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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Fator genético reduz resistência a estresse e eleva depressão

Um estudo publicado neste mês no periódico "Archives of General Psychiatry", reacende o debate em torno do caráter genético da depressão.

A pesquisa, das universidades de Michigan, EUA, e Würzburg, Alemanha, conclui que pessoas com uma variação mais curta do que a normal do gene 5-HTTLPR são mais propensas a ter depressão depois de situações estressantes.

O estudo revisou informações de 54 trabalhos publicados sobre o tema entre 2001 e 2010, avaliando dados de mais de 40 mil pessoas.

O resultado vai na contramão de outra metanálise, publicada em 2009, que comparou 14 estudos e não encontrou relação entre gene, estresse e depressão.

Srijan Sen, professor de psiquiatria da Universidade de Michigan e um dos autores novo trabalho, afirma que o levantamento anterior foi restrito e não analisou estudos representativos.

Segundo Sen, a nova conclusão pode explicar por que as pessoas respondem de forma diferente às mesmas situações de estresse.

"Muitos estudos mostraram que quem passa por essas situações tem um risco maior de desenvolver depressão, mas, do ponto de vista clínico, sabemos que as pessoas reagem de formas diferentes ao estresse", disse Sen à Folha, por e-mail.

O "gene da depressão" é responsável pela produção da proteína que transporta a serotonina, neurotransmissor ligado ao humor.

Normalmente, a serotonina é liberada entre os neurônios e parte é recaptada pela proteína produzida pelo gene 5-HTTLPR.

Quando a pessoa é portadora do gene alterado, a recaptação é maior, e menos serotonina é liberada para o próximo neurônio. Isso gera os sintomas da depressão.

André Brunoni, psiquiatra do Hospital das Clínicas, explica que o fator genético por si só não implica no aparecimento da depressão.

"É necessário haver interação entre a predisposição genética e o ambiente estressante", diz. "Mas, mesmo assim, é um fator de risco e não uma certeza de 100%", afirma o psiquiatra.

PERSPECTIVAS

Segundo os especialistas, descobertas como essas podem levar a um tratamento mais personalizado da doença no futuro.

"A genética molecular ainda não tem aplicação na prática clínica. No futuro, devemos encontrar fatores genéticos que associam a melhora a certos medicamentos", diz Fernando Fernandes, pesquisador do grupo de estudos de doenças afetivas do Hospital das Clínicas.

Segundo Srijan Sen, esses resultados já mudam a forma de encarar a depressão.

"Ainda há muito estigma associado a ela. Ao identificarmos um fator genético, podemos compreender que é uma doença biológica", diz.

O psiquiatra André Brunoni concorda: "Ainda há pais que não compreendem a depressão dos filhos e acham que eles podem superar isso sozinhos".

E completa: "Pensar na depressão como uma doença com causa biológica, que não é preguiça ou mera insatisfação com a vida, ajuda".

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