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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Ações para controle do mosquito da dengue são discutidas em seminário da Fiocruz

“A população tem que ser parceira: sem isso, é muito difícil combater o Aedes aegypti. Essa parceria é hoje a contribuição mais importante para o controle da dengue”. Esta foi a mensagem deixada pelo entomologista José Bento Pereira Lima, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), durante o seminário Dengue: desafios para políticas integradas de ambiente, atenção e promoção da saúde, promovido pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz. Lima destacou uma série de fatores associados à proliferação do A. aegypti, como a urbanização desordenada; a irregularidade no abastecimento de água – que obriga os moradores a armazenarem água em baldes e outros reservatórios, criando ambientes propícios para a reprodução do mosquito; o excesso de lixo gerado pelo uso de produtos descartáveis; e até a violência – que impede os agentes de saúde de chegarem a algumas áreas ou entrarem em algumas casas.

 Os debates do segundo dia lotaram o auditório do Museu da Vida, na sede da Fiocruz, em Manguinhos (Foto: Gutemberg Brito)
Os debates do segundo dia lotaram o auditório do Museu da Vida, na sede da Fiocruz,
em Manguinhos (Foto: Gutemberg Brito)

Integrante do Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores, Lima também comentou a capacidade de adaptação do A. aegypti a novos criadouros. À medida que os criadouros “tradicionais”, como as caixas d’água ou os pneus, são eliminados, o mosquito “aprende” a colocar seus ovos em outros locais, como calhas, fossos de elevador, bandejas de ar condicionado e galerias de águas pluviais. Segundo o pesquisador, a eliminação dos diferentes tipos de criadouro, que compreende os métodos físicos de controle do A. aegypti, deve ser prioridade: os métodos químicos enfrentam hoje o obstáculo da resistência do mosquito aos inseticidas.
A questão dos métodos químicos foi aprofundada na palestra seguinte, apresentada pelo gerente geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles. Ele falou sobre o papel da agência na regulação, na avaliação toxicológica e no controle dos agrotóxicos – que, diferentemente do que possa parecer, não incluem apenas substâncias aplicadas nas lavouras, mas também produtos usados no ambiente urbano, como os inseticidas. De acordo com Meirelles, sobretudo a partir de 2000, avanços importantes têm sido feitos em relação à segurança para o ambiente e a saúde, inclusive com a retirada do mercado de produtos comprovadamente nocivos.
“A análise requer cuidado. Às vezes, um produto é ineficaz não porque o mosquito está resistente, mas porque foi fabricado com componentes fora da validade. Outras vezes, o produto é tóxico não pela sua composição original, mas porque está contaminado. É preciso atenção porque o produto usado pode estar distante do estabelecido”, exemplificou o palestrante. Meirelles listou cinco desafios para a avaliação e o controle de produtos de uso doméstico destinados às campanhas de combate a vetores em saúde pública: atualização e aperfeiçoamento do marco legal; harmonização de procedimentos de avaliação toxicológica; ampliação do número de ativos destinados a esta finalidade, notadamente os de baixa toxicidade; monitoramento de resíduos em água de consumo humano e outros ambientes tratados; e desenvolvimento continuado de ações em saúde do trabalhador. Os dois últimos pontos, em especial, geraram bastante debate com a plateia, que lotou o auditório do Museu da Vida, na sede da Fiocruz, em Manguinhos (Rio de Janeiro).
Por fim, o médico veterinário Nélio Batista de Morais apresentou duas atividades inovadoras para o controle da dengue, uma desenvolvida pela Secretaria de Saúde do Ceará e a outra, pela Secretaria de Saúde de Aquiraz (CE). O primeiro projeto – intitulado Venci o tempo, vencerei a dengue – colocou o combate à doença dentro de um trabalho que o Corpo de Bombeiros já realizava com a população idosa do estado. Nesse trabalho, os idosos se reuniam para a prática de exercícios físicos e os encontros passaram a ser marcados também por orientações para o controle do A. aegypti. O projeto se baseava na formação de multiplicadores: profissionais da vigilância em saúde capacitavam os bombeiros e estes capacitavam os idosos. Como resultado, cerca de 25 mil idosos no estado participando de ações como visitas domiciliares, panfletagem em praças, passeatas e outras atividades de sensibilização contra o mosquito. “Como resultados, destacam-se o aumento da autoestima e a inclusão social da população idosa, além da contribuição para o controle da dengue”, disse Morais.
