Cirurgiões franceses fizeram reconstruções em pessoas com câncer. Técnica consiste no uso de tecidos do próprio transplantado.
Uma equipe de cirurgiões franceses afirma ter conseguido pela primeira vez reconstruir a traqueia de vários pacientes com câncer, usando um pedaço da pele e tecidos dos próprios doentes.
"É a primeira substituição traqueal confiável do mundo", afirmou o professor Philippe Dartevelle, chefe do departamento de cirugia toráxica e vascular do Centro Marie Lannelongue, próximo a Paris, autor da inovação junto ao cirurgião plástico Frederic Kolb.
O transplante de traqueia praticado por Dartevelle e Kolb, chefe do serviço de cirugia plástica e de reconstrução do Instituto Gustave Roissy, consiste em substituir a traqueia destruída ou obstruída por um novo tubo, idêntico, construído com o próprio tecido do paciente, o que evita a possibilidade de rejeição.
O enxerto é fabricado com um pedaço de pele de 9 cm por 12 cm, retirado do antebraço do paciente, incluindo vasos sanguíneos. Depois, o tecido é "armado" com pedaços de cartilagem, retirados das costelas do paciente e cortados em finas tiras.
Em seguida, o pedaço de pele é dobrado e suturado para formar um tubo, que substituirá a traqueia. Ele deve ser rígido o suficiente para resistir à pressão da respiração e flexível o bastante para acompanhar os movimentos do pescoço. A técnica é utilizada atualmente por cirurgiões plásticos para reconstruir pedaços de nariz.
A técnica, aperfeiçoada progressivamente desde 2004, foi utilizada em sete pacientes em seis anos. Cinco deles, que sofriam de câncer, estão bem e levam uma vida normal. Dois faleceram em decorrência de uma infecção pulmonar. Os cirurgiãos explicaram que estes dois "fracassos" ocorreram devido ao tamanho do enxerto realizado, que ia até os brônquios - longo demais para fazer a expectoração das secreções bronquiais sem os "cílios" que cobrem a traqueia normal.
Os tumores da traqueia, duto que vai da laringe aos brônquios, podem matar um paciente em pouco tempo por causarem asfixia. "Quando se usa uma nova técnica, é preciso garantir que funcione e possa ser reproduzida", explicou Dartevelle.
A traqueia reconstituída é "perfeitamente vascularizada", destacou o médico, e apresenta epitélio (camada superior da pele).em sua superfície interna, que está em contato com a pele.
Experimentos têm sido feitos em animais para trocar o epitélio cutâneo usado até agora por um epitélio respiratório, produto de um cultivo com células ciliadas da nasofaringe.
"Até o momento, não havia uma solução aceitável para contar com uma verdadeira substituição traqueal", indicou Dartevelle, referido-se às diferentes técnicas testadas nos últimos cinquenta anos como transplantes, próteses e fragmentos de aorta.
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