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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Tecnologia que reanimar o coração sem ferí-lo


Indústrias já se mostraram interessadas no licenciamento da nova tecnologia para fabricação dos aparelhos em escala comercial.
Deficiências dos desfibriladores

Pesquisadores brasileiros desenvolveram um novo modelo de desfibrilador que pode ajudar a salvar vidas de pacientes cardíacos com menos efeitos colaterais negativos.

Cerca de 40% das paradas cardíacas súbitas são causadas pela fibrilação ventricular, um tipo potencialmente letal de arritmia.

O tratamento mais efetivo para o problema é a desfibrilação, medida que consiste na aplicação de um choque elétrico para estimular as células do coração, que voltam então a acompanhar o ritmo normal do órgão.

A abordagem, porém, não está livre de efeitos colaterais.

Da mesma forma que excita um dado número de células cardíacas, a corrente elétrica aplicada pode lesar e até mesmo provocar a morte de outras tantas.

Acertando o coração

Atentos a esta consequência indesejada, cientistas do Laboratório de Pesquisa Cardiovascular (LPCv) da Unicamp desenvolveram estudos com o objetivo de tornar o procedimento mais eficiente e seguro.

Os pesquisadores descobriram que o campo elétrico necessário para estimular as células cardíacas, quando orientado no sentido do eixo longitudinal das células, é cerca de metade daquele quando a orientação é transversal.

Todavia, também ficou comprovado que, à medida que aumenta o campo elétrico, não só mais células podiam ser "recrutadas", mas também mais células eram lesadas ou mortas pelo efeito do choque.

Ou seja, a posição em que ocorre a estimulação exerce papel importante no resultado do procedimento.

Esse conhecimento foi incorporado em dois novos equipamentos, um estimulador e um desfibrilador multidirecional.

Ensaios realizados com os equipamentos em nível celular e em modelo animal apresentaram resultados tão animadores que a Universidade já depositou um pedido de patente.

Estimulador multidirecional

O estimulador multidirecional baseia-se no princípio de que, se numa direção preferencial já ocorria a excitação das células, a variação da direção do campo possivelmente proporcionaria um maior recrutamento.

"Quando estimulamos nas três direções, conseguimos recrutar cerca de 80% das células com uma intensidade do campo que recruta apenas 40% em uma só direção.

"Além disso, também constatamos que a abordagem multidirecional possibilita a redução de 50% da potência empregada para se obter o mesmo recrutamento", detalha Alexandra Valenzuela da Fonseca, que desenvolveu o equipamento.

O conceito de recrutar e ao mesmo tempo proteger o maior número de células possível é importante para tornar os procedimentos de estimulação e desfibrilação mais eficientes e seguros.

Desfibrilador multidirecional

Com estes resultados, os pesquisadores partiram então para o desenvolvimento de um desfibrilador multidirecional.

O desafio ficou a cargo de Marcelo Viana, que construiu um protótipo utilizando componentes tradicionais, os mesmos empregados nos desfibriladores convencionais: duas pás, com três eletrodos cada uma, são acopladas ao equipamento para aplicação do choque.

Segundo Marcelo, o "pulo do gato" do instrumento é o seu sistema de chaveamento, que permite a aplicação muito rápida de choques sequenciais - menos que um décimo de segundo para a conclusão do processo - em três direções diferentes.

"Com o equipamento, conseguimos reduzir a potência em 20% mesmo para uma probabilidade de 90% de índice desfibrilatório. Ou seja, a estimulação multidirecional demonstrou ser uma importante inovação para a realização de uma abordagem mais eficiente e segura", assinala Marcelo.

Indústrias já se mostraram interessadas no licenciamento da nova tecnologia para fabricação dos aparelhos em escala comercial.
Desfibriladores de baixa energia poupam o coração e não doem

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