Introdução
Atualmente dois aspectos importantes estão em discussão a nível mundial: o aquecimento global, que traz como consequências mudanças acentuadas no clima das diferentes regiões do planeta, exigindo assim um melhor conhecimento das espécies e raças que apresentem potencial genético com maior capacidade de adaptabilidade, sendo capazes de sobreviver, produzir e se reproduzir em condições adversas de clima, principalmente nos ambientes tropicais; o outro aspecto diz respeito ao bem-estar animal, que pode ser melhorado através do oferecimento de instalações adequadas às exigências específicas de cada raça (SOUZA, 2007).
A temperatura do ar é considerada o fator climático com influência mais importante sobre o ambiente físico. A zona de conforto térmico é definida por limites de temperaturas: crítica superior e inferior. Acima da temperatura crítica superior, os animais entram em estresse pela temperatura elevada e abaixo da temperatura crítica inferior sofrem estresse pelo frio. Animais expostos a temperaturas elevadas estão sujeitos a hipertermia, fazendo com que os processos termorreguladores de perda de calor sejam requeridos para manter a homeostase. Do ponto de vista da produção animal, este aspecto reveste-se de muita importância, pelo fato de que, fora desses limites de temperatura, os nutrientes ingeridos pelos animais para serem utilizados para seu crescimento e desenvolvimento, são desviados para a manutenção do equilíbrio térmico (BAÊTA; SOUZA, 1997).
Sabe-se ainda que a associação entre elevadas temperaturas, alta umidade do ar e radiação solar acarretam alterações comportamentais e fisiológicas, que resultam em diminuição da ingestão de alimentos e redução no desempenho dos animais de produção (LU, 1989). Este trabalho tem como objetivo relatar algumas estratégias que podem ser tomadas para amenizar o efeito do estresse térmico, aumentado assim o bem-estar para os animais de produção nos trópicos.
Estratégias nutricionais e de seleção genótipos
As estratégias nutricionais para aliviar o efeito do estresse calórico em animais de produção não são efetivas sem o aperfeiçoamento da eficiência bioenergética e econômica. O manejo nutricional nos períodos mais quentes do ano deve incluir o fornecimento de "dietas frias", dietas de alta densidade energética, além de suplementação adicional de minerais e o fornecimento de água de boa qualidade (VALTORTA; GALLARDO, 1996). O uso de dietas a base de alimentos cortados e fermentados, como as silagens, especialmente de milho, tem sido recomendado e apresenta sucesso no manejo alimentar.
Apenas o uso da manipulação nutricional não é capaz de combater totalmente o estresse calórico, contudo combinações com outros métodos como: seleção genética de raças resistentes ao calor, modificações de ambiente e de manejo podem ser efetivas no combate ao estresse calórico na produção animal (FUQUAY, 1981).
A seleção de genótipos resistentes ao calor pode ser demonstrada através da expansão da criação de ovinos da raça Santa Inês que é originária do semiárido, mas que já está sendo explorada em outras regiões do Brasil, como no Norte, Sudeste e Centro-Oeste (Figuras 1 e 2).
Figura 1 - Ovinos da raça Santa Inês cruzados com Suffolk e Texel, em Piracicaba - SP (Arquivo Particular).
Figura 2 - Ovinos puros da raça Santa Inês criados em Porto Velho - RO, demonstrando elevada capacidade de tolerância ao clima quente e úmido, (Arquivo particular).
Estratégias ambientais
Existem várias alternativas de modificação ambiental destinadas a reduzir o impacto térmico sobre os animais, incluindo desde a disponibilidade de sombra, passando por resfriamento evaporativo com água em forma de névoa, neblina ou gotejamento, utilizando ventilação natural ou forçada, até a utilização de lagoas de resfriamento ou mesmo do ar refrigerado em confinamento total.
A sombra é essencial para reduzir perdas na produção de leite e na eficiência reprodutiva, sendo que a sombra das árvores (Figura 3) é mais efetiva porque reduz a incidência de radiação solar e diminui a temperatura do ar pela evaporação das folhas.
