SÃO PAULO - A capital teve um aumento de 56,9% no número de diagnósticos de hepatites virais em cinco anos, segundo dados do Ambulatório de Hepatites do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids (CRT-DST/Aids), ligado à Secretaria Estadual de Saúde. Em 2004, quando a unidade iniciou suas atividades, foram identificados 388 casos da doença, número que pulou para 609 em 2009 - ano do último dado consolidado disponível.
Tanto em homens como em mulheres diagnosticados com hepatite, o tipo C foi o mais prevalente na amostra do CRT, justamente a forma mais perigosa da doença - já que está mais associada à evolução para quadros de cirrose, segundo os especialistas. O contato com sangue contaminado é a forma mais comum de transmissão - um alicate de unha não esterilizado, por exemplo, pode transmitir. Entre os pacientes do sexo masculino contaminados, 51,8% eram portadores do tipo C, índice que chegou a 69,8% na população feminina.
No caso do tipo B, de contágio prioritariamente sexual, a proporção de infectados entre os homens é quase o dobro em relação às mulheres: 33,1% dos pacientes masculinos diagnosticados com hepatite tinham essa variante da doença, ante 18,1% das mulheres. Mas já é possível, via Sistema Único de Saúde (SUS), se vacinar contra o tipo B (veja ao lado), possibilidade que não existe para o subtipo C.
No total, o CRT diagnosticou 4.164 casos de hepatites virais, sendo que a doença se mostrou predominante no público masculino, que responde por quase 70% dos casos. Para o hepatologista Fernando Pandullo, do Hospital Israelita Albert Einstein, isso pode ser resultado da maior exposição masculina à atividade sexual desprotegida, uso de drogas e riscos de ferimentos - formas de contaminação associadas à doença.
Segundo Pandullo, a hepatite é uma doença geralmente esquecida pela população. "A maioria das pessoas tem medo de morrer do coração ou de câncer, mas esquece de quadros crônicas como a hepatite e não pede para os médicos pesquisarem a presença desses vírus."
A própria característica da hepatite, doença que geralmente não provoca sintomas, agrava ainda mais a situação. "Como a grande maioria dos pacientes com hepatite B ou C é assintomática, esse aumento de diagnósticos significa que mais pessoas estão sendo testadas", diz a diretora do Ambulatório de Hepatites do CRT-DST/Aids, Mariliza Henrique da Silva. Ela acrescenta que, quanto antes feito o diagnóstico, melhor o paciente costuma responder ao tratamento.
A médica Edna Strauss, representante da Sociedade Brasileira de Hepatologia na Associação Médica Brasileira, lembra que a hepatite C está entre as principais causas de cirrose, junto com o alcoolismo. "Pesquisas em determinados hospitais mostram a hepatite C como primeira causa da cirrose. Em outros locais, o alcoolismo fica à frente", afirma.
Apesar de a evolução para a cirrose ocorrer mais comumente na hepatite C, portadores do tipo B também pedem atenção. Em ambos os casos, diz Edna, se o paciente bebe em excesso, a progressão da doença é ainda mais rápida e que a cirrose é um importante fator de risco para o câncer no fígado.
Para o químico Carlos Varaldo, fundador da ONG Grupo Otimismo de apoio ao Portador de Hepatite, a principal dificuldade em relação à doença é a dificuldade de diagnóstico. "Ela é silenciosa, vai ‘comendo’ devagarzinho o fígado. O paciente com hepatite B ou C não fica com aqueles sintomas típicos da hepatite A, como olhos amarelados, urina escura ou fezes claras", comenta.
Varaldo foi diagnosticado com hepatite C em 1995, quando ainda não havia tratamento no País. Importou, então, a medicação que hoje é acessível pelo SUS. "Segundo a OMS, há 5 milhões de pessoas com hepatite B e C no Brasil, mas apenas 150 mil diagnosticados".
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