Técnica permite reconstituição de bicos com diferentes tipos de próteses. Procedimento com peça de metal foi realizado por veterinários em ganso.
Por Eduardo Carvalho
Do Globo Natureza, em São Paulo
Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma nova técnica de reconstituição de bicos de aves que utiliza um superadesivo para fixar as próteses nos animais.
O produto, segundo os pesquisadores, é 12 vezes mais resistente do que as colas instantâneas feitas para uso doméstico e permitiu a implantação da primeira prótese de metal em uma ave, procedimento realizado no Brasil em um exemplar de ganso. (Veja vídeo acima que mostra como é feito o procedimento)
A técnica utiliza compostos que produzem um adesivo que escorre pelas camadas de queratina do bico das aves. De acordo com o pesquisador Roberto Fecchio, um dos responsáveis pela criação do produto, os trabalhos para se chegar ao material foram iniciados em 2005. A cola foi obtida em 2010 e sua descrição publicada no periódico científico “Materials Science and Engineering”.
“Nós estudamos a aderência de alguns adesivos fazendo microscopia eletrônica, para ver qual deles tinha uma boa aderência. Foram feitos estudos biomecânicos que mediram a força de tração no bico, ou seja, foi verificado qual é força necessária para que a peça fosse removida. No total foram testados 27 diferentes sistemas adesivos”, explicou Fecchio.
Segundo Fecchio, que contou com a ajuda de especialistas da Universidade da Califórnia, dos Estados Unidos, e da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), a partir da definição de um padrão de sistema adesivo, foi possível pensar em quais materiais protéticos poderiam ser usados na recuperação de aves.
Prótese de metal
A surpresa foi que a supercola conseguiu também fixar um bico de metal em aves. Segundo Fecchio, o metal é um material considerado de difícil fixação em animais, além de pesado como prótese para aves, que precisam ser leves para voar. No entanto, com a aplicação da cola, foi possível realizar, segundo ele, a o primeiro implante de bico de metal do mundo em um ganso.
A surpresa foi que a supercola conseguiu também fixar um bico de metal em aves. Segundo Fecchio, o metal é um material considerado de difícil fixação em animais, além de pesado como prótese para aves, que precisam ser leves para voar. No entanto, com a aplicação da cola, foi possível realizar, segundo ele, a o primeiro implante de bico de metal do mundo em um ganso.
A cirurgia aconteceu pela primeira vez no Brasil, com um exemplar da espécie que perdeu parte do bico durante uma briga com um cão. O incidente aconteceu em 2010 e a cirurgia ocorreu apenas no ano seguinte. “O bico de metal foi a opção mais adequada, já que próteses homólogas (retiradas de cadáveres da mesma espécie) e autógenas (com recolocação do mesmo bico) não funcionaram”.
Durante 11 meses, segundo o médico, o bico não sofreu oxidação e não atrapalhou a ave no processo de impermeabilização das penas (com o bico, o ganso pega a gordura produzida pela glândula uropigiana e a espalha pelas penas, permitindo que não afunde enquanto nada).
No início de novembro deste ano, o ganso Chicão reapareceu no Hospital Veterinário da USP para um novo procedimento cirúrgico. A prótese foi tirada por outro cão. Além do superadesivo, desta vez a prótese foi reforçada com parafusos e linhas de aço, para impedir nova queda.
“O Chicão é muito briguento. No quintal onde ele fica, ninguém entra. Ele até me ataca”, disse Idê Batista Santos, 73 anos, proprietária do ganso e moradora do bairro Perus, em São Paulo.
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