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quarta-feira, 23 de março de 2011

Medidas simples e inovadoras promovem o bem-estar de animais criados em cativeiro

Todos os animais devem: ser livres de fome e sede; ser livres de desconforto termal e físico; ser livres de medo e estresse; ser livres de dor e doenças; e ter liberdade para expressar seus comportamentos naturais. Estes são os cinco princípios básicos da ciência do bem-estar dos animais que vivem em cativeiro. O assunto é polêmico, pois a própria palavra cativeiro, por si só, já pode causar a impressão de desconforto. Mas o fato é que, com medidas simples, é possível, sim, promover o bem-estar desses animais. Quem garante é o biólogo Miguel Ângelo Brück, do Centro de Criação de Animais de Laboratório (Cecal/Fiocruz).

 A última campanha adotada no Cecal foi recolher caixas de leite longa vida vazias para a confecção de “picolés de fruta”, com a intenção de trabalhar nos primatas estímulos gustativos e táteis
A última campanha adotada no Cecal foi recolher caixas de leite longa vida vazias para a confecção de “picolés de fruta”, com a intenção de trabalhar nos primatas estímulos gustativos e táteis

Brück dedica-se a estabelecer condições para uma melhor qualidade de vida dos animais criados e mantidos pela Fiocruz para fins de pesquisa biomédica, o que inclui, por exemplo, desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas. Para gerar um ambiente agradável e interativo, que atenda às necessidades físicas, cognitivas, sensoriais, sociais e nutricionais dos bichos, uma importante ferramenta é o enriquecimento ambiental, que viabiliza a quebra da rotina nas colônias e já é utilizada em diferentes unidades da Fundação.

Simples alterações na forma de apresentação dos alimentos que compõem o cardápio dos animais, bem como o fornecimento de brinquedos e outros objetos, trazem resultados expressivos na quebra da rotina de um grupo. A última campanha adotada no Cecal foi recolher caixas de leite longa vida vazias para a confecção de “picolés de fruta”, com a intenção de trabalhar nos primatas estímulos gustativos e táteis.

Em seu habitat natural, os animais estão em constante busca por alimento, água, território, parceiro sexual e abrigo, entre outras necessidades. As experiências são renovadas diariamente, trazendo desafios, conquistas e sensações diferenciadas. Já nos ambientes artificiais, eles recebem alimentação, cuidados e toda a atenção de que precisam – um zelo essencial, por um lado, mas, por outro, cerceador, pois impossibilita que os animais expressem todo o seu repertório comportamental. E é justamente aí que entra o enriquecimento ambiental.

“Com técnicas específicas relacionadas ao comportamento, essa iniciativa minimiza situações de desconforto físico e psicológico dos animais mantidos em cativeiro”, diz Brück. Mas não basta colocar uma flor do lado de fora do recinto ou apenas oferecer uma bola colorida como brinquedo. O tipo de enriquecimento ambiental a ser adotado depende de uma série de fatores, como idade, sexo, histórico dos animais, estrutura da instalação e propósito da intervenção.

Até bem pouco tempo atrás o tema “bem-estar animal” não tinha o tratamento adequado nas instituições de ensino e pesquisa científica, tanto públicas quanto privadas. Em meados dos anos 90 foi possível notar um maior esclarecimento sobre o tema no Brasil, inclusive da população civil, por meio das organizações não governamentais. Na Fiocruz, a questão é abordada como parte fundamental do processo de criação de animais, sendo o Cecal uma referência no assunto. Técnicas diversificadas de enriquecimento ambiental se fazem cada vez mais presentes no dia a dia dos profissionais que cuidam dos animais da unidade.

Em fase de implantação nas colônias de roedores e coelhos do Cecal, o enriquecimento ambiental começa a ser uma realidade tanto na criação quanto na experimentação, já que a Comissão de Ética de Uso de Animais (Ceua/Fiocruz) tem determinado seu uso nos projetos de pesquisa da Fundação. “Investimentos em equipamentos adequados, tecnologia e capacitação dos profissionais que atuam na área são algumas das ações que a Fiocruz já implantou nas unidades”, afirma Brück. Um grande exemplo é a patente do produto “elos giratórios para enriquecimento ambiental”, desenvolvido por Brück com participação direta do representante do Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT/Cecal), Paulo Abílio Varela Lisboa.

O invento “elos giratórios para enriquecimento ambiental” foi desenvolvido por Brück após anos de dedicação às colônias de primatas do Cecal. O aparelho tem como principal característica o giro independente dos elos, em função de uma peça de torção, o que possibilita ao animal girar em direções opostas ou permanecer estático enquanto outro brinca acima ou abaixo. É considerada uma forma ideal de atividade lúdica, que aumenta a interação dos grupos com segurança e criatividade.

Publicado em 22/3/2011.

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