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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Brasileiros conseguem aumentar atividade luminescente de enzima

Divulgação
Cientistas descobrem um dos 'interruptores' que pode fazer com que enzimas se tornem luminescentes

Estudo foi conduzido pelos pesquisadores da UFSCar Rogilene Prado e Vadim Viviani

Agência FAPESP - Os pesquisadores do grupo de Bioluminescência e Biofotônica da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus de Sorocaba, deram um importante passo para, em um futuro próximo, possibilitar que algumas enzimas de interesse biomédico, biotecnológico e ambiental emitam luz.

A propriedade é importante para estudar doenças como o câncer ou infecções bacterianas, por exemplo. Os cientistas descobriram um dos principais "disjuntores" presentes na "caixa de força" de enzimas com baixa capacidade de luminescência da mesma classe das luciferases - responsáveis pela emissão de luz fria e visível em vaga-lumes -, que pode ser modificado para aumentar a intensidade de sua luz.

A descoberta do estudo, resultado de projeto de pesquisa apoiado pela FAPESP por meio de um Auxílio à Pesquisa - Regular, será publicada no fim deste mês na revistaPhotochemical and Photobiological Sciences.

Em 2009, o mesmo grupo clonou e isolou da larva de um inseto não luminescente (besouro) uma enzima da mesma família das luciferases (a AMP-CoA-ligases), fracamente luminescente e conhecida como protoluciferase, para estudar como as luciferases de vaga-lumes desenvolveram durante a evolução a capacidade de catalisar a reação de oxidação da luciferina - o composto responsável pela bioluminescência de insetos - e produzir intensa luz visível.

Nos últimos anos, ao comparar as sequências de aminoácidos da protoluciferase com a luciferase, os pesquisadores da UFSCar começaram a identificar partes da estrutura delas que poderiam estar envolvidas com a determinação da atividade de produzir luz.

Por meio de técnicas de engenharia genética, a estudante de doutorado Rogilene Prado e o pesquisador Vadim Viviani, coordenador do projeto, realizaram mutações de aminoácidos da protoluciferase. Agora, o grupo identificou que a mutação de um desses aminoácidos aumenta bastante a atividade luminescente da enzima, tornando-a muito semelhante à de uma luciferase.

"É como se a enzima protoluciferase fosse um circuito eletrônico, que tem uma bateria, representada pelo oxigênio, e uma lâmpada, que é a luciferina. Descobrimos agora um dos principais interruptores presentes na estrutura delas, que é responsável por ligar a bateria à lâmpada. Ou seja, fazer com que a reação da luciferina e do oxigênio ocorra, acendendo a luz", disse Viviani à Agência FAPESP.

Segundo ele, a descoberta abre a possibilidade de tornar outras enzimas da família AMP-CoA-ligases de interesse biomédico, biotecnológico e ambiental que não produzem luz em luminescentes.

Presente em todos os organismos, incluindo bactérias e o homem, as AMP-CoA-ligases desempenham as mais variadas funções metabólicas, como a biossíntese de pigmentos (em plantas), metabolismo de lipídeos, síntese de antibióticos e eliminação de substâncias tóxicas e compostos químicos estranhos a um organismo ou sistema biológico (xenobióticos).

Em comum, a primeira reação que elas catalisam é a ativação de ácidos orgânicos, como os aminoácidos, ácidos graxos e a própria luciferina do vaga-lume, que é oxidada pelas luciferases, produzindo luz. Em função disso, os pesquisadores pretendem utilizá-las como indicadores de determinados ácidos orgânicos de interesse biomédico, como os ácidos tóxicos, e biotecnológicos.

"A capacidade de servir como um indicador para selecionar determinados ácidos orgânicos de interesse farmacêutico e biotecnológico talvez represente o maior potencial de aplicações dessas enzimas", disse Viviani.

Evolução em laboratório

Segundo o coordenador do projeto, algumas poucas luciferases de vaga-lumes norte-americanos, europeus e japoneses são utilizadas como reagentes analíticos. São usadas para detectar o estado metabólico de uma amostra biológica e biomarcadores de expressão gênica, ou para marcar células de câncer em estudos biofotônicos, por exemplo.

Por meio das pesquisas com o protótipo da enzima luciferase que clonaram e aumentaram a luminescência, os pesquisadores brasileiros pretendem criar por engenharia genética uma nova enzima luciferase que tenha a propriedade de emitir luz comparável às luciferases empregadas atualmente no mercado.

"Com as condições ideais de evolução, essa protoluciferase poderá se transformar em uma luciferase. Estamos simulando a evolução dela em laboratório", disse Vanini.

O grupo de pesquisa da UFSCar é um dos únicos dedicados ao estudo de enzimas luciferases no Brasil. No Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) há um outro grupo, coordenado pelo professor Cassius Stevani, com o qual eles colaboram, que estuda fungos luminescentes.

Já no mundo, os grupos de pesquisa na área estão estabelecidos nos Estados Unidos, Europa e Japão - esse último colabora com os pesquisadores brasileiros. E, segundo Viviani, nenhum deles ainda conseguiu clonar uma enzima protoluminescente com a capacidade de emitir luz semelhante à do grupo brasileiro.

O resumo do estudo Structural evolution of luciferase activity in Zophobas mealworm AMP/CoA-ligase (protoluciferase) through site-directed mutagenesis of the luciferin binding site, de autoria do professor Vivini e de outros pesquisadores, pode ser lido empubs.rsc.org/en/Content/ArticleLanding/2011/PP/c0pp00392a

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