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domingo, 6 de fevereiro de 2011

Cientistas decifram mistérios do envelhecimento e testam terapias que aliam qualidade de vida à longevidade

RIO - Em sua nova aventura, o pirata Jack Sparrow (Johnny Depp) vai em busca da fonte da juventude, ao lado de uma mulher de seu passado (Penélope Cruz). Diz a lenda que as suas águas rejuvenescem e até imortalizam. Até hoje a bendita fonte está apenas na imaginação de escritores e diretores de cinema. Quem acredita, diz que ela existe em algum lugar do Ártico e ou em alguma ilha desconhecida no oceano. Para cientistas, a fonte está perto de ser alcançada e não seria uma só, mas várias. Afirmam isso com base em novas descobertas para retardar o envelhecimento e experimentos que incluem aumento de sobrevida das células, restrição de calorias e uso de células-tronco.

Um dos caminhos que leva à fonte, apostam cientistas, é o controle da telomerase, a enzima que a cada ciclo de divisão celular repara os danos nas extremidades (telômeros) dos cromossomos; essenciais para transmitir nossa informação genética. O problema é que depois da infância a telomerase vai perdendo a sua função e os cromossomos vão encurtando cada vez mais, o que está diretamente relacionado ao envelhecimento e à morte, explica o pesquisador Lício Velloso, do departamento de Clínica Médica da Unicamp.

Tanto que numa das experiências mais interessantes - publicada na revista "Nature"- cientistas do Instituto de Câncer Dana-Farber, nos Estados Unidos, forneceram telomerase a roedores modificados para não produzirem a enzima. Com o tratamento, o envelhecimento desacelerou. Mais que isso: o cérebro deles aumentou e apresentaram melhora da capacidade cognitiva. A pele ficou viçosa e a fertilidade foi restaurada.

Exercícios teriam mesmo efeito

Seria perfeito, porém sabe-se que a atividade acelerada da telomerase é ruim. Uma de suas consequências é o câncer.

- Ainda não temos dados que garantam que bloquear a telomerase em humanos resultaria em aumento de longevidade ou aumento do risco de câncer - diz Lício.

O geriatra Luiz Eugênio Garcez Leme, professor da USP, estuda telômeros em atletas sêniores para saber se eles têm alteração nessa estrutura. A prática de atividade física, por exemplo, faz bem aos telômeros. Estudos indicam que os indivíduos que se exercitam têm essas estruturas maiores do que os sedentários. Por enquanto, ele mantém cautela quanto ao possível uso da telomerase.

- Pode ser o caminho, mas nem tudo que funciona em animais se aplica a humanos - avalia.

Radovan Borojevic, professor titular da UFRJ e presidente da Associação Técnico-Científica Paul Ehrlich, duvida que interferir na telomerase seja factível. Certos tecidos se renovam lentamente, como o nervoso e o músculo cardíaco, e outros rapidamente, como o epitélio intestinal, a cada 24 horas:

- As células devem morrer para permitir a sua substituição pelas novas. Todas as células cancerosas têm a capacidade de manter o comprimento dos telômeros intacto e são imortais e danosas.

A possível aplicação da telomerase é só um caminho. Outro é o uso de proteínas chamadas sirtuínas, presentes nas células. Em humanos foram identificadas sete e elas parecem ter papel importante na longevidade. Em um estudo na revista "Cell Metabolism", os autores dizem que uma droga experimental (a SRT1720) ativou a sirtuína 1 em camundongos. Resultado: eles queimaram mais energia e houve queda de insulina e glicose.

As sirtuínas estão tão em evidência que já existem clínicas de estética oferecendo cremes e substâncias à base do composto.

- Não há nada de concreto. É apenas mais uma forma de ganhar dinheiro com expectativas futuras, sem qualquer embasamento científico - alerta o pesquisador Carlos Montes Paixão Júnior, da UFRJ e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (RJ).

O que se sabe é que na natureza há substâncias que ativam a sirtuína, como o resveratrol, encontrado no vinho. Porém seria preciso beber muito para se obter o efeito. Diversos laboratórios tentam obter o resveratrol concentrado.

Ainda no mapa para a fonte da juventude, um atalho é a restrição calórica, orientada e sem excessos. Numa revisão sobre o tema, na revista "Science", especialistas dizem que comer menos influencia funções associadas ao envelhecimento em animais e humanos. Por exemplo, a restrição reduz o acúmulo de mutações no DNA. Na análise, os autores viram que o corte de até 50% da ingestão de calorias diária interferiu na morte celular, e os animais tiveram menos doenças relacionadas à idade, como câncer, infarto e demências.

Células-tronco: uso ainda é polêmico

E, além de comer menos, é preciso ingerir mais alimentos ricos em antioxidantes que atacam o excesso de moléculas de radicais livres, aquelas que, de forma descontrolada, oxidam o corpo, diz o endocrinologista Wilmar Accursio, presidente da Sociedade Brasileira para Estudo do Envelhecimento. Nessa lista estão verduras, legumes, frutas e cereais. Já suplementação com vitaminas e minerais só com receita. Isso porque o abuso de vitaminas, como a C, é prejudicial:

- Como temos grande quantidade de ferro, o excesso de vitamina C transforma-se num pró-oxidante, na produção do pior radical livre.

Por falar em comer, Lício lembra que o hormônio insulina pode ter efeito antienvelhecimento. Estudos com um pequeno verme de laboratório, o C. elegans, revelaram que se a ação da insulina for reduzida (não abolida) o animal entra num estado de "vida em suspensão"; seu crescimento é mais lento e a sua reprodução inibida. É como se ele estivesse hibernando.

- Dessa forma sua vida pode ser prolongada em até 60% do tempo. Testes em roedores mostraram um aumento de longevidade, mas apenas em 20%. Ao que tudo indica, quanto mais complexo o organismo menos expressivo o aumento da longevidade - explica.

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