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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Esqueça (quase) tudo que você sabe sobre oxidantes e antioxidantes


Esqueça (quase) tudo que você sabe sobre oxidantes e antioxidantes
Sinais luminosos emitidos pelos biossensores indicam a produção de oxidantes no tecido dos animais.

Estresse oxidativo
O chamado "estresse oxidativo" tem sido apontado em inúmeras pesquisas como o vilão de inúmeros processos danosos à saúde.
Entre eles estão a calcificação arterial, o câncer e doenças degenerativas, como Parkinson e Alzheimer.
O próprio processo de envelhecimento tem sido creditado ao estresse oxidativo, que ocorre quando há nos tecidos um excesso das chamadas espécies reativas de oxigênio (ou ROS, do inglês Reactive Oxygen Species).
Esses compostos são oxidantes - é daí que se tem dado tanta importância aos antioxidantes, que combateriam processos patogênicos ou o envelhecimento, embora haja muita controvérsia na área:
Sem fundamentação adequada
No entanto, esses estudos, que fundamentaram esse "saber corrente" sobre oxidantes e antioxidantes, não eram assim tão bem fundamentados.
"Até agora, ninguém tinha sido capaz de observar diretamente alterações nas espécies reativas de oxigênio em um organismo vivo e menos ainda como eles se conectam com os processos das doenças," afirmou o Dr. Tobias Dick, do renomado Centro de Pesquisas do Câncer da Alemanha (DKFZ).
"Havia apenas alguns métodos indiretos ou muito pouco específicos de detectar quais processos oxidativos estão realmente acontecendo em um organismo," desmistifica ele.
Na verdade, praticamente todos esses estudos eram feitos em células, ou em amostras de tecidos, mas nunca em um animal vivo.
Oxidantes não estão relacionados com envelhecimento
Foi por isto que o estudo da equipe alemã atraiu tanta atenção ao ser divulgado na semana passada.
Eles finalmente conseguiram observar os processos que envolvem as espécies reativas de oxigênio em um animal vivo.
E os resultados desta primeira análise mostram que esses oxidantes não tão ruins, ou tão nocivos ao organismo, quanto se imaginava.
O mais impactante é que os pesquisadores não observaram nenhuma associação entre o envelhecimento e um aumento geral nos oxidantes no organismo:
"O grupo não encontrou nenhuma evidência suportando a tão falada hipótese de que o tempo de vida de um organismo é limitado pela produção de oxidantes danosos," afirma o instituto alemão em comunicado.
O único aumento nas espécies reativas de oxigênio com alguma relação com o envelhecimento foi localizado no tecido intestinal.
Mas mesmo aí, animais que viveram mais tiveram um incremento nos oxidantes ainda mais acelerado do que nos animais que viveram menos - ou seja, a associação foi positiva, e não negativa.
Produção de oxidantes varia pelo corpo
"Muitas coisas que observamos nos animais com a ajuda dos biossensores foram surpresas para nós. Parece que muitas conclusões obtidas [em estudos] com células isoladas simplesmente não podem ser transferidas para um organismo vivo completo," resume o Dr. Tobias Dick.
Os biossensores são genes que os cientistas introduziram no material genético de moscas da fruta, o modelo animal preferido nestas pesquisas.
Esses biossensores são específicos para vários oxidantes e indicam o status do estresse oxidativo de cada célula emitindo um sinal luminoso, em tempo real, e ao longo de toda a vida da cobaia.
Isto permitiu que os cientistas demonstrassem que os oxidantes não são produzidos igualmente por todo o corpo, mas variam largamente de órgão para órgão.
Por exemplo, as células sanguíneas produzem muito mais oxidantes em seus geradores de energia, as mitocôndrias, do que as células musculares ou intestinais.
Além disso, o comportamento da larva se reflete na produção das espécies reativas de oxigênio em tecidos individuais: os pesquisadores foram capazes de distinguir se a larva estava se alimentando ou se estava se movendo usando a energia acumulada em suas células de gordura - ou seja, pelo estresse oxidativo dessas células.
"Antioxidante" mais famoso não reduz oxidantes
Para tirar qualquer dúvida, os cientistas alimentaram os animais com N-acetil-cisteína (NAC), uma substância que se acredita ter um efeito antioxidante e que muitos cientistas defendem como sendo um protetor contra todos os efeitos danosos atribuídos aos oxidantes.
Novamente o efeito surpreendeu, saindo exatamente ao contrário do que tanto se fala - não foi apenas que os cientistas não encontraram nenhuma evidência de redução nos oxidantes em razão da ingestão da NAC; mas, ao contrário, a ingestão do antioxidante causou uma elevação dos oxidantes em vários tecidos dos animais.
"O exemplo do NAC também demonstra que atualmente nós ainda não somos capazes de influenciar de forma previsível os processos oxidativos em um organismo vivo por meio de fármacos," afirmou o Dr. Dick.
Mas, se passar do estudo de uma célula para o estudo de um animal vivo, durante todo o seu tempo de vida, já foi um grande avanço, ainda falta muito para compreender o papel dos oxidantes e anti-oxidantes no corpo humano.
"É claro, nós não podemos simplesmente transferir essas descobertas das moscas da fruta para o homem. Nosso próximo objetivo é usar os biossensores para observar o estresse oxidativo em mamíferos, especialmente em reações inflamatórias e no desenvolvimento de tumores," concluiu o cientista.

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