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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Estratégias para amenizar o efeito do estresse calórico nos animais de produção nos trópicos

Introdução

Atualmente dois aspectos importantes estão em discussão a nível mundial: o aquecimento global, que traz como consequências mudanças acentuadas no clima das diferentes regiões do planeta, exigindo assim um melhor conhecimento das espécies e raças que apresentem potencial genético com maior capacidade de adaptabilidade, sendo capazes de sobreviver, produzir e se reproduzir em condições adversas de clima, principalmente nos ambientes tropicais; o outro aspecto diz respeito ao bem-estar animal, que pode ser melhorado através do oferecimento de instalações adequadas às exigências específicas de cada raça (SOUZA, 2007).

A temperatura do ar é considerada o fator climático com influência mais importante sobre o ambiente físico. A zona de conforto térmico é definida por limites de temperaturas: crítica superior e inferior. Acima da temperatura crítica superior, os animais entram em estresse pela temperatura elevada e abaixo da temperatura crítica inferior sofrem estresse pelo frio. Animais expostos a temperaturas elevadas estão sujeitos a hipertermia, fazendo com que os processos termorreguladores de perda de calor sejam requeridos para manter a homeostase. Do ponto de vista da produção animal, este aspecto reveste-se de muita importância, pelo fato de que, fora desses limites de temperatura, os nutrientes ingeridos pelos animais para serem utilizados para seu crescimento e desenvolvimento, são desviados para a manutenção do equilíbrio térmico (BAÊTA; SOUZA, 1997).

Sabe-se ainda que a associação entre elevadas temperaturas, alta umidade do ar e radiação solar acarretam alterações comportamentais e fisiológicas, que resultam em diminuição da ingestão de alimentos e redução no desempenho dos animais de produção (LU, 1989). Este trabalho tem como objetivo relatar algumas estratégias que podem ser tomadas para amenizar o efeito do estresse térmico, aumentado assim o bem-estar para os animais de produção nos trópicos.

Estratégias nutricionais e de seleção genótipos

As estratégias nutricionais para aliviar o efeito do estresse calórico em animais de produção não são efetivas sem o aperfeiçoamento da eficiência bioenergética e econômica. O manejo nutricional nos períodos mais quentes do ano deve incluir o fornecimento de "dietas frias", dietas de alta densidade energética, além de suplementação adicional de minerais e o fornecimento de água de boa qualidade (VALTORTA; GALLARDO, 1996). O uso de dietas a base de alimentos cortados e fermentados, como as silagens, especialmente de milho, tem sido recomendado e apresenta sucesso no manejo alimentar. 

Apenas o uso da manipulação nutricional não é capaz de combater totalmente o estresse calórico, contudo combinações com outros métodos como: seleção genética de raças resistentes ao calor, modificações de ambiente e de manejo podem ser efetivas no combate ao estresse calórico na produção animal (FUQUAY, 1981).

A seleção de genótipos resistentes ao calor pode ser demonstrada através da expansão da criação de ovinos da raça Santa Inês que é originária do semiárido, mas que já está sendo explorada em outras regiões do Brasil, como no Norte, Sudeste e Centro-Oeste (Figuras 1 e 2). 

Figura 1 - Ovinos da raça Santa Inês cruzados com Suffolk e Texel, em Piracicaba - SP (Arquivo Particular).



Figura 2 - Ovinos puros da raça Santa Inês criados em Porto Velho - RO, demonstrando elevada capacidade de tolerância ao clima quente e úmido, (Arquivo particular).



Estratégias ambientais

Existem várias alternativas de modificação ambiental destinadas a reduzir o impacto térmico sobre os animais, incluindo desde a disponibilidade de sombra, passando por resfriamento evaporativo com água em forma de névoa, neblina ou gotejamento, utilizando ventilação natural ou forçada, até a utilização de lagoas de resfriamento ou mesmo do ar refrigerado em confinamento total. 

A sombra é essencial para reduzir perdas na produção de leite e na eficiência reprodutiva, sendo que a sombra das árvores (Figura 3) é mais efetiva porque reduz a incidência de radiação solar e diminui a temperatura do ar pela evaporação das folhas.

Figura 3 - Bovinos da raça Pardo-Suíça utilizando as sombras disponíveis na Caatinga - Fazenda Tamanduá, Município de Santa Terezinha - PB, (Arquivo Particular).



A ventilação natural está associada, além de outros fatores, a altura do teto dos estábulos, e assim como a ventilação forçada, favorece a dissipação do calor por convecção. Outra opção é a nebulização, que consiste em lançar ao ar uma névoa de água que deve evaporar-se antes de atingir os animais. O ar resfriado dessa maneira, circulando sobre os animais aumenta a perda de calor por convecção. O animal também se refresca quando inala o ar frio (BRAY et al. 1996). 

Figura 4 - Sistema de nebulização sobre a cama e entre o cocho e a cama em frestall ( Titto, 2008)



Outras estratégias como: pintura de telhado, no caso de telhas de fibrocimento ou galvanizadas, altura adequada das instalações, uso de ventiladores e a posição das construções (leste-oeste), bem como, o uso de telhas de barro e pisos de terra batida, promovem um melhor ambiente térmico para o animal.

Figura 5 - Aspersão sobre o telhado (Titto, 2008).



