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domingo, 10 de abril de 2011

Vacina contra malária tem ''pais'' brasileiros

Produto com ótimos resultados na África é fruto da pesquisa do casal Nussenzweig, que atua na New York University desde 1964


Em fevereiro, cientistas anunciaram resultados de uma promissora vacina contra malária. Milhares de crianças foram imunizadas na África. Quase metade (45,8%) ficou protegida, um recorde nos testes de larga escala. Pouca gente sabe, mas os pais da vacina são brasileiros.

"O trabalho de Ruth e Victor Nussenzweig fundamentou a concepção e o desenvolvimento da vacina", afirma Joe Cohen, da farmacêutica GSK Bio, autor do artigo no The Lancet que descreve os resultados na África. O casal Ruth e Victor vive nos EUA desde 1964. Eles trabalham na New York University (NYU).

A comunidade científica não acreditava em uma vacina para malária. Todos sabiam que, depois de sucessivas infecções, pessoas que vivem em áreas endêmicas não costumam adquirir imunidade. Daí seguia um raciocínio tão simples quanto incorreto: se a natureza não gera uma resposta imune eficaz, a técnica não pode almejar resultado melhor.

Ruth desafiou o consenso. Utilizou esporozoítos - estágio do plasmódio na glândula salivar dos mosquitos inoculado durante a picada. O primeiro passo foi esterilizá-los com Raios X, estratégia para tornar os esporozoítos inofensivos. Depois, injetou-os em camundongos. Os roedores desenvolveram imunidade, comprovando a viabilidade de uma vacina. Os resultados mereceram publicação na Nature em 1967 e foram, depois, confirmados em macacos e humanos.

Mesmo assim, a vacina permanecia distante: não seria viável dissecar mosquitos para produzir, em escala industrial, a forma atenuada do esporozoíto.

Infecção. Na década de 80, a equipe de Victor identificou a proteína na superfície do esporozoíto que, ao ser neutralizada pelo sistema imune, impossibilitava a infecção: a proteína circunsporozoíto (CSP, na sigla em inglês). Era a chave para uma vacina sintética e economicamente viável.

A descoberta rendeu uma honra incomum: a visita de Sir John Maddox, da Nature. O lendário editor da maior revista científica do mundo viajou de Londres a Nova York para garantir que o brasileiro publicaria a descrição do gene da CSP na sua revista.

As farmacêuticas ficaram eufóricas. No dia 3 de agosto de 1984, o New York Times estampou uma foto de Ruth sob o título "Uma vacina iminente contra malária".

A NYU estabeleceu uma parceria com a suíça Hoffmann-La Roche e criou uma vacina que recolhia o pedaço mais importante da CSP. Nos testes clínicos, em 1987, 35 indivíduos receberam o composto. Três tiveram ótima reação do sistema imunológico e foram expostos a picadas do mosquito infectado. Um ficou completamente protegido e os outros dois, parcialmente.

Foi um balde de água fria na opinião pública, mas, para Victor, representava um grande avanço: comprovava a viabilidade da vacina. Pouca gente concordou na época e quase todas as farmacêuticas desistiram.

Com uma exceção: Joe Cohen, da GSK Bio, sabia que os resultados eram sólidos e bastaria um bom adjuvante - substância que amplifica a resposta imune - para aumentar a eficácia. A aposta foi premiada. A vacina da GSK deve começar a proteger crianças na África em 2015.
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