinais da segunda camada que, por sua vez, levam aos comportamentos da primeira camada.

Finalmente, no nível mais profundo do seu zoom biológico, eles atingiram pela primeira vez os neurônios corticais individuais - não quaisquer neurônios, mas aqueles individualmente envolvidos na tarefa.
Começando com o défice visual induzido pelo Alzheimer em modelos animais, os cientistas conseguiram chegar até os neurônios associados com esse comportamento. [Imagem: Konnerth Lab/TU Muenchen]

Processos paralelos

O feito foi possível graças a uma técnica recente de geração de imagens, chamada imageamento de dois fótons baseada em cálcio, a única que permite a visualização da atividade de um circuito neuronal com resolução de células individuais - algo como os físicos observarem o comportamento elétrico de um metal com resolução atômica.

O resultado desse zoom inédito, publicado pela revista Nature, mostra pela primeira vez as alterações envolvidas no acúmulo das placas daproteína beta-amiloide no cérebro.

Em vez de alterações em cascata, em que um efeito vira causa de outro, e assim sucessivamente, a pesquisa mostrou que as alterações se dão de forma paralela, e que apenas vendo-as como um conjunto é possível compreender as diversas fases da doença de Alzheimer.

"Nossos resultados fornecem novos e importantes insights sobre a causa que pode estar por trás dos problemas de comportamento, identificando no córtex uma subpopulação de neurônios que tiveram suas funções fortemente perturbadas," diz o pesquisador.
Especialista relata estado das pesquisas sobre fibromialgia e dores crônicas

Com informações de Marilúcia Leal - UFBA

Tipos de dor

Denominamos dor o que sentimos após uma pancada, ou quando um objeto perfura nossa pele, mas também quando a saudade de alguém ou a tristeza suga nossas forças.

Mas e quando a dor passa a não ter um ponto de origem específico e, além disso, a ocorrer de forma intensa e ininterrupta?

Essas são as principais características da fibromialgia, uma síndrome que faz referência a uma condição dolorosa generalizada e crônica.

Especialista no assunto, o Dr. Pedro Montoya, da Universidade das Ilhas Baleares (Espanha) esteve na Universidade Federal da Bahia, trazendo as últimas novidades sobre a fibromialgia e as dores crônicas em geral.

Aliviar, e não suportar

Montoya explicou os principais efeitos causados pela fibromialgia no cérebro.

Ao receber qualquer estímulo do, o cérebro ativa as defesas pessoais e autoriza a liberação de hormônio que ajudará a aliviar os constrangimentos dolorosos.

Segundo o pesquisador, o problema surge quando tais estímulos passam a ser frequentes.

"Quanto mais o cérebro for castigado pela dor, mais dificuldade terá em realizar as funções delegadas a ele. Por isso, é de extrema importância procurar métodos para aliviar as dores, e não suportá-las," alerta o pesquisador.

Desconexão entre sensação e corpo

Estudos demonstram que a atividade cerebral de um paciente diagnosticado com a fibromialgia interpreta informações cotidianas de maneira equivocada.

"Há uma relação desnivelada entre o estímulo e a sensação da dor. Tocar levemente a pele de um paciente com dor crônica pode desencadear um quadro generalizado, já que não há relação direta entre a sensação e o corpo," afirmou Montoya.

Alterações no ritmo das passadas e no equilíbrio, disparidade na compreensão das emoções pessoais e alheias - situação que pode interferir diretamente no convívio em sociedade - também são consequências da doença reveladas pela pesquisa de Montoya, ainda em andamento.

"O cérebro de um paciente com a doença interpreta expressões de alegria e tristeza de maneira muito próximas", completa.

Causas da fibromialgia

As causas para o desenvolvimento da doença é o maior desafio para Montoya e, neste caso, todo o estudo se volta para esse fim.

Segundo ele, só a descoberta das causas poderá dar subsídios para o desenvolvimento de trataremos eficazes.

O que se sabe até o momento é que a experiência da dor surge da atividade cerebral e é modulada por diversos fatores bio-psico-sociais (genéticos, hormonais, cognitivos, emocionais, sociais, culturais), além da comprovação das alterações que ocorrem em tal atividade.

Complexidade da dor

O pesquisador chama atenção para a condição de complexidade da dor, reforçando o aspecto de que a mesma não é algo estático, mas que muda com o tempo.

