Cientistas finalmente encontraram a resposta para um dos grandes mistérios sobre a mais mortal das bactérias, a Staphylococcus aureus: porque ela ataca principalmente humanos e não animais. Agora eles têm uma ideia porque algumas pessoas são particularmente suscetíveis a esse microorganismo, que só nos Estados Unidos mata cem mil por ano, muito mais que qualquer outro.
Num estudo divulgado hoje, pesquisadores da Universidade Vanderbilt dizem que a S. aureusconcentra-se em determinadas regiões da hemoglobina humana, de modo que ela consegue penetrar na molécula e se alimentar do ferro em seu interior. Suspeita-se que as pessoas resistentes à bactéria têm pequenas variações genéticas que alteram a hemoglobina, tornando-a impermeável ao ataque.
O estudo faz parte de um olhar mais geral sobre genes e doenças. Com novas ferramentas para analisar em detalhes pequenas variações genéticas, cientistas estão se perguntando o motivo de algumas pessoas adoecerem e outras não, algumas morrerem vítimas de doenças e outras quase sempre escaparem. Por exmeplo, 30% da população têm a S. aureus no nariz, sem sinal de infecção.
Segundo especialistas, a descoberta, publicada na edição de ontem da revista Cell Host & Microbe, responde a uma série de perguntas sobre a bactéria e aponta novos rumos para a pesquisa.
- É um trabalho fantástico - disse Frank DeLeo, do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas. - É realmente um grande passo nessa área.
A pesquisa começou em 2002 quando Eric P. Skaar fazia pós-doutorado e era fascinado pela bactéria.
- A infecção por S. aureus é a pior ameaça a saúde pública - disse ele. - É a causa número um de infecções de coração, pele e tecidos moles. É uma grande causa de pneumonia. É a número um em infecção hospitalar.
As bactérias podem se hospedar em qualquer tecido do corpo, ele acrescentou. E a S. aureus é "uma espécie assustadora".
Porém, como todos os organismos, ela precisa de ferro, e Skaar se perguntou como a bactéria conseguia isso. A resposta é que a S. aureus invade as células vermelhas do sangue e pega o ferro. Agora, professor adjunto na Vanderbilt, Skaar fez uma pergunta que ninguém havia pensado: A bactéria gosta mais de hemoglobinas que outras?
Ele produziu estafilococos no laboratório, dando-lhes o sangue de diferentes animais, de camundongos a babuínos e humanos. E o germe preferia definitivamente o sangue humano. E quanto mais importante o animal na escala evolutiva, mas a bactéria gostava do sangue.
Então Skaar e seus colegas descobriram a proteína na estafilococo que ataca a hemoglobina e verificaram que ela se agarra a segmentos da proteína do sangue específicos em humanos. Ela pode atacar segmentos similares em hemoglobinas de animais, mas de forma menos ativa.
Finalmente, os pesquisadores infectaram dois grupos de camundongos. Um deles criado em laboratório e com hemoglobina normal. O outro tinha metade hemoglobina humana e metade de roedor. Este teve dez vezes mais bactérias crescendo em seus órgãos.
Isso explica porque tem sido tão frustrante estudar infecções por estafilococos em camundongos, diz Mark S. Smeltzer da Universidade de Arkansas. Pesquisadores usam camundongos, que são baratos e prontamente disponíveis, para estudar os tratamentos e as vacinas contra estafilococos.
Para Skaar o estudo responde a uma das questões mais prementes sobre infecções por estafilococos nas pessoas: Por que um terço da população tem a bactéria no nariz e não adoece, enquanto em outras pessoa uma infecção pela bactéria pode ser letal?
- Na minha opinião, essa é a questão mais importante na biologia da S. aureus - disse.
Ele afirma que há fatores genéticos que determinam a susceptibilidade à infecção entre as espécies. Mas exxistem também fatores genéticos que determinam a susceptibilidade dentro de uma espécie: a humana?
Há um jeito de descobrir. Estão bem caracterizadas pequenas diferenças genéticas nas hemoglobinas entre diferentes pessoas. E o Centro Médico Vanderbilt tem um banco genético com o DNA de milhares de seus pacientes. Skaar está usando esse banco para pesquisar os genes da hemoglobina de todos os pacientes que sofreram infecções por estafilococos para compará-los com as seqüências de pacientes que não se infectaram. Se existem variações entre as hemoglobinas humanas que determinam a susceptibilidade a estafilococos, é provável que sua equipe as encontre.
Sua esperança é que no futuro o paciente vai entrar num hospital e, como parte de uma rotina, os médicos vão determinar, a partir da hemoglobina da pessoa, se é preciso se preocupar com o estafilococo. Aqueles suscetíveis receberiam antibióticos intravenosos antes de submeterem a procedimentos de risco, como cirurgia.
- É a mais excitante possibilidade - disse Skaar. Só de saber se você é mais suscetível seria muito valioso.
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