Os fenômenos climáticos estão ficando mais extremos: só na tragédia da Região Serrana do Rio, o número de vítimas já é maior do que todas as mortes causadas pela chuva em 2010
Catástrofes naturais como essa que estamos vendo na Região Sudeste têm se tornado cada vez mais comuns e mais intensas. A equipe do Bom Dia Brasil em São Paulo ouviu especialistas. Há anos a gente ouve alertas de cientistas de que o clima está mudando.
Os fenômenos climáticos estão ficando mais extremos.Há uma trágica mistura de fatores que faz o número de mortos aumentar exponencialmente, ano a ano. Muitas vezes não há interesse em desocupar áreas de risco porque isso pode tirar votos de políticos profissionais.
E poder público gasta hoje treze vezes mais para recuperar áreas atingidas por desastres naturais do que para prevenir as tragédias.
Um levantamento do Ministério da Integração Nacional mostra que 473 pessoas morreram no Brasil em 2010, atingidas de alguma forma pela chuva. Só este mês, na tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro, o número de vítimas já passou disso. E o volume de água trazido pela chuva também está aumentando.
“Na Região Metropolitana de São Paulo até a década de 1950, nós não observávamos chuvas fortes, chuvas intensas, ou seja, chuva com volume superior a 100 milímetros por dia. Hoje nós observamos cerca de cinco casos por ano. Para se ter uma ideia, chuvas acima de 30 milímetros por dia são suficientes para causar enchentes. É esse quadro que deve se intensificar, inclusive nos próximos anos, em virtude também do aquecimento global”, acrescenta o pesquisador do Inpe, Gilvan Sampaio.
Durante todo o ano passado, o Governo Federal usou com obras de prevenção e preparação para desastres R$ 167,5 milhões, segundo a ONG Contas Abertas, que acompanha os investimentos públicos. Só para recuperar os estragos provocados pelos desastres, foram R$ 2 bilhões, um gasto quase 13 vezes maior.
Para o professor de ciência política da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Abrucio, o poder público deveria unir forças num programa nacional de prevenção, inclusive com a parceria do setor privado para reurbanizar as áreas de risco e garantir moradia para as famílias que tiverem de deixar esses locais.
“Eu acho que três pontos são fundamentais em um governo preventivo. Primeiro: uma articulação continua entre os três níveis de governo, segundo uma articulação continua entre os três níveis de governo; segundo, uma articulação contínua os governos Executivo, Judiciário e Legislativo e Ministério Público, para que se possa ter, de fato, ações sobre os problemas. E por fim, para ter um bom governo preventivo é preciso se ter uma articulação muito forte entre estado e sociedade. O Estado sozinho não vai ser capaz de prevenir as tragédias”, observa o cientista político Fernando Abrucio.
O geólogo do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Eduardo Macedo, lembra que essas mudanças levam tempo para acontecer. Enquanto isso, é preciso investir pesado nos sistemas de alerta para a retirada dos moradores das áreas de risco quando houver uma ameaça.
“Hoje uma reurbanização de favelas custa, pelo menos, de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões. Só São Paulo tem 1,6 mil favelas. Basta fazer as contas e ver que a quantidade de dinheiro é muito grande. Nós vamos levar muito tempo para resolver isso, talvez uma próxima geração veja esse problema resolvido. Só que você pode trabalhar a questão da previsão e da convivência com o problema. Ao menos, as pessoas podem conviver e perder suas casas, mas não perdem o principal, que é a vida”, afirma o geólogo do IPT, Eduardo Macedo.
O último mapeamento das áreas de risco em São Paulo foi feito há sete anos, e apontava 562 pontos perigosos na cidade, sendo 300 de alto risco. Um novo levantamento deve ser divulgado na próxima semana, um mês depois do início do verão.
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