Para ele, responder questões como localização e intensidade não são suficientes para nenhum tipo de diagnóstico que a tenha como principal sintoma.

Esses aspectos são imprescindíveis, entretanto, não podem limitar as investigações. "É necessário compreender a dinâmica da dor e como ela varia a - e na - atividade cerebral", defende.
Lista de procedimentos reduz em 18% mortalidade por infarto

Check-list do infarto

Médicos do Hospital do Coração de São Paulo (HCor) criaram uma lista de procedimentos - um assim chamado protocolo médico - que pode reduzir em 18% o número de mortes por infarto.

Baseada no esquema de segurança das companhias aéreas, as ações garantem que as equipes médicas sigam os protocolos essenciais no tratamento de pacientes com ataque cardíaco.

Realizado em parceria com o Ministério da Saúde, o projeto teve reconhecimento internacional, e agora pode melhorar o atendimento a pacientes cardíacos do Sistema Único de Saúde (SUS).

O Dr. Otávio Berwanger, do HCor, explica que o estudo constatou que muitos procedimentos fundamentais eram deixados de lado no atendimento aos pacientes infartados.

"Antes de agir, nós notamos que apenas metade dos pacientes recebia todos os tratamentos de acordo com o protocolo" para nas primeiras 24 horas, afirmou o médico.

Organização e métodos

Segundo ele, a falta de aplicação de todos os protocolos ocorre em todo o mundo e não está ligada a desconhecimento ou negligência dos profissionais.

Para Berwanger, em uma emergência de hospital, o comportamento dos médicos e enfermeiras acaba seguindo um padrão semelhante ao dos passageiros de um avião.

"Só falando, alguns não deixam a cadeira na posição vertical ou deixam o celular ligado. Precisa ter alguma intervenção ativa que vá lá e faça mudar o comportamento", ressaltou.

Para confirmar a hipótese, foi adotada uma intervenção experimental semelhante à dos procedimentos de checagem de segurança adotados nos voos comerciais. "Nós pedimos para uma enfermeira atuar como uma gerente de caso, que é que nem a aeromoça que checa se você desligou o celular e colocou a cadeira na posição vertical".

Durante cerca de oito meses, ao longo de 2011, a equipe do HCor monitorou 34 hospitais públicos do país para verificar como os pacientes com síndrome coronariana aguda (infarto) eram atendidos.

Metade dos hospitais foi apenas observada, enquanto outro grupo recebeu treinamento para aplicação da intervenção multifacetada, que incluía materiais educacionais, listas e lembretes que tinham como base evidências científicas de controle da doença.

Pulseira

"Ao chegar ao hospital, o paciente passava por uma triagem. Se apresentasse algum sintoma, um lembrete era anexado ao formulário para que o médico soubesse que se tratava de um paciente de risco. Além da notificação no formulário médico, o paciente recebia uma pulseira que o identificava de acordo com a categoria de risco," explica Berwanger.

"Fizemos isso durante oito meses nos hospitais", relata. "Ocorreu um aumento de 18% na adesão aos padrões nas primeiras 24 horas. E 19%, em toda a hospitalização."

De acordo com Berwanger, a cada 10% de aumento na adesão às diretrizes, há uma redução de 10% na mortalidade dos pacientes.

A maioria das mortes por infarto ocorre nas primeiras horas de manifestação da doença - 65% dos óbitos ocorrem na primeira hora e 80% até 24 horas após o início do infarto.

Além dos remédios

Os resultados da primeira fase do projeto foram apresentados com destaque no Congresso do Colégio Americano de Cardiologia (American College of Cardiology Scientific Sessions 2012), realizado em Chicago (EUA).

O trabalho também repercutiu positivamente em artigo publicado na revista científica JAMA (Journal of the American Medical Association), uma das publicações médicas mais importantes do mundo.

Para o ministro Alexandre Padilha, que recebeu a visita da equipe do HCor que coordenou o projeto, o comportamento clínico é fundamental para melhorar a qualidade no atendimento aos pacientes cardíacos.

"Muitas vezes o paciente com infarto não recebe as terapias adequadas para o tratamento e isso dificulta sua recuperação. Mais do que medicamentos - que hoje são oferecidos gratuitamente pelo SUS - precisamos oferecer um atendimento rápido e adequado ao paciente, pois isso significa a diferença entre a vida e morte," avalia o ministro.