Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma nova técnica de reconstituição de bicos de aves que utiliza um superadesivo para fixar as próteses nos animais.
O produto, segundo os pesquisadores, é 12 vezes mais resistente do que as colas instantâneas feitas para uso doméstico e permitiu a implantação da primeira prótese de metal em uma ave, procedimento realizado no Brasil em um exemplar de ganso. (Veja vídeo acima que mostra como é feito o procedimento)
A técnica utiliza compostos que produzem um adesivo que escorre pelas camadas de queratina do bico das aves. De acordo com o pesquisador Roberto Fecchio, um dos responsáveis pela criação do produto, os trabalhos para se chegar ao material foram iniciados em 2005. A cola foi obtida em 2010 e sua descrição publicada no periódico científico “Materials Science and Engineering”.
“Nós estudamos a aderência de alguns adesivos fazendo microscopia eletrônica, para ver qual deles tinha uma boa aderência. Foram feitos estudos biomecânicos que mediram a força de tração no bico, ou seja, foi verificado qual é força necessária para que a peça fosse removida. No total foram testados 27 diferentes sistemas adesivos”, explicou Fecchio.
Segundo Fecchio, que contou com a ajuda de especialistas da Universidade da Califórnia, dos Estados Unidos, e da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), a partir da definição de um padrão de sistema adesivo, foi possível pensar em quais materiais protéticos poderiam ser usados na recuperação de aves.
Prótese de metal 
A surpresa foi que a supercola conseguiu também fixar um bico de metal em aves. Segundo Fecchio, o metal é um material considerado de difícil fixação em animais, além de pesado como prótese para aves, que precisam ser leves para voar. No entanto, com a aplicação da cola, foi possível realizar, segundo ele, a o primeiro implante de bico de metal do mundo em um ganso.
A cirurgia aconteceu pela primeira vez no Brasil, com um exemplar da espécie que perdeu parte do bico durante uma briga com um cão. O incidente aconteceu em 2010 e a cirurgia ocorreu apenas no ano seguinte. “O bico de metal foi a opção mais adequada, já que próteses homólogas (retiradas de cadáveres da mesma espécie) e autógenas (com recolocação do mesmo bico) não funcionaram”.
Durante 11 meses, segundo o médico, o bico não sofreu oxidação e não atrapalhou a ave no processo de impermeabilização das penas (com o bico, o ganso pega a gordura produzida pela glândula uropigiana e a espalha pelas penas, permitindo que não afunde enquanto nada).
No início de novembro deste ano, o ganso Chicão reapareceu no Hospital Veterinário da USP para um novo procedimento cirúrgico. A prótese foi tirada por outro cão. Além do superadesivo, desta vez a prótese foi reforçada com parafusos e linhas de aço, para impedir nova queda.
“O Chicão é muito briguento. No quintal onde ele fica, ninguém entra. Ele até me ataca”, disse Idê Batista Santos, 73 anos, proprietária do ganso e moradora do bairro Perus, em São Paulo.

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O ganso Chicão após receber bico de metal