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terça-feira, 3 de abril de 2012


Estresse faz inflamações ficarem fora de controle

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO


Analisando dados de dois estudos com seres humanos, uma equipe de cientistas flagrou um mecanismo que faz com que o estresse aumente o risco de doenças ao afetar a capacidade do organismo de controlar as inflamações.

"O estresse psicológico crônico está associado a um risco maior de depressão, doença cardiovascular, diabete, doenças autoimunes, infecções respiratórias e pior cicatrização de feridas", lembram os autores do estudo, liderados por Sheldon Cohen, da Universidade Carnegie Mellon, de Pittsburgh (EUA).

Havia a hipótese de que o estresse agiria diretamente por meio do aumento do hormônio cortisol no sangue.

O organismo libera esse hormônio em resposta a uma situação estressante. O cortisol aumenta a pressão arterial e o açúcar no sangue, proporcionando mais energia. Mas, a longo prazo, o excesso pode causar problemas.

"A ideia de que o estresse age por meio dos efeitos diretos do cortisol está se tornando menos provável. O que pode ser mais significativo é como os tecidos respondem ao cortisol, e não os níveis do hormônio em si", escreveram Cohen e colegas na revista científica americana "PNAS".

Editoria de arte/Folhapress
INFLAMAÇÃO SEM FREIO

Eles propõem um modelo que explicaria o maior risco de doença por meio da diminuição da sensibilidade das células de defesa do corpo aos hormônios que normalmente agem para colocar um freio na resposta inflamatória. Essa diminuição é conhecida pela sigla em inglês GCR.

Os dois experimentos envolveram dois grupos de adultos com, respectivamente, 276 (125 homens, 151 mulheres, idade média de 29 anos) e 82 (39 homens, 43 mulheres, idade média de 37 anos) voluntários em boa saúde. Muitos, porém, tinham passado por "eventos de vida estressantes" ao longo do ano anterior.

"Esse é um critério padronizado que se mostrou capaz de ajudar a prever doenças no passado. Os eventos variam muito, mas podem ser coisas como ter problemas recorrentes com um cônjuge, problemas recorrentes no trabalho, a perda por morte de um amigo próximo ou membro da família, ter sido preso etc.", disse Cohen à Folha.

Os voluntários receberam pelo nariz soluções contendo vírus do resfriado comum (rinovírus) e depois ficaram de quarentena. Eles foram acompanhados durante cinco dias para avaliação do seu estado de saúde e presença de sintomas de resfriado, com lavagens nasais para verificar a presença do vírus.

Os resultados do primeiro estudo indicaram que as células de defesa, do sistema imunológico, eram menos sensíveis aos hormônios que encerram a resposta inflamatória nas pessoas estressadas do que em outros indivíduos igualmente saudáveis, mas que não passaram por estresse no ano anterior.

SENSÍVEL

O segundo estudo foi feito para checar a produção de substâncias capazes de promover a inflamação, as citocinas. E descobriu que, quanto mais a pessoa tinha GCR, ou seja, menor sensibilidade do sistema de defesa, maior foi a produção de citocinas pelo organismo.

Os resultados dos dois estudos, afirmam os autores, indicam como o estresse afeta a regulação da inflamação pelo organismo. "Como a inflamação desempenha um papel importante na iniciação e progressão de uma ampla gama de doenças, esse modelo pode ter amplas implicações para a compreensão do papel do estresse na saúde", concluíram os sete autores do estudo.

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