Uma pesquisa do Instituto de Psiquiatria da USP mostra que o uso de estimulação magnética no cérebro para tratar o vício em cocaína é eficaz e reduz em até 80% o desejo de usar a droga.
Os resultados preliminares são baseados na primeira etapa do estudo, com 20 pacientes do sexo masculino entre 18 e 40 anos que usavam cocaína há até sete anos.
Outros 20 pacientes participam da segunda parte da pesquisa, já em andamento.
O tratamento é indolor e não invasivo, e pesquisas já mostraram sua eficácia para depressão e dor crônica.
Os voluntários foram divididos em dois grupos. Um recebeu o tratamento ativo e o outro, placebo. Eles foram submetidos a 20 sessões de estimulação e fazem também psicoterapia.
RECOMPENSA
A bobina que gera um campo magnético foi aplicada na região do cérebro chamada córtex dorsolateral pré-frontal esquerdo.
Essa área responde pelo comportamento impulsivo e pela tomada de decisão. A estimulação "reorganiza" os circuitos cerebrais danificados pela cocaína para controlar a dependência.
"A cocaína modula o sistema de recompensa e as áreas que medem consequências. Remodelamos esse sistema", diz o psiquiatra Phillip Leite Ribeiro, autor do estudo.
Antes e depois das sessões, todos foram avaliados por meio de escalas que medem a intensidade e a frequência da vontade de usar a droga.
Os resultados mostram uma queda grande nas recaídas, na fissura e na impulsividade dos pacientes. "Ainda não sabemos se eles vão precisar repetir as sessões para que o efeito se mantenha. Pode ser que o vício volte", diz Ribeiro.
Marco Marcolin, psiquiatra, coordenador do grupo de estimulação magnética do Hospital das Clínicas da USP e orientador do estudo, diz ainda que o ideal seria fazer testes de urina para medir a presença da droga e comprovar a diminuição da fissura.
Ambos esperam que, no futuro, a estimulação possa ser usada aliada a outros tratamentos. "Esse paciente sempre vai precisar de psicoterapia. Muitas vezes, remédios também são necessários", diz Marcolin.
O psiquiatra Marcelo Niel, psiquiatra do Proad (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes), da Unifesp, diz que o surgimento de uma nova possibilidade terapêutica para tratar dependência é animador. "No entanto, são necessários estudos maiores para ter uma melhor visualização do efeito do tratamento em comparação com o efeito placebo. Além disso, como muitos dependentes têm doenças psiquiátricas associadas, pode ser que o resultado seja decorrente do tratamento desse outro problema."
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