Reservatório deve quadruplicar a capacidade de armazenamento de sementes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
ISTAMBUL - O Brasil vai inaugurar em 2012 um dos maiores bancos genéticos do mundo para o estoque de sementes e variedades de alimentos. A iniciativa é da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que investirá R$ 10 milhões para multiplicar por quatro a atual estrutura da instituição.
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“É questão de segurança nacional, tanto por motivos econômicos quanto para garantir a capacidade de produzir alimentos para a população”, declarou ao Estado o presidente da Embrapa, Pedro Antonio Arraes Pereira, durante viagem à Europa com a presidente Dilma Rousseff.
Hoje, a Embrapa armazena 200 mil espécies de plantas, sementes e informações em seu germoplasma - unidade conservadora de material genético. Com a quadruplicação dessa cifra, apenas Estados Unidos, Europa e China teriam bancos genéticos superiores aos do Brasil.
Na avaliação de Pereira, a construção do reservatório genético pretende dar garantia ao Brasil no enfrentamento de eventuais surtos de novas doenças. “É uma proteção para o futuro”, disse, lembrando que os recursos genéticos podem ficar até cem anos estocados dessa forma.
O Brasil é o terceiro maior exportador agrícola, superado apenas por Estados Unidos e União Europeia. Pelas projeções da Embrapa, a produção de alimentos no mundo terá de dobrar até 2030 para abastecer os mercados. Internamente, o combate à pobreza significará consumo cada vez maior. A proteção da riqueza agrícola do País, portanto, passa a ser exigência estratégica.
Além de multiplicar o reservatório de recursos genéticos de plantas e sementes autóctones, a Embrapa promete focar suas atenções na cana-de-açúcar, tanto para desenvolver espécies mais produtivas em termos energéticos como para se proteger de pragas. Onze novas espécies de canas estão sendo trazidas dos reservatórios genéticos dos Estados Unidos para o Brasil.
Outro exemplo é a tentativa de se aproximar da China, com a abertura de um laboratório no país asiático para trazer ao Brasil resultados de pesquisas e informações genéticas sobre a soja. A soja tem origem na China e uma colaboração é vista como importante para permitir que a Embrapa possa desenvolver sementes com novas resistências. “Essa pesquisa pode dar maior resistência às nossas variedades de soja”, explicou.
Para Pereira, é o comportamento do Brasil que dificulta a ampliação da base de dados genéticos, já que países como os EUA oferecem informações genéticas apenas ao ver que há uma atitude de reciprocidade. Ele critica o fato de que, no País, parte da classe política resiste a qualquer indicação de que o Brasil possa facilitar a troca de informações genéticas com um parceiro estrangeiro, alegando que o País revelaria dados fundamentais a concorrentes. Para ele, a discussão sobre a proteção de recursos genéticos pelo governo, sob a alegação de defender a soberania nacional, não faz sentido.
Estratégia. A construção do reservatório de recursos genéticos faz parte de uma estratégia de internacionalização da Embrapa. Nos últimos cinco anos, a empresa duplicou seu orçamento destinado a apoiar atividades no exterior, chegando a quase US$ 2 milhões por ano para manter projetos, escritórios e troca de informações. Apesar de ser usada como uma perna científica da diplomacia brasileira, a empresa não conseguiu do Executivo a aprovação de uma legislação internacionalizando a Embrapa.
Nesta semana, o presidente da entidade aproveitou a viagem com a comitiva presidencial para voltar a fazer o apelo ao assessor de Assuntos Internacionais da presidência, Marco Aurélio Garcia, que prometeu acelerar os trâmites.
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