Estratégias reprodutivas

Devido à grande incidência de cios não identificados, pesquisadores vêm estudando a inseminação em horários pré-estabelecidos e seu efeito sobre a taxa de concepção. Experimentos realizados na Flórida, durante o verão, mostraram que a utilização desta tecnologia aumentou a percentagem de vacas gestantes em tempos determinados de partos (ARÉCHIA et al., 1997; De La SOTA et al., 1996). Outra alternativa seria o uso da monta natural por curtos períodos de tempo, já que o touro também é muito sensível ao estresse térmico.

Alguns trabalhos também demonstram que o resfriamento estratégico de fêmeas nos primeiros dias de prenhez, quando o embrião é mais susceptível ao estresse térmico, aumenta em 10% a taxa de gestação. No entanto, o uso desta tecnologia não previne totalmente o efeito do calor severo que por longos períodos pode causar mortalidade embrionária em estágios mais avançados da gestação (HANSEN, 1991).

No caso da transferência de embriões, o embrião transferido para as receptoras, com sete dias de vida, já teria vencido a fase de maior susceptibilidade ao calor. Putney et al. (1989) observaram que a taxa de gestação, utilizando-se a técnica da transferência de embriões, foi maior em 29,2%, quando comparada com a inseminação artificial 21,4%.

Tecnologias mais avançadas como: o congelamento de embriões e a fertilização in vitro são também opções disponíveis para amenizar os efeitos do estresse térmico sobre a reprodução. Pesquisas têm sido conduzidas numa tentativa de minimizar os efeitos deletérios de temperaturas elevadas sobre as células embrionárias, dentre elas: a administração de antioxidantes nos meios de conservação das células reprodutivas e embriões, que funcionam como termoprotetores celulares, uma vez que reduzem a ação dos radicais livres considerados tóxicos para as células (HANSEN; ARECHIGA, 1997). 

Considerações finais

Diante do exposto vimos a importância do uso de algumas estratégias de manejo que podem ser utilizadas para amenizar o efeito do estresse térmico na produção animal, uma vez que o bem estar e o conforto térmico são vitais para manter altos níveis de produtividade em qualquer sistema de produção. 

Referências bibliográficas

ARÉCHIA, C.F.; STAPLES, C.R.; STAPLES, C.R.; MACDOWELL, L.R., et al. Effectiveness of a timed artificial insemination (TAI) program and suplemental feeding of beta carotene on a reproductive funtion of heat stressed dairy cows. Journal Dairy Science, champaign, v.80, suppl. 1, p.239, 1997.

BAÊTA, F.C.; SOUZA, C.F. Ambiência em edificações rurais: conforto animal. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 1997. 246p.

BRAY, D. R.; BUCKLIN, R.A.; MONTOYA, R.E. et al. Modificaciones del medio ambiente para reducir la tension ambiental causada por el calor en vacas de leche. In: CONFERENCE INTERNACIONAL SOMBRE GANADERIA EN LOS TROPICOS, 1996, Tampa. Anais...Tampa, 1996. p.74-83.

De la SOTA, R. L.; RISCO, C.A.; MOREIRA, F., et al. Efficacy of a timed insemination program in dairy cows during Summer heat stress. Journal Animal Science, v.74, suppl. 1, p. 133, 1996. 

FUQUAY, J.W., Heat stress as it affects animal production. Journal Animal Science, n. 52, p. 164-174, 1981.

HAENLEIN, G.F.W. Mineral and Vitamin requirements and deficiences. Proc. 4th Int. Conf. Goats, EMBRAPA, Brasília, II, p. 1249-1266. 1987.
HANSEN, P.J.; EALY, A.D. Effects of heat stress on the establishment and maintenance of pregnancy in cattle. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v. 1, p. 108-119, 1991.

HANSEN, P.J.; ARÉCHIGA, C.F. Reducing effects of heat stress on reproduction of dairy cow. In: INTERNATIONAL CONVENTION OF AMERICAN EMBRIO TRANSFER ASSOCIATION, 16., 1997, Madison. Anais. Madison, 1997. p.62-72.

LU, C.D. Effects of heat stress on Goat Production. Small Ruminant Research, n.2, p. 151-162, 1989.

MOODY, E.G.; VAN SOEST, P.J.; MACDOWELL, R. E. et al. Effect of high temperature and dietary fat on perfomance of lactating cows. Journal Dairy Science, n. 50, p. 1909-1916, 1967. 

MÜLLER, P.B. Bioclimatologia Aplicada aos Animais Domésticos. 3.ed., Sulina, 1989, 262p.

NEIVA, J.N.M; TEIXEIRA, M.; TURCO, S.H.N. et al. Efeito do estresse climático sobre os parâmetros produtivos e fisiológicos de ovinos Santas Inês mantidos em confinamento na região litorânea do Nordeste do Brasil. Revista Brasileira Zootecnia, v.33, n.3, p.668-678, 2004.

PALMQUIST, D.L.; CONRAD, J.R. Hight fat rations for dairy cows: effect on feed intake, milk and fat production, and plasma metabolites. Journal Dairy Science, n. 6, p. 890-901, 1978.

PUTNEY, D. J.; DROST, M.; THATHER, W.W. Influence of summer heat stress on pregnancy rates of lactating catlle following embryo transfer or artificial insemination. Theriogenology, New York, v.31, p. 765-778, 1989.

VALTORTA, S.E.; GALLARDO, M. El estress por calor em produccion lechera. Temas de Produc. Lechera, n.81, p. 85-112, 1996.


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