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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Pesquisa analisa a efetividade dos tratamentos para micose ainda pouco estudada

Dar visibilidade a uma doença ainda pouco estudada e contribuir para melhorar a assistência aos pacientes: estas são perspectivas da dissertação de mestrado da farmacêutica Sheila Rocha Conceição Borges, defendida em dezembro no Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz). Sheila estudou a paracoccidioidomicose (PCM), doença que, apesar do nome pouco popular, é endêmica na América Latina - 80% dos casos são registrados no Brasil, sobretudo nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. A farmacêutica investigou fatores que influenciam a efetividade do tratamento, desde o medicamento utilizado até características socioeconômicas dos pacientes. Os resultados apontam para dificuldades de adesão ao tratamento, cujas causas ainda precisam ser mais estudadas, mas podem estar relacionadas ao longo tempo de tratamento, entre outros fatores. Para identificar essas causas e saná-las, aumentando a probabilidade de cura num período menor de tratamento, Sheila recomenda a atuação de equipes de saúde multidisciplinares.
 Histopatologia de paracoccidioidomicose (Imagem: CDC/Lucille K. Georg/Wikipedia) 
Histopatologia de paracoccidioidomicose (Imagem: CDC/Lucille K. Georg/Wikipedia) 


Descrita pela primeira vez em 1908, pelo cientista Adolpho Lutz, a PCM é uma micose sistêmica causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis. Ela acomete, principalmente, homens, de 30 a 50 anos, que trabalham ou trabalharam com o manuseio da terra. Formas do parasita, encontrado no solo, são inaladas, atingem o tecido pulmonar e podem se disseminar pelo sangue para outras partes do corpo, como a pele. A PCM pode provocar incapacidade e morte prematura, com impacto econômico significativo, uma vez que atinge, em geral, pessoas em idade produtiva. Nas zonas endêmicas, a incidência da doença pode chegar a três casos novos por 100 mil habitantes ao ano.

O Ipec atende pacientes com PCM desde 1949. Sheila atuou, junto a pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatologia Infecciosa, na construção de um extenso banco de dados. Foram levantadas informações sobre 460 portadores da doença que receberam tratamento no Instituto em algum período entre 1987 e 2009. No grupo estudado, 89,8% eram homens; 59,8% tinham idade entre 40 e 59 anos; 68,6% tinham ensino fundamental incompleto ou eram analfabetos; e 89,8% apresentavam a doença sob a forma crônica do adulto. “De acordo com a análise, 69,6% tiveram desfecho de cura após receberem o primeiro tratamento. No entanto, um número considerável de pacientes – 129 – precisou fazer tratamentos subseqüentes", diz Sheila.

As análises estatísticas feitas pela pesquisadora revelaram uma série de associações importantes. Ela verificou, por exemplo, que os pacientes com até 19 anos de idade – todos portadores da forma juvenil e mais grave da doença – evoluíam mais lentamente para a cura. “Se comparados aos outros grupos etários, eles apresentaram taxa de incidência de cura reduzida em 60%”, afirmou. Sheila também constatou o impacto negativo de tratamentos irregulares e incompletos. Pacientes que completaram o tratamento apresentaram um aumento de 5,1 vezes na taxa de incidência de cura.

Por fim, a farmacêutica avaliou os tipos de tratamento utilizados: de um lado, o itraconazol; de outro, a associação entre sulfametoxazol e trimetoprima, hoje amplamente usada por ter um custo considerado menor. Entretanto, a análise de Sheila mostrou que o itraconazol possibilitou a cura em um tempo mediano de 14 meses, enquanto a associação dos outros dois medicamentos requer 24 meses. Essa economia de tempo, portanto, poderia sinalizar que o itraconazol oferece uma melhor relação custo/efetividade no tratamento da PCM. Assim, superados os possíveis riscos de interações medicamentosas do itraconazol com outros medicamentos eventualmente usados pelos pacientes para tratar outras doenças coexistentes, ele poderia ser o fármaco de primeira escolha.

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