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quinta-feira, 22 de março de 2012

Brasileiros desenvolvem fármaco inorgânico contra tuberculose
Os cientistas estão utilizando os nanocarregadores, moléculas que levam os agentes do medicamento pelo organismo até o lugar de origem da doença.
Nanocarregadores

Pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo novos fármacos contra tuberculose, capazes de reduzir o tempo médio atual de tratamento, que é de seis meses.

Para isso, os cientistas utilizam carregadores, moléculas que levam os agentes do medicamento pelo organismo até o lugar de origem da doença.

Esses carregadores, também conhecidos como nanopartículas inteligentes, devido ao seu tamanho, são baseados em complexos organometálicos de rutênio.

Os experimentos em laboratório com proteínas in vitro e em pequenos animais foram concluídos com êxito.

Os estudos estão sendo realizados pelos professores Javier Ellena, do IFSC (Instituto de Física de São Carlos, da USP), Alzir Batista, do Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e Clarice Queico Leite, da Faculdade de Farmácia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara.

Complexos organometálicos

Os pesquisadores procuram investigar as barreiras biológicas que devem ser ultrapassadas por medicamentos até seu alvo específico dentro do corpo, ou seja, os problemas de transporte que acabam por reduzir a eficácia do fármaco contra a doença.

"Para isso, utilizamos os chamados carregadores, que são moléculas maiores e mais flexíveis, com propriedades específicas que as permitem passar através de tecidos e levar os agentes do medicamento até o lugar de origem da doença, que no caso da tuberculose é uma enzima específica", conta o professor Javier.

Estas moléculas estão intimamente relacionadas à atividade de complexos organometálicos de rutênio.

"O corpo humano tem complexos organometálicos, mas em pouca quantidade", aponta o professor do IFSC. "Em grande quantidade, eles podem se ligar a algumas proteínas e danificá-las, causando intoxicação".

O mercúrio, que se encaixa nesta categoria de íons pesados, causa um grande número de intoxicações graves. Por esta razão, os pesquisadores trabalham com o rutênio, um complexo mais estável, mais tolerado pelo organismo humano (portanto menos perigoso) e muito mais bem estudado pela ciência.

"O principal diferencial entre o tratamento atual e este novo fármaco é este carregador, ou seja, temos um novo sistema de liberação dos agentes", esclarece Javier.

Os testes in vitro - aplicação do medicamento em proteínas isoladas em laboratório - já foram realizados com ótimos resultados, além dos testes in vivo, em pequenos animais.

O próximo passo é dar início a experimentos clínicos, em humanos, o que exige grandes preparativos e financiamentos, além de parcerias com empresas farmacêuticas responsáveis pela supervisão dos testes.

Mas uma das grandes superações do projeto foi a investigação da atuação do composto desenvolvido pelos pesquisadores sobre a enzima específica que é fonte da tuberculose no corpo humano.
Professores Alzir Batista (UFSCar) e Javier Ellena (IFSC) reuniram uma equipe multidisciplinar para tentar encontrar novos tratamentos contra a tuberculose.

Biossíntese

Os pesquisadores conseguiram entender melhor a atuação do fármaco dentro do corpo, o que é muito difícil em qualquer medicamento - a atuação dos compostos ocorre ao nível da biossíntese, na parede celular das bactérias.

Outra etapa consiste na caracterização e controle de qualidade de insumos farmacêuticos em estado sólido, ou seja, em forma de comprimidos. "Normalmente, quando se desenha um fármaco, costuma-se pensar em uma produção em pequena escala, mas para garantir que as maiores quantidades utilizadas em testes em laboratório tenham uma ação idêntica ao fármaco pensado originalmente, precisamos fazer uma análise físico-química e verificar se o processo resulta no mesmo produto, com as mesmas qualidades", explica Javier.

Segundo ele, a chave para o bom desenvolvimento da pesquisa foi a interdisciplinaridade e a colaboração de especialistas de diversas áreas. "Conseguimos, em conjunto, produzir um medicamento inorgânico contra a tuberculose", comemora. "Em colaboração, podemos obter resultados muito melhores do que aqueles produzidos sozinhos.".

Lei do mercado

Em países desenvolvidos, segundo o professor Batista, um fármaco leva em média quinze anos para ser disponibilizado no mercado.

O caso da tuberculose é ainda mais complexo, pois continuam a ser pouco atrativos, enquanto investimento, para empresas farmacêuticas internacionais, devido ao baixo poder econômico das populações atingidas.

O fármaco inovador, portanto, além de acenar para a possibilidade de um tratamento mais ágil, atuaria com maior eficiência, com menos efeitos colaterais e pode ser utilizado em conjunto com outros medicamentos, em uma terapia mista, como um coquetel.

Devido a estas otimistas perspectivas, Batista foi convidado para o conceituado Congresso Europeu de Química Inorgânica Biológica, que acontecerá em setembro na Espanha, para apresentar os resultados das pesquisas desta parceria.

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