Elena Mandarim
Divulgação/Uezo |
Para Fábio Fortes, a pesquisa pode resultar em alternativas de tratamento para a doença de Chagas |
Embora a doença de Chagas tenha sido descoberta há mais de 100 anos, pelo então jovem cientista Carlos Chagas (1878-1934), ainda hoje não se tem um conjunto eficaz de mecanismos para sua cura. Fabio da Silva de Azevedo Fortes, professor adjunto de biofísica e fisiologia do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), estuda as alterações funcionais e estruturais nas junções comunicantes de macrófagos infectados, ou não, pelo protozoárioTrypanosoma cruzi(T.cruzi), agente causador da doença de Chagas. O pesquisador explica que, no sistema imunológico, essas estruturas estão associadas à liberação de substâncias que ativam a resposta imune. “Dependendo de como os macrófagos sejam ativados, há aumento ou diminuição na atividade das junções comunicantes, o que influencia diretamente na intensidade da resposta imunológica. Nosso objetivo é entender como essas estruturas se comportam, em diferentes situações. Isso pode nos dar subsídios para, no futuro, descrever novas vias para ação de fármacos” adianta Fortes.
Sabe-se que os macrófagos participam da resposta imunológica inata, com a função de eliminar micro-organismos através da fagocitose e de apresentar, ao sistema imune, os antígenos que devem ser combatidos. Contudo, contrariando alguns estudos da literatura, o pesquisador conta que conseguiram demonstrar que essas células também apresentam atividade nas junções comunicantes. Trata-se de estruturas que permitem a comunicação entre células através de conexinas – proteínas que atravessam cada uma das células. Por meio deste tipo de junção, substâncias celulares como, por exemplo, íons, podem passar de célula para célula, fazendo com que grupos celulares formem um conjunto funcional. “Já está bem demonstrado como as estruturas e os receptores de membranas dos macrófagos se comportam em situações de inflamação e resposta imunológica. O diferencial do nosso estudo é justamente buscar essas informações nas junções comunicantes”, relata Fortes.
O projeto, que conta com recursos do edital de Apoio às Universidades Estaduais, da FAPERJ, tem cinco fases. O pesquisador explica que as três primeiras são experimentos in vitro que mimetizam o ponto da inflamação, com ou sem infecção por T.cruzi. O objetivo é entender todas as possíveis alterações funcionais e estruturais das junções comunicantes. “Na fase um, simulamos somente a inflamação e verificamos aumento da atividade das junções comunicantes. Já na fase atual, que é a segunda, simulamos somente infecção com T.cruzi. Nossos dados preliminares sugerem diminuição na atividade das junções comunicantes. A próxima fase é avaliar o comportamento das junções comunicantes em um ambiente com inflamação e infecção ao mesmo tempo”, explica Fortes.
Na fase seguinte, segundo Fortes, no mesmo ambiente de inflamação e infecção juntos serão testados, ainda in vitro, novos fármacos, desenvolvidos em parceria com o professor Sergio Henrique Seabra. “Se os resultados dessa quarta fase forem promissores, o que significaria que conseguimos descrever novas vias para ação de fármacos, vamos passar para a quinta e última fase: testar a eficiência dos novos tratamentos in vivo, com animais”, aposta o pesquisador, ressaltando a colaboração também da professora Regina Goldemberg, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Mais de um século da doença de Chagas
A forma como a doença de Chagas se manifesta pode variar durante o curso da infecção. Segundo o pesquisador, o tratamento só é satisfatório quando administrado nos dez primeiros dias. “Só que isso quase nunca acontece, porque no início, geralmente, aparece somente um inchaço no local da picada e febre, que desaparecem em seguida. O problema é que a doença continua progredindo e, caso não seja feito o tratamento na fase aguda, os sintomas tornam-se crônicos e graves, tais como o desenvolvimento de insuficiência cardíaca e desordens do sistema digestivo”, relata Fortes.
Para o pesquisador, a doença de Chagas é um caso típico de doença negligenciada, a qual é caracterizada por ter mecanismos de erradicação, mas que continua presente em localidades com condições precárias de vida e pobreza. “Uma medida importante, por exemplo, para o combate da doença de Chagas seria a construção de casas de alvenaria no lugar de casas de pau-a-pique. Só que em áreas pobres, isso se torna uma dificuldade”, exemplifica.
De acordo com dados do Ministério da Saúde (MS), cerca de 5.000 brasileiros morrem, por ano, decorrente de complicações da doença de Chagas. Diante desse fato, pesquisas como a do professor Fortes se mostram relevantes para melhorar o cenário da saúde pública brasileira. “Cabe ressaltar que um dos principais objetivos da Uezo, instituição da qual sou membro, é promover a interação entre academia e indústria, tal como buscamos nesse projeto. Isso permite aplicar o conhecimento e as soluções geradas na universidade em beneficio da sociedade”, conclui Fortes.
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