O palestrante também destacou os bons resultados alcançados pelo projeto A receita certa para controlar a dengue em Aquiraz. Este foi realizado em parceria com a Receita Federal do Ceará, que disponibilizava brindes – como câmeras fotográficas digitais, MP3 e microsystems – para moradores cujas casas e quadras não apresentassem focos do A. aegypti. Eram feitas ações nas escolas e promovidos eventos nos quais, além de atividades educativas culturais, realizava-se um sorteio. A casa correspondente ao número sorteado era, então, inspecionada, bem como a quadra, para incentivar a mobilização da vizinhança. Se não houvesse focos do mosquito, o morador da casa sorteada ganhava o prêmio. “Dessa forma, vencemos a vulnerabilidade do município, que fica próximo a Fortaleza, onde os números da dengue são elevados; e impedimos uma epidemia”, resumiu Morais.
Comunicação e mobilização social contra a dengue
As ações de comunicação do Ministério da Saúde e o Programa de Controle da Dengue em Manguinhos foram os temas discutidos na última mesa do seminário Dengue: desafios para políticas integradas de ambiente, atenção e promoção da saúde. A publicitária Isabel Aoki, do Ministério da Saúde, apresentou o “ciclo das campanhas de dengue”, com seis fases ao longo do tempo. Na primeira, o foco era a identificação e a eliminação do Aedes aegypti. Na segunda, a ideia foi massificar a necessidade de eliminação dos criadouros do mosquito. Já na terceira, com um tom mais sério, a campanha destacava que a dengue mata e que combatê-la é um dever de todos. A quarta, com um tom ainda mais sério, trabalhou questões como mobilização, prevenção e sintomas, incluindo estratégias de regionalização e divisão em etapas.
Por fim, na quinta fase, que corresponde ao período 2010-2011, a campanha busca uma segmentação ainda maior. “Não adianta querer falar com todas as regiões ao mesmo tempo e da mesma forma”, disse Isabel. Por isso, foram feitas peças específicas para cada região e tipo de público, com diferentes abordagens. Um dos objetivos atuais é mobilizar com mais força os gestores municipais, lembrando que a dengue é um problema abrangente que diz respeito a todas as áreas – e não só à saúde. Numa análise da recepção da campanha de 2009-2010, conclui-se que era necessário fazer algo mais impactante, que incentivasse a reflexão e chamasse os indivíduos a participarem mais ativamente. “Optamos, então, por colocar o foco nas pessoas, e não mais no mosquito ou nos criadouros”, explicou Isabel. Assim, surgiram mensagens como “dengue: se você agir, podemos evitar”.
“Conhecer a doença e as formas de prevenção não se traduz em mudança de atitude”, lembrou o assessor de imprensa Rodrigo Hilário, também do Ministério. Ele mostrou números que demonstram o crescente peso da dengue na mídia. Em 2009, foram contabilizadas pouco menos de 27 mil matérias sobre o assunto. Em 2010, elas já ultrapassaram 29 mil. Segundo Hilário, o corpo técnico do Ministério concede, em média, 25 entrevistas por mês. Entre janeiro e outubro de 2009, a assessoria de imprensa do Ministério fez 4.514 atendimentos a jornalistas, dos quais 175 (3,8%) foram sobre dengue. No mesmo período em 2010, houve 4.709 atendimentos, sendo 464 (9,8%) relativos à doença.
Esse crescimento estaria associado tanto ao aumento do número de casos de dengue quanto à divulgação ativa de informações pelo Ministério, como a ferramenta Risco Dengue e o Levantamento de Índice Rápido de Infestação por Aedes aegypti (LIRAa) 2010. Para disseminar informações, a comunicação do Ministério conta, ainda, com a WebRádio Saúde, que disponibiliza material para cerca de 4 mil rádios de todo país, entre emissoras comerciais, comunitárias e universitárias; com a presença nas redes sociais da internet, como Twitter, Facebook e Orkut, entre outras; e com a cartilha eletrônica Entenda a dengue, que pode ser acessada aqui.
“O compromisso com o controle da dengue tem que ser permanente”, destacou a pesquisadora Nildimar Honório, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que encerrou a mesa apresentando o Programa de Controle da Dengue em Manguinhos. Ela destacou três eixos que compõem a iniciativa: a mobilização social, a educação permanente e o monitoramento da infestação do A. aegypti. “Combinamos os saberes científicos (dos pesquisadores) com os populares (dos moradores). Para o controle da dengue, compreender a realidade e a dinâmica da comunidade é tão importante quanto o conhecimento que sai do laboratório”, afirmou Nildimar. Ao final da palestra, a pesquisadora exibiu um vídeo das oficinas Os pequenos mosquiteiros, realizadas com crianças de Manguinhos. “Estimulamos nelas um olhar investigativo e participativo para o controle da dengue”, sublinhou.

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