Figura 3 - Bovinos da raça Pardo-Suíça utilizando as sombras disponíveis na Caatinga - Fazenda Tamanduá, Município de Santa Terezinha - PB, (Arquivo Particular).
A ventilação natural está associada, além de outros fatores, a altura do teto dos estábulos, e assim como a ventilação forçada, favorece a dissipação do calor por convecção. Outra opção é a nebulização, que consiste em lançar ao ar uma névoa de água que deve evaporar-se antes de atingir os animais. O ar resfriado dessa maneira, circulando sobre os animais aumenta a perda de calor por convecção. O animal também se refresca quando inala o ar frio (BRAY et al. 1996).
Figura 4 - Sistema de nebulização sobre a cama e entre o cocho e a cama em frestall ( Titto, 2008)
Outras estratégias como: pintura de telhado, no caso de telhas de fibrocimento ou galvanizadas, altura adequada das instalações, uso de ventiladores e a posição das construções (leste-oeste), bem como, o uso de telhas de barro e pisos de terra batida, promovem um melhor ambiente térmico para o animal.
Figura 5 - Aspersão sobre o telhado (Titto, 2008).
Estratégias reprodutivas
Devido à grande incidência de cios não identificados, pesquisadores vêm estudando a inseminação em horários pré-estabelecidos e seu efeito sobre a taxa de concepção. Experimentos realizados na Flórida, durante o verão, mostraram que a utilização desta tecnologia aumentou a percentagem de vacas gestantes em tempos determinados de partos (ARÉCHIA et al., 1997; De La SOTA et al., 1996). Outra alternativa seria o uso da monta natural por curtos períodos de tempo, já que o touro também é muito sensível ao estresse térmico.
Alguns trabalhos também demonstram que o resfriamento estratégico de fêmeas nos primeiros dias de prenhez, quando o embrião é mais susceptível ao estresse térmico, aumenta em 10% a taxa de gestação. No entanto, o uso desta tecnologia não previne totalmente o efeito do calor severo que por longos períodos pode causar mortalidade embrionária em estágios mais avançados da gestação (HANSEN, 1991).
No caso da transferência de embriões, o embrião transferido para as receptoras, com sete dias de vida, já teria vencido a fase de maior susceptibilidade ao calor. Putney et al. (1989) observaram que a taxa de gestação, utilizando-se a técnica da transferência de embriões, foi maior em 29,2%, quando comparada com a inseminação artificial 21,4%.
Tecnologias mais avançadas como: o congelamento de embriões e a fertilização in vitro são também opções disponíveis para amenizar os efeitos do estresse térmico sobre a reprodução. Pesquisas têm sido conduzidas numa tentativa de minimizar os efeitos deletérios de temperaturas elevadas sobre as células embrionárias, dentre elas: a administração de antioxidantes nos meios de conservação das células reprodutivas e embriões, que funcionam como termoprotetores celulares, uma vez que reduzem a ação dos radicais livres considerados tóxicos para as células (HANSEN; ARECHIGA, 1997).
Considerações finais
Diante do exposto vimos a importância do uso de algumas estratégias de manejo que podem ser utilizadas para amenizar o efeito do estresse térmico na produção animal, uma vez que o bem estar e o conforto térmico são vitais para manter altos níveis de produtividade em qualquer sistema de produção.
Referências bibliográficas
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BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F. Ambiência em edificações rurais: conforto animal. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 1997. 246p.
BRAY, D. R.; BUCKLIN, R.A.; MONTOYA, R.E. et al. Modificaciones del medio ambiente para reducir la tension ambiental causada por el calor en vacas de leche. In: CONFERENCE INTERNACIONAL SOMBRE GANADERIA EN LOS TROPICOS, 1996, Tampa. Anais...Tampa, 1996. p.74-83.
De la SOTA, R. L.; RISCO, C.A.; MOREIRA, F., et al. Efficacy of a timed insemination program in dairy cows during Summer heat stress. Journal Animal Science, v.74, suppl. 1, p. 133, 1996.
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VALTORTA, S.E.; GALLARDO, M. El estress por calor em produccion lechera. Temas de Produc. Lechera, n.81, p. 85-112, 1996.
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