O esôfago é um tubo muscular responsável por mover o alimento da boca e faringe para o estômago através de movimentos peristálticos. O câncer do esôfago é chamado de câncer esofágico. O câncer esofágico é diagnosticado principalmente em dois tipos, carcinoma de células escamosas e adenocarcinoma. Mais homens são diagnosticados com câncer esofágico do que mulheres (15) e sua malignidade é o 13º câncer mais comumente diagnosticado entre os homens (1). A incidência de câncer esofágico é três vezes maior entre os americanos afro-descendentes do que entre os caucasianos (16). O diagnóstico de câncer esofágico normalmente ocorre mais para o final da vida, com a idade média de diagnóstico sendo 69 anos (17). Os fatores de risco para câncer esofágico podem variar por tipo. O fumo e o uso pesado de álcool estão associados com maior risco de câncer esofágico de células escamosas e a baixa ingestão de frutas e vegetais estão associadas com maior risco de carcinoma de celular escamosas e adenocarcinoma esofágico (16,18). Os fatores de risco associados com o adenocarcinoma esofágico incluem obesidade, doença de refluxo gastroesofágico e esôfago de Barrett (surge como consequência do refluxo gastroesofágico crônico) (16,18). Aproximadamente 89% dos carcinomas de células escamosas podem ser atribuídos ao fumo, uso de álcool e baixo consumo de frutas e vegetais e aproximadamente 79% de casos de adenocarcinoma esofágico podem ser atribuídos a fumo, obesidade, doença de refluxo e baixo consumo de frutas e vegetais (18).
Em seu relatório de 2007 sobre dieta e câncer, o WCRF/AICR concluiu que existem evidências limitadas que sugerem que carnes vermelhas ou processadas causam câncer esofágico (13). Poucos estudos de coorte especificamente avaliaram a influência das carnes vermelhas nesse tipo de câncer; entretanto, todos reportaram associações positivas. Em um grande estudo de coorte com pessoas com idade de 50-71 anos, Cross et al. (7) reportaram maiores riscos fracos e moderados de câncer esofágico não específico entre todos os níveis de consumo, apesar de eles reportarem maior risco no segundo grupo (de cinco grupos). Como descrito por Gonzalez et al. (5) na análise EPIC, um risco elevado mas não significante de adenocarcinoma esofágico entre pessoas no segundo e terceiro grupo de consumo de carne foi observado. Um estudo prospectivo de mais de 10.000 homens noruegueses avaliou o câncer esofágico não específico entre as categorias de consumo de carne bovina e suína e mostrou que houve um aumento marginalmente significante no risco entre as pessoas que consumiam carne bovina seis ou mais vezes por mês, mas a associação com o consumo de carne suína não foi significante (19).
A associação entre consumo de carnes vermelhas e câncer esofágico foi avaliada em aproximadamente 12 estudos de caso-controle. A maioria desses estudos reportou associações positivas, mas não significantes, entre consumo de carnes vermelhas e adenocarcinoma esofágico, carcinoma esofágico de células escamosas ou câncer esofágico não específico. Os resultados de estudos de caso-controle que especificamente avaliaram o consumo de carne bovina foram altamente variáveis, com um estudo reportando uma redução estatisticamente significante de 56% nos riscos entre as pessoas com maior nível de consumo (20) e outro estudo reportou um aumento de mais de quatro vezes no risco entre pessoas na categoria de maior consumo de carne bovina (21). Esses resultados díspares podem ser atribuídos à fraqueza inerente ao delineamento de estudos de caso-controle, diferenças no tipo de câncer esofágico ou na variação de fatores que podem confundir que foram considerados nos estudos, como fumo e/ou consumo de álcool. A maioria dos estudos de caso-controle que especificamente avaliaram o consumo de carne suína não encontrou associação com o câncer esofágico.
A associação entre carne processada e câncer esofágico não foi estudada tanto extensivamente como foi a relação entre o consumo de carnes vermelhas e esse tipo de câncer. Até agora, apenas alguns poucos estudos de coorte (22,519) foram conduzidos com esse tema. Chyou et al. (22) combinou o câncer orofaríngeo, laríngeo e esofágico em um ponto final de análise e descobriu uma associação positiva não estatisticamente significante com o consumo de presunto, bacon e salsicha. Uma forte associação entre o consumo de carne processada não específica e adenocarcinoma esofágico entre as pessoas na categoria de maior exposição foi reportada no estudo de coorte de EPIC (5). Em uma amostra de mais de 10.000 homens noruegueses, Kjaerheim et al. (19) reportaram associações positivas entre os consumidores de carne processada e bacon; entretanto, a associação somente foi significante estatisticamente, ainda que marginalmente, entre pessoas que consumiam bacon seis ou mais vezes por mês.
Menos de 10 estudos de caso-controle avaliaram a associação entre carne processada e câncer esofágico. Desses somente um estudo, na Suíça, mostrou um aumento estatisticamente significante nos riscos da maior ingestão da categoria de carnes processadas, apesar de a associação ser imprecisa (23).
Coletivamente, a maioria dos estudos de carnes vermelhas ou carnes processadas e câncer esofágico reportou associações positivas, apesar de as evidências serem limitadas a relativamente poucos estudos de coorte. Estudos adicionais de coorte bem conduzidos são necessários para esclarecer quaisquer potenciais associações. Como o desenvolvimento de câncer no esôfago é influenciado por alguns fatores comuns (por exemplo, fumo, álcool), os resultados de estudos epidemiológicos deveriam ser vistos como consideração de controle para potenciais fatores que podem confundir.
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