O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) manifestou-se formalmente contra a distribuição de inseticidas à população como medida de combate ao mosquito da dengue. [Imagem: IOC/Fiocruz] |
Desmedida
O Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) manifestou-se formalmente contra a distribuição de inseticidas à população como medida de combate ao mosquito da dengue.
A população de Foz do Iguaçu (PR), recebeu nesta semana 80 mil frascos de inseticida para tentar combater o mosquito transmissor da dengue em domicílios residenciais.
"O uso de inseticida é uma estratégia complementar que sob hipótese alguma pode ser tratada como a medida mais efetiva. Isso causa falsa sensação de segurança na população e o pior, provoca a disseminação de mosquitos resistentes aos inseticidas disponíveis", esclarece Denise Valle, do IOC.
"O controle efetivo é o controle mecânico, através da eliminação dos criadouros não deixando água parada. Esta sim, é uma medida que mata indiscriminadamente os [pernilongos] resistentes e os susceptíveis a inseticidas. O spray fica por poucos minutos no ar e só efetivo no contato direto com o mosquito, desde que não seja de uma linhagem resistente", sublinha.
Resistência contra inseticidas
Além disso, Denise informa que a população de mosquitos se recompõe muito rapidamente no ambiente, por isso a ênfase no controle das formas imaturas (ovos, larvas e pupas) do vetor, mediante a remoção mecânica dos criadouros.
Além disso, as populações de mosquitos são variadas no país, cada uma apresentando níveis de resistência diferenciados.
Existem poucos produtos disponíveis para controle do vetor. Por isso, devem ser usados com cautela, já que a resistência entre as populações de mosquitos coloca um novo desafio para o combate à doença.
Segundo o Ministério da Saúde, a aplicação desses produtos [inseticidas do tipo aerossol pertencentes em geral ao grupo dos piretroides] só deve ser feita pelas equipes de vigilância das secretarias estaduais e municipais de Saúde treinadas para o manuseio seguro destes produtos.
"Apenas orientamos o uso de inseticidas quando há comprovação da transmissão de dengue, evidenciada por critérios epidemiológicos", observa o Secretário de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa.
Na nota técnica, o Instituto alerta que "a utilização inadequada e indiscriminada destes produtos poderá causar graves consequências no meio ambiente e interferir na eficácia dos programas de controle da dengue, tornando o mosquito ainda mais resistente ao inseticida."
Mosquito que gosta do homem
O Aedes aegypti é um mosquito doméstico com hábitos oportunistas: ele vive dentro ou ao redor de domicílios ou de outros locais frequentados por pessoas, como estabelecimentos comerciais, escolas ou igrejas, por exemplo.
Tem hábitos preferencialmente diurnos e alimenta-se de sangue humano, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer. Mas também pode picar à noite, pois não deixa a oportunidade passar.
Por ser um mosquito que vive perto do homem, sua presença é mais comum em áreas urbanas e a infestação é mais intensa em regiões com alta densidade populacional - principalmente, em espaços urbanos com ocupação desordenada, onde as fêmeas têm mais oportunidades para alimentação e dispõem de mais criadouros para desovar.
A infestação do mosquito é sempre mais intensa no verão, em função da elevação da temperatura e da intensificação de chuvas - fatores que propiciam a eclosão de ovos do mosquito.
Para evitar esta situação, é preciso adotar medidas permanentes para o controle do vetor, durante todo o ano, a partir de ações preventivas de eliminação de focos do vetor. Como o mosquito tem hábitos domésticos, essa ação depende sobretudo do empenho da população.
10 Minutos Contra a Dengue
O Instituto Oswaldo Cruz está lançando a campanha "10 Minutos Contra a Dengue", elaborada a partir do conhecimento científico sobre o Aedes aegypti.
A campanha consiste em orientar a população para investir 10 minutos por semana para checar e eliminar os principais criadouros do pernilongo dentro de suas residências.
Devido à biologia do vetor, uma checagem semanal é o suficiente porque, do ovo ao mosquito adulto, o ciclo de desenvolvimento do A. aegypti leva de 7 a 10 dias. Por isso, agindo uma vez por semana é possível interromper o ciclo de vida do A. aegypti e evitar o nascimento de novos mosquitos adultos. A inspiração veio da estratégia de controle do Aedes adotada em Cingapura, nos anos de 2004 e 2005.
"A proposta é investir dez minutos por semana para remover criadouros no ambiente doméstico e peri-doméstico, de modo a interferir no ciclo de desenvolvimento do vetor, impedindo que ovos, larvas e pupas do mosquito cheguem à fase adulta", enfatiza Denise Valle.
"Temos que ficar atentos ao acúmulo de água em calhas, ralos, bandejas de geladeira e ar condicionado, entre outros locais como vasos de plantas, garrafas pet viradas com a boca para cima, pneus, e vedar adequadamente caixas d'água, por exemplo", diz.
"Dengue é um problema que desafia a todos, porque já não é apenas um problema de saúde pública, mas também de educação, de comunicação e de mobilização. As ações para combatê-la não podem ser delegadas apenas aos governos. Se cada um fizer sua parte, temos mais chance de alcançar o sucesso na luta contra a doença," completa.
Para orientar a ação de "10 Minutos Contra Dengue", os especialistas do IOC elaboraram um guia com os 13 criadouros estratégicos no ambiente doméstico, orientações sobre medidas de prevenção e uma tabela que poderá orientar a checagem semanal.
O Guia 10 Minutos Contra Dengue pode ser baixado gratuitamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário